quarta-feira, 30 de março de 2011

IPO hoje- e o dia da notícia.

Hoje tivemos consulta no IPO e a confirmação das boas notícias (falo no plural porque é como se as consultas e os exames também fossem meus). Antes da consulta o Zé fez um Raio-X torácico mas só vamos saber o resultado na próxima semana.
Quando estávamos na consulta o médico recebeu um telefonema. Era sobre um Sarcoma de Ewing. Estremeci. Lembrei-me do dia em que me foi dada a notícia. Por este mesmo médico.

Na altura o Zé estava no Hospital S. João, a recuperar de uma operação a uma apendicite aguda. Três dias depois de ter caído violentamente de bicicleta por uma escadaria. A recuperação estava a ser demasiado lenta. E um dia chegaram ao quarto dois médicos que queriam falar comigo a sós.

Um deles era o oncologista pediátrico, que eu nunca tinha visto. As primeiras palavras que me disse, foi que o meu filho tinha um cancro maligno. Um cancro muito raro e agressivo. Que atingia quase exclusivamente adolescentes. Um Sarcoma de Ewing. Já não estava a ouvir. Já nem percebi o nome (quando dias depois fui pesquisar na net, procurei cancro que acabasse em “ing”...). Ele continuou a falar, eu continuei a olhar para ele mas já não ouvia. Lembro-se só de perguntar que palavras devia usar para contar ao meu filho. O resto não lembro. Pedi para ficar a sós.

Sempre fiquei a gostar do Dr. Nuno. Era directo, frontal, sem meias palavras. Mas não era bruto. Tanto o Zé como eu gostamos dele. E quando ele nos disse que tínhamos de decidir entre continuar no S. João ou ir para o IPO, lamentamos ter que o deixar. Ele deixou-nos as portas abertas e voltei lá várias vezes para falar com ele. Foi com ele que me aconselhei sobre a viagem à Alemanha. Sobre o Prof. Jurgens. Sempre lhe disse que embora não tivesse razão de queixa nenhuma dos médicos do IPO, lamentava que não fosse ele o médico do Zé. E ele sempre me respondia para não dizer isso, que o Zé estava muito bem entregue.

Um dia soube que o Dr. Nuno tinha vindo trabalhar para o IPO. E continuei a ir falar com ele sobre o Zé. Especialmente quando Zé teve que repetir uam ressonância porque resultado não era claro. Em Outubro passado, num dia em liguei para o IPO por causa de uma consulta do Zé disseram que ele já não ia ser atendido pela médica dele…que ela estava de baixa…perguntei se era grave…a enfermeira respondeu que era a doença da casa…comecei a chorar…a enfermeira dizia para não me preocupar que ele ia ser atendido na mesma..expliquei que óbviamente que não era por isso que estava a chorar…era pela doença dela…Foi um enorme choque…Pedi se, nesse caso, podia passar a ser doente do Dr. Nuno. E foi assim que o Dr. Nuno passou a ser médico dele outra vez.
Quando hoje o ouvi pronunciar as palavras “Sarcoma de Ewing” revivi tudo outra vez…e contei-lhe, quando ele desligou o telefone. Contei-lhe também que na altura nem percebi o que ele tinha dito, embora tivesse fixado a sonoridade…

Pedi-lhe para me deixar tirar-lhe uma fotografia com o Zé…ficou bonita.

Já que falo nisto, vou publicar a seguir o texto que escrevi no dia em que fez um ano sobre o acidente do Zé.

sexta-feira, 25 de março de 2011

TRANSCENDÊNCIA

Hoje estava numa aula e de repente lembrei-me de uma experiência que tive há 3 anos e meio...e que contraria o que disse no último texto, sobre a presença e a protecção da força que nos é infinitamente superior não ser física…não ser “abraçavel”…

Era uma Roda da Cura diferente, uma espécie de meditação em grupo, para quem não conhece, eramos cerca de 9 pessoas, e tive uma experiência em que pela primeira, e até agora, única vez, senti esse abraço de forma física...foi absolutamente inesperado e até aí não acreditava que alguma vez pudesse acontecer...na verdade não me tinha sequer nunca passado pela cabeça...E foi como um choque físico que me atirou para o chão...como se o corpo físico não estivesse preparado para receber aquela energia e pudesse ter um ataque...e percebi porque é que essas experiências nunca acontecem...porque o nosso corpo físico não tem uma frequência de vibração que aguente isso....foi uma experiência tão intensa e arrebatadora que simplesmente não existem palavras para a descrever...gostava imenso de o poder fazer, mas realmente não tenho como...é muito diferente de tudo o resto que possamos sentir...muito diferente de sentirmos a presença dessa energia..de a vermos...de a ouvirmos...de comunicarmos...de tal forma que senti que a partir desse dia a minha vida ficava dividida em duas partes: a minha vida antes desse momento, e a minha vida depois desse momento...porque foi a experiência mais surpreendente e incrível que tive na vida...que me marcou para sempre.

domingo, 20 de março de 2011

A MINHA DOR

Reparei hoje que os últimos textos reflectem um lado mais cor-de-rosa…o lado mais feliz…mais divertido. Que felizmente é verdadeiro. Mas não é tudo. Não mostra o outro lado.

Ainda não falei na minha angústia. E na minha dor. De estar há mais de 15 dias à espera do resultado da última ressonância do Zé Miguel. Bem sei que já escrevi textos sobre isso. Porque já estive nesta situação antes. E muitas vezes.

E em vez de ser cada vez mais fácil, não é.

A minha fé é a mesma. Ou maior. A entrega é diária. A aceitação constante. Mas o medo volta. Porque sei que tudo pode acontecer. Porque sei que são imensos os factores que influenciam.

E a dor de me sentir tantas vezes fisicamente sozinha. A dor dos momentos em que sinto um medo que me faz contorcer, chorar até à exaustão, até os olhos quase não abrirem…a dor de nesses momentos não ter um abraço, um beijo, uma carícia. É a outra polaridade.

