quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A LINDA E O RUCA

Recebi agora uma mensagem da Linda. A Linda é mãe do Ruca. O menino com quem o Zé Miguel partilhou o quarto no primeiro internamento do IPO. Quando chegamos ele já lá estava. Da mesma idade do Zé. Com o mesmo sarcoma. Só que o dele no osso da perna. A probabilidade de encontrar outro menino no IPO com o mesmo sarcoma era bastante reduzida,(a incidência do Sarcoma de Ewing nos EUA é de aproximadamente 3 casos por milhão abaixo dos 21 anos de idade) muito menos encontrá-lo com a mesma idade e no mesmo quarto.

A mãe, também se chama Olinda. Muitas coincidências. Logo nos primeiros dias falou-me da relação que eu tinha com o meu filho. Falou-me de terapias alternativas. Perguntou-me o que fazia. Falei na Alexandra. Fez uma cara de espanto. Ela tinha conhecido a Alexandra pouco tempo atrás, a propósito da sua actividade profissional. O mais curioso é que a Alexandra me tinha falado dela e eu lembrava-me disso. Quem diria que nos iríamos conhecer em tais circunstâncias?

Os nossos filhos voltaram a dividir o quarto mais duas vezes pelo menos.

E nós tornámo-nos amigas.

Falta dizer que a Linda é lindíssima. Em todos os sentidos.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

PARABÉNS, FILHO!

Faz hoje 19 anos que dei à Luz. O meu filho. Há tempos Jesus falou-me sobre esta expressão. Nunca tinha pensado no que ela realmente queria dizer. Dar à Luz. Os nossos filhos são da Luz. Não são nossos. A maior experiência de amor incondicional que podemos ter. Gerar, criar e amar um ser que não é nosso. Com quem vamos aprender o amor maior.

Só desde há pouco anos é que tenho noção das implicações que isso teve. Das escolhas que foram feitas. Das conjugações que se realizaram. Durante a maior parte da minha vida não soube que os filhos escolhiam os pais, nem que os pais escolhiam os filhos. E que essas escolhas tinham que se conciliar. E só depois nascíamos.

Agora que tenho essa consciência, encaro a maternidade de outra forma. E dou outra importância a este dia. Que em boa verdade sempre foi um dia muito importante para mim. A comemoração do dia em que recebi na minha vida a vida de esta alma. Que se veio a revelar a pessoa mais importante e com mais influência na minha vida.

Foi uma gravidez muito desejada e vivida muito intensamente. Antes de ficar grávida morria de medo do parto. Houve até um período em que achei que nunca ia ter filhos porque nunca iria ter coragem de engravidar. Mas afinal vivi uma felicidade intensa. Apesar dos cinco primeiros meses terem sido difíceis por causa dos enjoos, eu adorei a gravidez e não queria que ela terminasse. Vivia dividida entre a vontade de continuar a sentir o meu filho dentro de mim e a vontade de o conhecer. Que eu não sabia se era menino ou menina. Não quis saber. Quando na ecografia me perguntaram se eu não queria mesmo saber, eu respondi que não. A minha médica voltou a perguntar enquanto olhava para o resultado da ecografia a eu repeti a resposta. Preparei o enxoval e o quarto por forma a adequar-se a ambos os sexos.

O dia do parto foi dos mais felizes da minha vida. Fui para o Hospital de Santa Maria com uma alegria enorme. Era sexta-feira. O Carnaval tinha sido na terça, e eu tinha ido jantar com os meus primos já com a malinha do bebé no carro. Porque a médica me tinha dito que provavelmente ia nascer antes do dia previsto. Eu andava muito ansiosa, a achar que podia ser a qualquer momento. Quando a médica me disse que eu já podia ir para o hospital e viu a minha reacção, disse que nunca tinha visto ninguém tão feliz por ir para o hospital.

Uma tia minha que estava comigo no quarto, porque tinhamos combinado que seria ela a acompanhar-me no parto, já eu estava a sentir as dores das contracções, disse-me que ou eu punha uma cara de parturiente própria de quem estava a sentir dores, ou se ia embora, porque tinha vergonha de estar a acompanhar uma pessoa que só se ria de felicidade. É claro que ela estava a brincar e é claro que o riso acabou. É claro também que desisti de ter um parto natural. A médica disse que sabia que isso ia acontecer e tinha já tinha chamado a anestesista. Lembro-me de ter entrado na sala de partos já meio inconsciente e de ouvir a médica comentar "Meus Deus, o estado em que ela está..." Lembro-me muito bem de acordar e perguntar se era menino ou menina. E lembro-me do amor que disparou assim que o vi. Já o amava. Mas começou nesse dia um amor maior.


