sexta-feira, 7 de maio de 2010

LUGAR HORRENDO

Estou arrasada. Hoje o Zé teve consultas no IPO. Os exames que fez há três semanas demonstram uma alteração no osso da bacia. A médica dele acha que tanto pode ser uma consequência da radioterapia que faz como pode ser outra coisa. Vai ter que fazer uma ressonância para esclarecer. Que foi marcada só para 02 de Junho.

É como se tivesse levado com uma pancada na cabeça. E hoje o IPO estava mais deprimente do que nunca. Por causa de umas obras estava mais escuro, mais barulhento. Parecia que estava tudo mais negro.

Já ia com o coração apertado. Ao acordar tinha tirado uma mensagem do Livro da Luz. Podendo sair qualquer uma das 272 mensagens, saiu exatamente esta, com o título "Desconforto" - "É no maior desconforto que encontras a tua maior habilidade. É nesse lugar horrendo, de desconforto absoluto que encontras a tua tolerância , paciência e disponibilidade. Quando escolhes aceitar o desconforto, escolhes também ser tolerante. Escolhes ser paciente. Sabes que vai durar - nem que seja um bocado - e aceitas passar por isso. E aprender. E limpar. E viver. Vivenciar. E depois de vivido o drama, depois de derramado o sangue, poderás saber que sobreviveste, e a partir daí regenerou-se por completo a tua relação com o medo. Jesus."

É mesmo o termo: lugar horrendo. Horrendo o IPO. Horrendo o interior do nosso peito: apertado, pesado e escuro. Cheio de medo e de angústia. Cheio de memória.

Há dias quando o Zé foi fazer os exames, escrevi na minha página do Facebook que tinhamos passado o dia na casa dos horrores. Pelos vistos usei o termo correcto. E escrevi também que apesar de tudo, foi bom lá voltar, quase como visitantes, e encontrar pessoas que se tornaram nossas amigas. Como as enfermeiras e os médicos.

Tenho estado no meu quarto. A deixar doer. A sensação que tenho é de arraso. Como se tivesse sido demolida. E nesses momentos nada em mim funciona. Só a respiração. Só o sentir do coração. Muito apertado. Muito dorido. Só sinto o coração e as lágrimas a caírem. Não consigo nem tenho vontade de fazer mais nada. Nada. Nem sequer de querer sair desse estado. Não consigo nem tenho vontade de pensar em nada. Nada. Não consigo fazer meditação. Não consigo sentir a Luz. Peço ajuda com a minha intenção. Peço Luz com a minha intenção. E fico. É só o que está ao meu alcance neste momento. Chorar. Aceitar que agora é o momento de sentir. Só. Ficar a sentir o meu coração. A sensação de devastação. Sei que a Luz está comigo. Só porque tenho fé acredito que está. Mas não sinto. Neste momento não sinto mais nada além de devastação.

Tiro uma mensagem do Livro. E sai a mensagem com este título: "Eu Amo-te." Foi o suficiente. O suficiente para sentir o quentinho dentro do peito. O suficiente para me sentir grata e acompanhada. E rendida. E para começar a participar no tratamento da minha energia.

E lembrei-me de um dia no IPO quando o Zé estava internado. Estava a ser um dia muito dificil. Especialmente dificil. E a madrinha do Zé até foi lá para ajudar. O Zé estava a receber uma dose fortíssima de quimio. Tem que se ter um cuidado extremo em todo esse processo. Mas de repente o tudo de quimio salta do cateter e começa a brotar sangue do cateter e a brotar quimio do tubo que a conduzia até ao cateter. Tudo a brotar como em jactos. Era "sangue a ser derramado" para o chão e sangue a circular pelos tubos por onde não podia circular...E quimio a espalhar-se. O que também não podia acontecer. Tudo a acontecer em segundos. Desatei aos saltos em pânico e fui a correr chamar uma enfermeira. Ainda pensei que fosse eu que estivesse a reagir pior por causa dos meus traumas (chegava a desmaiar quando me estavam a tirar sangue para análises) mas a enfermeira também ficou quase em pânico. Uma urgência. Vieram outras enfermeiras a correr para ajudar, veio médico e tudo acabou por normalizar. Limpou-se tudo. Respiramos fundo. O Zé sossegou e começou a dormitar. O choque foi grande. Depois de um dia desgastante aquilo foi a gota de água. Já não aguentavamos mais. Eram 22h, as visitas tinham que sair. A madrinha do Zé despediu-se de mim a chorar e foi-se embora a chorar pelo corredor fora. Eu deitei-me e comecei a chorar. Sentia-me sozinha. Esgotada. Fraca. Abandonada. Peguei no Livro da Luz e tirei uma mensagem. O título: "Eu estou aqui". Desatei num pranto ainda maior. Afinal Ele estava ali. Eu não estava sozinha nem nunca tinha estado...O texto da mensagem: "Eu estou contigo, sempre. A cada minuto do teu dia...das tuas noites. Todos aqueles tempos dificeis em que pensas que estás sozinha. Não. Eu estou aqui. Sempre. Dentro do teu coração a envolver-te com esta energia macia e branca. Com este amor. Todos os tempos sombrios são tempos de solidão. São tempos de aprendizagem. E eu estou aqui, sempre ao pé de ti, a guiar-te através da tua intuição. Tu recebes a minha orientação e transmites o que recebes de mim. É esta a nossa comunhão. Eu estou aqui. Sempre estive. E saber que acreditas nisto iria trazer-me muita paz. Jesus".

E eu fiquei em paz. E senti-me profundamente grata. E imeditamente Lhe agradeci. E rendi-me. Totalmente. Mais uma vez. Aquela mensagem salvou-me. E percebi que este Livro salva vidas. E no dia seguinte telefonei à Alexandra a contar e a agradecer. Por tanto.