A outra polaridade de ter o carinho, a presença e a protecção de uma força infinitamente superior a mim…mas que não é física…não é “abraçavel”…é etérea…

A outra polaridade de ter tantos amigos e familiares que me amam, que me apoiam, que me abraçam…mas que não vivem comigo…

Porque escolhi viver sozinha. Porque nunca aconteceu nada que revertesse esta situação. E porque isso às vezes também dói. Dói muito.

As consequências disso só me têm feito bem. Só me têm ajudado a libertar de muitos outros medos com que sempre vivi. Só me têm ajudado ir descobrindo quem eu sou na verdade.

Mas às vezes queria tanto uma abraço…

Às vezes sinto-me tão, tão frágil…e a vida é tão engraçada…porque é mesmo dessa fragilidade que eu preciso…para me continuar a entregar e deixar levar pela corrente da vida…

Isto é o reverso…do riso…da alegria…da boa disposição…do entusiasmo pelo meu trabalho…

O que me salva é que acredito profundamente que tudo o que nos acontece tem um propósito superior. Já tive muitas provas disso. Aliás, já tive muitas provas de muita coisa. E na verdade é isso tudo que me salva. De ter acreditado antes de ter tido as provas.

E continuo a acreditar. E continuo a entregar. E continuo a confiar. E continuo a aceitar o que vier. Seja o que for. E que Ele me ajude.

sábado, 19 de março de 2011

COMBOIO 3/ ÁFRICA - mais episódios em directo (19.03.2011)

Só por Amor se deixa Oeiras num dia como o de hoje…e se vai para Rebordosa…Só por Amor ao meu filho lindo…Uma praia e sol também lindos, rivalizam com ele…mas ele é muito mais bonito e ganha sempre…Bem o tentei convencer a vir cá este fim de semana …festival magnífico à porta de casa e tudo…mas nada…acho que dentro da cabeça dele foram o Projecto e Oeiras que lhe “tiraram” a mãe…

Surpresa: estava no café da estação de santa Apolónia a tomar o pequeno almoço e a pensar - Hoje vou dormir na viagem para compensar as 4 horas de sono desta noite e nem vou pensar em escrever…também é Sábado de manhã, costuma ser tudo tão calminho que nem vai acontecer nada para escrever…
Estou neste pensamento quando surge à minha frenta a minha amiga Laura Moreno. Comecei por atendê-la no meu trabalho e tornámo-nos amigas. Até é minha amiga no FB. É de Lisboa e vai para o Pombal. Vai lá ver uma gata (a Kizumba) que deu para adopção depois de a ter encontrado. Vai lá ver como ela está e dar-lhe colinho. A Laura vai muitas vezes a Moçambique e não podia ficar com ela por causa dos períodos em que está ausente. Comparamos os bilhetes: mesma carruagem. O meu lugar 32. O dela 28. Ainda por cima o meu é daqueles lugares que detesto: lugar de 4 pessoas. Não tinha onde colocar o computador. Ela oferece-se logo para trocar comigo. Agora chegamos à estação do Oriente. Vamos ver se ficam lugares vagos para nos podermos juntar. Mas isto está muito cheio… Não vejo jeitos…e há bocado já me ri…uma senhora, forte, estava a instalar-se com a neta nos tais lugares de 4, e chegou o marido, igualmente forte, cabelo branco, bigode branco e comprido com grandes sacos…ela, muito despachada pede muito educadamente a outro passageiro se a ajuda a confirmar que está estava no lugar certo, mas afinal o lugar dela era outro…e ela chama o marido…”anda lá despacha-te…temos que mudar de lugar…pega nos saquinhos e vai à minha frente rápido…antes que isto comece a andar”…chega ao lugar dela, e manda-o pôr os sacos duma determinada forma que ele não põe…”Arre que este homem é teimoso, porra!!!!!”

Entretanto a Laura veio ter comigo, ao meu lugar, e a senhora ao meu lado percebeu que somos amigas e ofereceu-se para trocar de lugar com a Laura. Agora a Laura está ao meu lado.
A Laura nasceu e viveu em Moçambique até aos 21 anos. Depois esteve 32 anos sem lá voltar. E é lá que se sente em casa.
Falamos da relação com os animais. Conta que até ter tido a primeira gata, para ela ver um animal ou uma pedra era a mesma coisa.
A Laura é pintora e escultora. Costuma ir a Moçambique fazer trabalho de voluntariado ligada a uma pequena ONG (VIDA) ensinar a técnica japonesa Shibori Batik, para tingerem tecidos com folhas, raízes e cascas de àrvores . Na última vez, quando reparou, as mulheres estavam a tentar tirar folhas das árvores que estavam cheias de escorpiões . Laura não as deixou ir lá mas um colega dela, também artista plástico, estava a querer obrigá-las a irem buscar as folhas à tal árvore, mas ele não ia, o corajoso…
E vai-me contando histórias...como um dia em que não se atreveu a entrar num chapa (camioneta) super lotado porque ia correr o risco de vir com um braço e perna de fora e resolveu ir a pé. Encontrou duas mulheres a vender fruta, e pediu-lhes para lhes tirar fotos, (conta que tem que se falar de uma maneira muito directa, não se pode por exemplo, dizer “gostaria”, que isso é impensável) mas então, uma das mulheres, transformou-se logo para a foto, tal qual uma modelo, puxou o decote para baixo, colocou-se de lado e abriu um grande sorriso…a intenção da Laura de tirar uma foto o mais natural possível ficou logo defraudadada com esta pose…mas achou muita piada à alegria que lhes proporcionou só por lhes ter tirado fotos.

Ai meu Deus …estou aqui tão entretida com a Laura, e a escrever o que e ela me vai contando que nem estava a ouvir a tal senhora forte…lá atrás ela vai a dizer muito alto “tu não me chateies, tu não me chateies outra vez…”…não sei se ela está a falar para a neta ou para o marido…

A Laura continua a contar-me episódios de Moçambique. E que o o Daniel é um informático da ONG mas que gosta de a ajudar. E que também organiza um coro local. E que um dia estavam todos muto entretidos a tingir...em silêncio total e uma das mulheres começa a cantar… juntam-se as vozes das outras mulheres E depois a do Daniel. A Laura disse que sentiu qualquer coisa parecida com um choque. Permaneceu em silêncio e sentiu que aquele momento era de paz e de dádiva. E questionou-se como é que pessoas com tão pouco têm tanto para dar…

Estamos tão entretidas que nem sabemos se já passamos Pombal…ai meu Deus!...

Fala na Laurinda, mãe de muitos filhos, e que ainda ficou com 4 da vizinha que morreu de sida. Sempre que se pára o trabalho para dar de mamar aos bebés é por muito tempo…pára tudo. E lá fica o Batik a meio. E os filhos estão sempre com elas.

Outra coisa é que não se pode dizer que uma pessoa é negra. Nem que é preta. Porque eles ficam foribundos. Uma vez ia entrar na entrar na zona das prostitutas sem saber, e uma mulher não deixou passar. Ia à procura do Sr. Belarmino, costureiro. Quando contou esse episódio e se referiu a essa mulher como uma preta a Dirce deixou de gostar dela. Então Dirce, como é que eu hei-de dizer? Dizes: uma mulher. E olha lá como é que se sabe se é preta, branca ou amarela? Dizes que é uma mulher, e aqui é sempre preta.

Foi de avioneta para a ilha de Mazaruto, onde uma amiga tem duas casas. Na praia do Tofinho. Sentadas na sala viam passar baleias com bandos de golfinhoa à frente. Lá chamam às baleias vacas do mar. Resolveram ir já não sei para onde, viram um chapa novo em folha e sentaram-se nos 2 lugares da frente. Estiveram lá 2 horas sem o chapa arrancar. Viam as pessoas a entrar e a sair outra vez. E o chapa continuava parado. Porque afinal só podia arrancar quando todos os lugares estivessem cheios. E as pessoas que entravam viam outros chapas quase cheios, saíam e iam para aquele… O motorista só dizia: Ai minha mãe, minha mãe!... num desalento profundo…finalmente arrancaram e depois de 50 km de estrada com crateras em que cabiam 2 e 3 pneus, encontraram uma tabuleta: Trópico de Capricórnio! Elas fizeram uma festa e o motorista ficou muito vaidoso e cheio de felicidade com a felicidade delas embora parecesse que não sabia o significado da tabuleta.

Apanharam um barquinho para a Ilha de Magaruque, uma ilha tão asseada que nem fumar se pode. Estava a Laura no tal barquinho quando ercebe uma sms da filha: Ó Mãe, onde é que estás? Estou no meio do oceano Índico. Começou uma tempestade e dentro daquela casquinha de noz a Laura pensou que estavam perto do Juízo Final…

Nesse barquinho ainda foram buscar uns ingleses que tinham vendido tudo o que tinham para fazer um ano de sabat pela costa maçambicana. Uma das raparigas tinha o cabelo todo em rastas, cor de rosa clarinho.
Foi nessa ilha que a Laura recebeu a “Dádiva das Conchas”. Que lá não se podem apanhar nem vender. Uma rapariga pobre tentou vender à Laura, que lhe respondeu: Eu não tenho nada para te dar mas tu és muito bonita. A rapariga foi buscar as conchas e ofereceu-as à Laura. Só pelas palavras dela. E as conchas para vender eram tudo o que a rapariga tinha…

Diz-me a Laura: E fala-se em evolução…Quer dizer, a evolução tem muito que se lhe diga…

A Laura ainda conta mais um episódio em que ia cheia de medo dentro de uma avioneta no meio da tempestade e a amiga tentava acalmá-la falando-lhe em questões técnicas: estás a ver aquela nuvem? A nuvem está a puxar para cima e por isso o avião tem que puxar para baixo…Não quero saber de nada disso..ai ai ai ai ai…

Chegamos ao Pombal. A Laura sai e entra uma senhora que se senta ao meu lado.

No banco ao meu lado mas do outro lado do corredor, vai uma senhora muito compenetrada a descascar a sua maçãzinha com um pequeno canivete… reparo agora que vai tudo muito sossegado… a senhora que sentou ao meu lado é que vai cheia de medo de não conseguir sair em Coimbra…está traumatizada porque uma vez não conseguiu abrir a porta para sair em Caxarias e só saiu no Entroncamento…acha que foi por causa dos nervos…tentou abrir a porta antes do comboio parar e bufar…e ela não abriu mais…agora vai a fazer a conta aos minutos que faltam para sair...acho que vou arrumar o computador porque é natural que ela vá ficar muito nervosa e leve tudo à frente, já volto.

Dou-lhe uma breve expilcação sobre comboios, onde está afixado o número da carruagem, etc. e empenho-me para a tranquilizar, garanto-lhe que ela não vai parar ao Porto, nem que vá eu acompanhá-la à saída…Ela diz que a sorte dela é encontrar pessoas simpáticas…

Lá atrás a avó forte e a neta já estão mais pacificadas, avó está a ensiná-la a a soletrar.

Aqui a minha senhora, diz que para tudo é preciso prática…

A senhora lá atrás diz que a neta já devia ter levado na cara…Até lhe está a dizer agora que lhe parte a boca…não sei lá o que a miúda lhe está a dizer…o que vale é que estes miúdos Índigo não têm medo nem de avós, nem de pais, nem de ninguém...vêm quebrar as regras, as estruturas, desafiar, confrontar, para provocar a mudança…abençoados!...embora nos dêem cabo da cabeça…

A senhora diz à neta: “Porra!” Shiu!”comecei-me a rir e a minha senhora do lado olhou para mim…pois...não sabe do que me estou a rir…

Tal como da ultima vez, hoje também vai um senhor a olhar fixamente para mim…e quando eu olho ele desvia o olhar. Deve estar a estranhar o que eu tanto escrevo.
Falo e escrevo. Ele deve estar a reparar.

A senhora aqui atrás está a explicar à amiga Teresa como agora o telemóvel dela é moche e o transtorno que isso lhe tem causado…manda beijinhos ao Marco que apareceu lá de surpresa.

Arranjei uma parceira de saída para a minha senhora do lado …que fica muito aliviada. Já está junto à porta. Com 5 pessoas à frente e umas 10 atrás. Está segura.

O senhor que olha para mim agora está a disfarçar e a olhar de lado…deve achar
estranho as amizades que passam por aqui e como me rio sozinha…devo-lhe parecer completamente maluca.

Senta-se agora um senhor ao meu lado. Já é o quarto pareceiro de viagem. Tranquilo. Tão tranquilo que passarm 5 minutos e já está a dormir. Eu acho que o tal senhor está mesmo muito intrigado comigo… Vou fazer um teste. Vou parar de escrever, e pôr os phones e fechar os olhos…bingo! Acabou por adormecer também. Sem querer, estou a olhar pela vida dele…

De vez em quando tiro um dos auriculares para ouvir o que se passa e ver se estou a perder alguma coisa…a que ponto chegou isto de escrever sobre o comboio…

Interrogo-me se o volume no máximo incomodará o meu vizinho mas ele nem se mexe e concluo que o único risco é estoirar com os meus tímpanos…

Chego ao Porto! Ai o Douro! A Ribeira!...Que lindo, lindo... Afinal o Porto também é tão lindo…

Porque é que resisto a largar uma coisa quando há outra bonita há nossa espera?...E eu que já perdi tanta coisa…e que até já aprendi que nunca se perde…

Na estação vejo os casais que se reencontram…adoro ver esses abraços e beijos apaixonados…e há tempos a Vida, que de vez em quando me dá uma prenda, fez-me essa surpresa…mesmo quando menos esperava…

No carro do meu Pai vai a dar os Guns, que “por acaso” vinha a ouvir no comboio…

Chego a Rebordosa, a esta terra grotesca…e pergunto-me o que estou aqui a fazer…sinto que não tenho nada a ver com isto…mas quando chego a casa que parece um pequeno paraíso isolado…e abraço o meu filho e a minha mãe…e almoço no jardim…e me deito na caminha de jardim e adormeço ao sol…ai que calor...dia abençoado…

quarta-feira, 16 de março de 2011

OS MEUS PRIMINHOS

Hoje estava a ver uma foto que a Mariana publicou no FB com o marido, João, meu primo e afilhado, e os dois filhos, o Rodrigo e o Gil, e lembrei-me que há cerca de oito dias atrás quando jantei em casa deles, pensei em escrever sobre eles.

Porque eu estava na cozinha com a Mariana, a ajudá-la a preparar sushi (uma odisseia...mas que resultou maravilhosamente, porque não há nada que a Mariana faça que não resulte bem) e o Gil, o mais novo, de 4 anos, chegou e perguntou à mãe se podia usar o IPad dela. Ela disse que sim e ele pegou nele com uma desenvoltura que me fez ir atrás dele. No caminho da cozinha até à sala ele já foi a mexer nele quase de olhos fechados e a selecionar os jogos que queria jogar. Quando chegou à sala já estava a começar a jogar, com uma destreza tal que me deixou boquiaberta...Já o tinha visto jogar antes, mas desta vez fiquei mais impressionada...eu perguntava-lhe como se fazia mas mal o conseguia acompanhar...e ele cheio de paciência ia-me explicando tudo como quem ensina uma analfabeta...Já o Rodrigo, com 6 anos, sabe muito mais do que é suposto para a idade dele...A primeira vez que me deixou estupefacta tinha 3 ou 4 anos, e, com papel e lápis na mão, perguntou-me a minha idade. Pensei que ele me ia perguntar como se escrevia 41, mas não, escreveu logo. Direitinho. E chegou à conclusão que eu tinha nascido em 1966...Ficamos todos a olhar para ele, se bem que já tinha surpreendido os pais muitas vezes com a memória e racciocínio que tinha, com queda especial para os números. E que cada vez impressiona mais.

Os meus priminhos espantam-me sempre. Como o Pedrinho, filho da Pinita e do Pedro, que me espantou sériamente quando há anos atrás, tinha ele uns 6 ou 7 anos, me perguntou se podia fazer meditação comigo...Já há muito, muitos, anos, que passo um mês de férias com as minhas primas, no Mindelo, e o Pedrinho começou a reparar que eu quase todos os dias fazia meditação. Já me tinha perguntado o que era meditar, mas eu não contava que ele quisesse fazer também...muito menos contava que ele gostasse tanto, ao ponto de volta e meia me pedir para voltar a fazer. Tanto que lhe ofereci livros infantis sobre espiritualidade, que ele devorou. Mais surpreendente foi quando um dia, muito tempo depois, era suposto que eu o entretivesse a ele aos outros dois priminhos maravilhosos, o Carlitos, e a Ritinha, filhos da Lindinha e do Bé, e ter respondido quando lhes perguntei ao que queriam brincar: fazer meditação! Uau...o meu filho estava presente e não achou piada nenhuma...ai agora vamos todos meditar...não tem piada nenhuma...isso não é nenhuma brincadeira...Mas os mais pequeninos também se mostraram entusiasmados e fiz-lhe a vontade. Foi uma delícia vê-los todos tão sossegados a fazer um esforço para se concentrarem e me acompanharem. Gostaram tanto, que no dia seguinte, quando a Lindinha foi acordar o Carlitos e a Ritinha, eles estavam muito sentadinhos, de olhos fechados a tentar meditar....Ai que lindos!!!!

A propósito da Ritinha e das férias que passamos juntos, uma tarde estava com ela no quarto a ler-lhe uma história para ela adormecer e quem adormeceu fui eu...ela pegou no livro debaixo do braço e foi à sala dizer às minhas primas: Pronto, já adormeci a Cristina!

Já para não falarmos no Carlitos e nas suas 27 namoradas! Nem mais nem menos. Exactamente 27. E que com os seus 9 anos disse há dias ao meu filho, quando ele fez 18: Que fixe, Zé, agora já podes tirar a carta e vamos os dois para Lisboa!

sexta-feira, 11 de março de 2011

CHUVA

A vida não brinca...ainda ontem comentei no Facebook, no meu album de fotos de Munster, o quanto tinha gostado de andar de bicicleta à chuva (o que tinha sido uma feliz descoberta porque um Leão não costuma gostar de molhar a juba)...e hoje...teste!

Almocei lá fora no jardim, ao sol...que estava lindo e quente...e fui caminhar, praia, sol, até chegar à marina e me plantar na esplanada do Peter a ler uma revista que me interessava. Tão absorvida que nem me apercebi de como o tempo estava mudar. Um minuto depois de me levantar para retomar caminhada de regresso a casa, começa a chover...Ora muito bem...aqui está ela...há que desfrutar...maravilha...( o mais engraçado foi que a primeira reacção foi pensar se não teria que tirar os phones...será que água com o Ipod ligado não faria curto circuito?...LOOOOOOLLL...não é eléctrico, sua tansa!...)

Caminhei, caminhei...até que fui para a areia, para junto da água, deixar a chuva lavar-me a alma...fiquei mais leve...que bom, que bom...

E percebemos que não é possível sentirmo-nos sós quando nos atrevemos a fazer aquilo de que gostamos...

No fim, já a chegar a casa, o tal placard que eu tomo como um sinal a não descurar: "Próxima tentação"- Capuccino no McCafé do McDonalds.

Ora, outra nova experiência: entrar no Mc toda encharcada...tomar um capuccino doce e quente.

Lá, recebo um telefonema da Tatiana - tiro os phones e guardo no bolso- combinar uma saída para hoje. Outra maravilha.

Entro em casa e ouço uma musica...de onde é que vem?...estranho...parece que vai para onde eu vou...LOOOOOLLL....eram os phones no meu bolso...

segunda-feira, 7 de março de 2011

MOBY E UM PEQUENO MILAGRE

Hoje de manhã, ainda deitada, estava a ouvir Moby, que tenho gravado no meu telemóvel. E fiquei a pensar como os milagres acontecem. Por mais pequeninos que possam parecer. E como a vida é uma montanha russa...que tanto nos leva a pique para as profundezas...como para as alturas...E eu que tinha pavor dessa espécie de carrocel, bem...já vou com um tal treino da vida que devo estar prestes a voluntariar-me para uma voltinha...

Voltando. Adoro Moby. A Luísa é que sabe bem o quanto gosto, porque ela também. Quando tinhamos escritório juntas cada uma de nós tinha os seus CDs do Moby, e ouviamos muito. Já tinha pensado muitas vezes em como gostava de assistir a um concerto dele mas que não sabia se ia isso iria ser possível, quando um dia soube, de repente, que ele nesse mesmo dia ia actuar no Parque da Cidade no Porto. 12 de Setembro de 2009. Já o meu filho tinha terminado os tratamentos, há dois meses, e tinhamos regressado há um mês da Alemanha, com notícias animadoras. Fui a correr para a FNAC, para comprar bilhete, disposta a ir mesmo sozinha ao concerto; mas telefonei à Vânia, que alinhou. Iria ter comigo ao recinto. Entretanto, na FNAC percebi que ele estava lá a dar autógrafos...e hesitei se ia para a fila ou não...não é muito o meu género e sinto sempre um certo embaraço...mas decidi-me e fui. Enquanto avançava na fila ia-me sentindo incomodada com o casal atrás de mim...não davam espaço nenhum...e quanto mais eu me chegava para a frente mais eles também...estava a sentir-me invadida com a energia deles...e reclamava para mim mesma...entretanto reparava que toda a gente, no momento do autógrafo, tirava uma foto com o Moby. E eu pensei que não ia ter lata...e mais a mais, a quem é que ia pedir para me tirar a foto?...ao casal de trás?!...e assim fiz...e naquele momento senti: "Estavas muito incomodada... mas agora são eles que te vão tirar a foto..." Pois é. Isto já me aconteceu tantas vezes na vida...tantas...Aliás, cada vez que faço um juízo de alguem levo logo com o retorno. Logo. Normalmente o retorno é muito rápido. Às vezes é uma questão apenas de segundos. Neste caso foi de minutos. E sobre isso teria N histórias para contar. Mas como diz a minha amiga Ana Catarina: adiante.

Ora, no esperado momento da foto, a câmara do meu telemóvel bloqueou. Agora até está bloqueada de vez, mas na altura bloqueava quando lhe apetecia. A senhora do dito casal ficou ali com o aparelho, sem saber o que fazer, mas eu resolvi logo que não ia tentar outra vez. Não ia estar ali a empatar, ainda por cima com gente a olhar... Mas uma menina do staff, muito simpática, disse-me para eu aguardar um bocadinho que daí a pouco me chamava e ela propria me tirava uma foto (acho que ela também fez um juízo de valor da tal senhora...que achou que tinha sido incompetência dela...pobre coitada, que nesse dia era um alvo...) E a fila chegou ao fim, muito rápidamente, e a menina então chamou-me, já o Moby se tinha levantado e eu a pensar que ele se ia embora sem a tal foto...e ele veio abraçar-me...COMO?????!!!!!...super simpático...fui a única pessoa que abraçou, pelo menos que eu visse e enquanto estive ali...e com quem tirou uma foto com o braço por cima...

E o meu telemóvel disparou à primeira...e a foto ficou linda...e eu nas nuvens...

No concerto, saltei e cantei sem parar... a Vânia que diga, que também saltou que chegue...parecia um sonho...o concerto do Moby ali no Parque da Cidade...assim, de repente...como uma prenda...adivinhem de quem...

domingo, 6 de março de 2011

EU E OS LIVROS

Como na sexta feira só tive bilhete para o último comboio, enquanto esperava fui para a FNAC do Vasco da Gama. Na FNAC sinto-me em casa.

Há alguns anos atrás, há uns 9 ou 10 anos, um grande, grande, amigo meu, ensinou-me, precisamente na FNAC, a sentir a energia dos livros. E a escolhê-los em função dessa energia.

Assim, quando entro numa livraria já sei que é para ler ou comprar um livro específico, que vou descobrir qual é quando olhar para os expositores.

Às vezes é sobre temas de que não estava nada à espera.

Como na sexta feira. Entrei, percebi qual era o livro, que nem sabia que existia, e sentei-me a ler algumas páginas.

Quando achei que estava tudo lido, levantei-me e passeei mais um pouco por entre os livros. Que eu adoro. Sempre adorei. E fiquei por ali a pegar em alguns e passar a mão pela capa, pelos que me atraem, tal é o carinho que me despertam, mesmo sem os ter lido.

(A propósito hei-de tentar encontrar e publicar um vídeo que vi uma vez sobre as crianças índigo, no Japão, que folheavam os livros muito rapidamente, sem ler, algumas até parecia que ficavam a cheirar, e depois conseguiam dizer de que é que o livro falava, mesmo sem o terem lido. Era verdadeiramente impressionante.)

Acabei de passear na FNAC, sem descobrir mais nenhum livro para ler.

Quando fui para o comboio, vi o stand da Bertrand que está lá no meio da estação e entrei. Pensei: mais livros? Ainda não vi tudo por hoje? E comecei a passear e a olhar para as capas. Eram milhares, obviamente. Não encontrava nenhum que achasse que era para pegar ou ler. Decidi sair. E nesse momento olho para um dos livros da Alexandra, “A Era da Liberdade” e percebo que é aquele. Mas eu tenho este livro há anos... Já o li e reli imensas vezes. Mas era para eu pegar e peguei. Era para abrir à sorte. Abri. Li aquelas duas páginas. E fiquei siderada. A precisão do que li, deixou-me ali especada. Como se estivesse ali escrito, para eu ler naquele preciso momento. Impressionante. Que entre milhares e milhares de livros, sejamos guiados até, não a um livro, mas às duas páginas específicas de um livro...Que nos fazem sentir que estão a falar connosco e a dizer-nos exactamente o que precisavamos de saber naquele preciso momento...Por mais que isto se repita nunca deixo de me espantar...E senti como uma bênção a chegar até mim. Fui para o comboio com os olhos cheios de lágrimas e muito, muito, feliz…

sábado, 5 de março de 2011

HISTÓRIAS DAS VIAGENS DE COMBOIO- COM EPISÓDIO EM DIRECTO

Estas viagens semanais de comboio que faço há 18 meses têm-me proporcionado muitas histórias. Neste momento vou aqui a ouvir um rapaz que gagueja a falar, e embora ele esteja sentado três filas à frente consigo ouvir o que a tia lhe diz por telefone. Fiquei também a saber o que ele vai fazer este fim de semana.
Atrás de mim vai uma rapariga com um gato que mia como um bebé.
Realmente as melhores histórias são as relacionadas com os telemóveis. Desde os toques mais extraordinários e com os volumes mais incríveis. Para mim trata-se de um verdadeiro fenómeno. Estou a lembrar-me agora de um senhor que tinha o telefone em alta voz, mas mesmo alta, e colocava-o ao ouvido como se não estivesse nessa função…É claro que se ouvia tudo, mas mesmo tudo…o que ele dizia e o que lhe diziam a ele…isso já foi há muito tempo…não me lembro da conversa, mas era hilariante…

E a de outra senhora que telefonava ao filho e falava tão alto como se estivesse a falar para a China…e toda a carruagem ia acompanhado as sucessivas conversas, porque ela e o filho iam combinando quem é que ia buscá-la à estação…só que nesse dia houve uma avaria e o comboio atrasou brutalmente…mas o que ela queria era que fosse o filho a ir buscá-la e não o “tax”…embora dissesse ao filho que não, que ia de tax…mas depois dizia que o comboio só estava atrasado 10 minutos que bastava ele esperar um bocadinho…e numa das vezes a carruagem respondeu em peso e em uníssono “NÃO SÃO 10, SÃO 30 MIN.”….e desataram todos a rir…porque realmente já dava vontade mesmo muita vontade de rir…

Agora não vão acreditar, neste exacto minuto, enquanto estava a escrever isto, surgiu uma rapariga que me pediu licença para se sentar no lugar vago ao meu lado junto à janela…tratou-me por tu e pediu logo desculpa porque de repente pensou que eu fosse da idade dela…enquanto eu pegava no computador para ela passar com as mil tralhas, foi-me explicando que estava sentada num outro lugar, já a dormir, mas chegou o dono do lugar e ela teve que procurar outro, que esperava que não chegasse o dono deste lugar, porque precisava mesmo de dormir…e que precisava que chegasse o revisor para comprar bilhete…Eu nem sabia que se podia entrar no comboio sem bilhete, mas pelos vistos quem entra em Santarém a esta hora, como a bilheteira já está fechada, tem que o comprar ao revisor.
Enquanto se cobria como casaco e tentava encontrar uma posição para dormir olhou para mim e perguntou-me se eu ainda estava a trabalhar…respondi que não, que gostava era muito de escrever….e ela respondeu que também gostava muito, mas que estava morta, que vinha de uma directa…e que esta semana inteira só tinha dormido 8 horas…entretanto na tentativa de encontrar uma posição confortável punha-se nas posições mais espatafurdias e até parecia que ia trepar pelas paredes da carruagem…até me vou abster de descrever a posições ao estilo contorcionista que ela ia tentando… admiro o à vontade dela…bonita e desinibida…botas de plataforma pretas e tacões vertiginosos… disse que ia para Famalicão e pediu-me para a acordar em Campanhã…já vai aqui a dormir como uma justa…

Mas para mim a história mais engraçada é de uma senhora com os seus 45 anos.
Estavamos no Cais do Sodré, já dentro do comboio para Cascais. Devia ser perto da meia noite e estava tudo em silêncio à espera que chegasse a hora da partida.
E aquela senhora falava como se estivesse sozinha no comboio…percebia-se nitidamente que estava a falar com o “amante”…era obviamente amante e não marido ou namorado… percebia-se que trabalhavam no mesmo local, não digo colegas, porque me pareceu a típica situação de secretária, e que ele a estava a acusar de andar a controlar o cartão de crédito dele…ela negava veemente mas ele só poderia acreditar porque não via a cara que ela fazia…eu que estava de frente para ela e estava capaz de explodir de riso…ai meu Deus…o esforço louco que fiz, quase sobre humano, para não me desmanchar…ainda por cima ela fazia caretas e revirava os olhos como quem diz: “és uma chato!...a paciência que é precisa para te aturar”…
E o gatinho que vai aqui atrás não se cala…até agora não o ouvia porque ia de phones…vou pô-los outra vez…

Alto, vem aí o revisor…está a aproximar-se e a rapariga aqui ao lado continua a dormir…vêm aí cenas do próximo capítulo…já as conto…

Incrível, a revisor chegou aqui e foi para trás…ainda não foi desta…
Agora está tocar um telefone com aqueles toques de telefone antigo…ah…é o tal rapaz que gagueja…está a contar como este comboio vai repleto e como são imensas carruagens..por causa de ser o fim de semana do Carnaval…diz ele que vai em transe psicadélico…porque a amiga ao lado dele pôs umas musicas estranhas no ipod…falou agora em cocaína e tal…e ri-se …não queria parecer que estou a gozar…mas o rapaz também gagueja a rir…

Alto…vem aí o revisor outra vez…vamos ver o que vai dar…

Estou perdida de riso…a cena foi melhor do que eu imaginava…o revisor acordou-a e ela começou a reclamar com ele de uma forma muito sedutora…que não a tirasse deste lugar…que já tinha mudado e não queria mudar outra vez…que ele não a devia ter acordado ..porque estava cheia de sono…porque esta semana só tinha dormido 8 horas..ele disse, já todo derretido que não adivinhava…perguntou se era por causa das Frequências…ela disse que não, que já trabalhava…mas para a próxima vez ele a acordar só no Porto…ele sugeriu-lhe que ela pussesse letreiro com uma nota para pagar o bilhete…a conversa continuou até acabar com ela a desejar-lhe bom fim de semana e bom carnaval e ele a desejar-lhe bons sonhos…pelo meio eu tive que traduzir algumas coisas porque ele dizia que ela falava muito baixinho…eu nem sempre consegui traduzir porque me ria…do jogo dela e da cara de derretido dele…
Antes de voltar a adormecer perguntou-me “Mas que barulho é este? É um gato? Mas ele não se cala?”…Ainda me pediu para a acordar em Gaia e não em Campanhã.
C’ést finit. Por ora. Porque se tiver mais desenvolvimentos, eu conto.
De qualquer forma ia ter que parar, porque eu enjoo se ler ou escrever muito.
Tocou outra vez o telefone do rapazinho gago e vai a dizer pela enésima vez que vai no comboio e que só chega ao Porto à 1h.
Agora reparo que o senhor que ia a olhar para mim fixamente desde o inicio da viagem já saiu…não me pareceu que fosse por mal, é que realmente não tinha nada de mais interessante para fazer, pareceu-me…não devia ir atento às conversas do lado como eu vou hoje…
A rapariga acorda e ao pousar um dos pés no chão, vindo lá das alturas onde ele estava…torce-o…pergunto se não terá sido apenas um mau jeito…que não, que lhe dói muito, que é mesmo torcido…ofereço-me para tentar ir arranjar gelo no bar, mas que não é preciso…depois queixa-se de ter deixado os cigarros não sei aonde…ofereço-lhe dois.
Pelos vistos perde o comboio de ligação a Famalicão e vai ter que esperar que pais a venham buscar…agradece-me a companhia e sai desanimada..
Na estação o meu Pai está à minha espera.

Quando chegamos ao carro, estacionado no terreno do outro lado das traseiras da estação, o meu pai faz-me sinal com os olhos…no primeiro impacto nem percebo bem o que se está a passar…aproximo-me e estão dezenas de sem abrigo a dormir ao relento, cobertos apenas com cobertores…em círculo…fiquei em choque…perdi a fala…nunca tinha visto tal…Absolutamente chocante! Inacreditável…Surreal…

quinta-feira, 3 de março de 2011

Não ia contar isto...mas cá vai: Megève/ Serra de Lordelo


Há dias ia começar a escrever sobre Megève e a relação com uma situação da última semana. Desisti porque achei que não devia contar. Mas novamente a mensagem do Livro da Luz - "Expõe-te, expõe-te, expõe-te." Continuei a achar que não devia. Ontem comprei a Time Out Porto e inesperadamente tinha um artigo sobre Megève. E hoje acordei com a sensação nítida que era para escrever.

Então aqui vai:

Há cerca de 10 anos fui com um grupo de familiares e amigos passar uma semana a Megève, uma estância de ski particularmente bonita, nos Alpes franceses. Nunca tinha esquiado na vida e estava a aprender com um professor, eu e mais alguns, porque a maioria eram esquiadores quase profissionais. Só faziam pistas negras. Logo no segundo ou terceiro dia o professor teve a abrilhante ideia, porque achou que estavamos a progredir muito depressa, depois de mil quedas e cambalhotas, de levar os principiantes para as pistas dos mais experientes para esquiarmos todos juntos. (É verdade, nos momentos em que conseguia esquiar tinha a sensação de uma total liberdade...) Assim que começamos a subir de teleférico em teleférico, quase até ao céu, fui ficando aflita, porque sabia que se estava a subir aquilo tudo, ia ter que descer...e tenho pânico das alturas...fomos para o mais alto do mais alto (pelo menos para mim) ...e quando começamos a descer o meu ski esquerdo enterrou-se na neve, eu caí para trás e ouvi um estalido enorme que pensei que era o osso a partir mas afinal se veio a revelar uma ruptura de ligamentos do joelho. Chamaram por socorro (e nunca mais me vou esquecer da ternura das minhas primas e amigos e da aflição do professor) e veio um rapazinho com uma maca onde me colocaram, atrelada a ele...ele ia deslizando de ski e eu deitada na maca que ia amarrada à cintura dele. Descemos quilómetros e quilómetros...e muitas vezes a velocidade supersónica...Não percebia porque é que não tinha medo nenhum e estava tão serena e tranquila...E foi então que pela primeira vez na minha vida tive a sensação de estar a ser literalmente acompanhada na descida por Seres de Luz...lembro-me perfeitamente de ter ficado atónita e de ter pensado: "Então é aqui que eles estão..."

Só no ano passado, quando estava a ler o "Voo Sensitivo" da Alexandra, no capítulo sobre a viagem dela ao Alasca é que, salvas as devidas proporções, percebi o que senti em Megève. Percebi que pude sentir o que senti, por ser um local energéticamente mais puro do que qualquer outro que tivesse conhecido.

E lembrei-me disto a propósito do ultimo fim de semana em que na madrugada de Sábado para Domingo, cerca das 3h, quando vinha do Porto, resolvi, para ir buscar o meu filho e encurtar a viagem, em vez de ir pela Nacional ou AE, atravessar a Serra de Lordelo. Agora tem uma estrada nova, mas que é isolada, porque é no meio da serra, e ainda completamente às escuras sem qualquer tipo de iluminação a não ser a Lua. Ninguem gosta de lá passar de dia que fará de noite. Ainda menos sozinha. Mas senti que não corria perigo, a minha intuição guiava-me para lá e fui. À medida que ia avançando na estrada pelo meio do monte, só com a luz do meu carro e sem nunca me cruzar com nenhum outro, ia ficando um pouco desconfortáve, porque a minha cabeça estava a sugerir-me todos os tipos de situações aflitivas e a dizer-me que eu era maluca e que devia ter medo. Mas continuava tranquila. Intuitivamente sentia que não corria perigo. E comecei a acelarar e a aproveitar para fazer um pouco de rali sem muito perigo também...afinal era uma serra deserta...Acho que juntei o útil ao agradável...achar que devia sair dali rapidamente e viver a emoção da alta velocidade que eu adoro e tanta adrenalina me dá... Sorria sozinha...

No fim, respirei de alívio e pensei que por mais que tivesse corrido bem era uma experiência a NÃO repetir.

Mas a verdade é que não percebia porque é que tinha feito aquilo. Podia ter sido perigoso.

Só dias depois caiu a ficha: percebi que não tinha sentido medo, porque apesar de tudo, apesar de ter tudo para ser altamente assustador, aquele lugar era energeticamente mais puro do que qualquer outro cheio de gente por onde andamos...e que mesmo a meio da madrugada, podia sentir isso. E foi isso que eu fui lá aprender.

E logo a veio a comparação com o que tinha sentido em Megève. E percebi tudo.

ESPANTOSO

A propósito de me rir tanto com os meus colegas de trabalho, que na verdade são grandes amigos, e que me fazem rir ao ponto de mesmo sozinha no comboio me continuar a rir à gargalhada só de me lembrar das nossas brincadeiras, sabem que há 15 dias encontrei um papel que escrevi há cerca de 4 anos sobre a vida que eu gostava de ter?...e uma das coisas que dizia é que gostaria de me rir à gargalhada no trabalho que tivesse??!! Dizia com estas as palavras exactas: rir à gargalhada...E mais, entre muitas outras coisas que entretanto se concretizaram (outras não, como conhecer os lugares mais bonitos do mundo, se bem que depois disso conheci o Rio de Janeiro...) dizia que gostaria de viver junto ao mar ou a um lago, num espaço muito verde...E não é que vivo dentro de um verdíssimo jardim municipal, a 200m do mar?...Não é incrível?!...É que nunca mais me tinha lembrado que tinha escrito isto...Até levei o papel para o trabalho para mostrar... e acharam espantoso, porque de facto, é raríssimo o dia em que não me rio à gargalhada...

quarta-feira, 2 de março de 2011

IPO- 12/01/2011

Ontem fui com o meu filho ao IPO. Consultas de rotina. Aparentemente está tudo bem, dentro da normalidade.

Ir lá implica o choque do costume. E quando estavamos numa fila reparei numa exposição nas paredes do corredor. Fui ver. Eram fotos de excelente qualidade, como obras de arte, de meninos da idade do Zé Miguel, nos quartos do internamento. Retratam muito bem tudo o que lá se passa.

Os computadores, as consolas e telemóveis com que eles se tentam distrair.

Uma menina encolhida na cama.

Outra, a mãe a dar-lhe a comida à boca.

Outra com a perna amputada.

Ao vê-las senti como um soco no estômago. Além do aperto no peito. Das lágrimas a cairem.

Voltei para junto do Zé neste estado. Ele perguntou-me o que se passava e disse que não era motivo para ficar assim. Passados minutos quis ir ver. Voltou em silêncio, e assim permaneceu por um bom bocado.

Até a senhora nos atender e perguntar pela namorada dele, depois dirigiu-se a mim e perguntou-me se ela tinha falecido. Outro murro no estômago. De repente só me ocorreu que ela tinha pensado que a namorada era alguma menina de lá e que essa menina tinha morrido. Mas não. Falecida, era a expressão para "ex"...Alívio...

A seguir fomos visitar as enfermeiras e levar-lhes bolos que eu tinha resolvido fazer para lhes oferecer. Quando me viu a fazê-los o Zé Miguel perguntou por que é que os estava a fazer. Eu respondi que por Amor. Que é assim que acho que tudo deve ser feito.

Enquanto o Zé esteve internado nunca lhes ofereci nada. Para que não fosse interpretado como forma de pedir de favores ou tratamento especial. Só comecei a oferecer depois de ter terminado os tratamentos, como forma de agradecimento. Porque na verdade sempre o trataram como um príncipe.

Quando o viram ontem fizeram-lhe uma grande festa e disseram que ainda na véspera tinham falado nele por ele ter sido o verdadeiro "D. Juan" ...

Acham-nos com excelente aspecto, como se o Zé tivesse crescido 20cm e eu tivesse rejuvenescido 20 anos...

Fomos almoçar a ver o mar, na Foz. E depois a despedida na estação de Campanhã. Foi a primeira vez que assim que fiquei sozinha comecei a chorar. Foi mais difícil talvez por termos estado no IPO. Por ele estar mais doce do que nunca. Por termos estado os dois doentes, nos últimos dias. Procurei o meu lugar e, providencialmente, era o último lugar do comboio, o último lugar da última carruagem...o que me permitiu chorar à vontade.

Vim todo o caminho a ouvir as músicas do meu IPod. Senti que uma das músicas, que apesar de estar no sistema aleatório, estava sempre a repetir, tinha uma mensagem para mim. Mas não estava a percebê-la. Só quando estava quase a chegar a Lisboa é que se fez luz e comecei a ouvir o que estava a querer ser dito. E comecei a chorar outra vez. Mas desta vez, de alegria, de conforto. Por saber que não estava sozinha. Na verdade, eu já sabia, mas é sempre bom ouvir isto lá de Cima.