(Esta fotografia do dia seguinte ao nascimento, em que com a sua mãozinha agarra o meu dedo, parece que já simboliza a nossa união e o nosso reconhecimento de almas)

Foi um menino feliz. Muito feliz. Toda a gente dizia que impressionava ver como ele era tão feliz. Até ao divórcio dos pais, quando tinha seis anos.. Continuou a ser um menino alegre, mas não tanto. Nunca se recompôs dessa perda. Não perdeu a mãe. Não perdeu o pai. Mas perdeu tê-los juntos. Até há muito pouco tempo atrás ainda achava que teríamos sido todos felizes se continuassemos juntos.

Por isso lhe era tão difícil vivermos só os dois. Tudo lhe lembrava a falta do pai e queria ter sempre visitas em casa. O meu coração foi-se despedaçando. E também por isso vivi tanto para ele e por ele. Tentava compensá-lo. Tentava que voltasse a ser muito feliz. Até que adoeceu. Houve momentos em que senti que se ele morresse eu morreria também. Não tinha dúvidas nenhumas. E depois houve momentos em que soube que não foi para isso que eu tinha sido escolhida por ele. E que não foi para isso que eu o tinha escolhido a ele.

Ele é a maior benção da minha vida. O meu amor.

Quando na roda da gratidão a Alexandra diz para chamarmos a alma da pessoa a quem mais estamos gratas, eu chamo a alma dele. Porque, cá na Terra, foi ele que me ensinou a amar verdadeiramente. E foi ele quem mais me amou verdadeiramente.

Amo-te, filho. Parabéns!



(By the way, ele é a estrela deste blog, porque o texto com o email dele é o mais lido de sempre, com um avanço impressionante em relação a todos os outros. Faz-me lembrar uma das perguntas da Alexandra, quando leu o email: "Agora já sabes porque é que tinhas que tinhas que ter o blog, não sabes?")

domingo, 19 de fevereiro de 2012

DUAS GRANDES LIÇÕES

No passado Sábado fui à inauguração no Clube Literário do Porto da exposição de Pintura e Fotografia de Verónica Henriques da Silva e Pedro Laycos (que recomendo vivamente),amigos da minha amiga Teresa Lamas Serra.

Quando saí da exposição, fui passear pela Ribeira. Ali o rio e as luzes são mágicos. E ao aproximar-me da água comecei a ouvir "Lisboa, Menina e Moça". Vinha de dentro de um dos barcos ancorados. O mesmo fado que ouvi na última vez que velejei pelo Tejo, no Harmony e que se ouve no vídeo que publiquei no texto com o mesmo título da musica, a 8 de Janeiro.

Deixei-me ficar ali a ouvir a música e ao mesmo tempo ouvi muitas outras coisas. Que eu não estou entre duas terras. Mas sim que abarco duas terras. Que abraço duas terras. Lisboa e Porto. Que não estou dividida entre as duas. Que pelo contrário, integro as duas em mim.

Repito à exaustão que nada é por acaso...e realmente não é. E no Sábado, antes de sair de casa tinha escrito para este blog um texto sobre Lisboa. Em que contava que tinha descoberto que adoro Lisboa. No minuto em que clicava no botão para o publicar o texto apagou-se. Não percebi como aconteceu. E nunca tinha acontecido antes. Percebi que não era para publicar, e por isso não o reescrevi. Fiquei à espera de perceber porquê.

Percebi naquele momento, ali, junto ao rio.

No texto que tinha escrito contava o feliz que fico sempre que vou sozinha à descoberta de Lisboa. Como fui na terça-feira passada, em que tirei esta fotografia no Chiado. Calcorrear ruas. Conhecer espaços novos, diferentes, originais. Adoro. Sinto uma felicidade enorme. Reenergizo-me.

E no Sábado, enquanto conduzia pela marginal, na direcção da Ribeira, já noite, e via as luzes, comecei a sorrir sozinha. Feliz. Porque adoro o Porto. Mas isso já sabia.

Adoro o Porto e adoro Lisboa. Pelo que estava a perceber, integrei as duas cidades na minha vida. Os dois mundos. Tal como integrei os dois mundos energéticos. Não me dividi. Integrei. Boa.

Mas não foi a única lição desse dia.

Tinha estado todo o dia à espera que o meu filho se decidisse a sair. Ele tinha dito que queria passar o dia comigo e que íamos fazer um programa juntos. Esperei pacientemente todo o dia.

Até que reparei que já era fim da tarde. Decidi que já não ia sair. Fechei os olhos, triste. Sentia vontade de sair sozinha mas pensei em todos os mil argumentos para não o fazer. Afinal tinha chegado na véspera à noite de Lisboa, estava em Rebordosa que fica a 34km do Porto, já era tarde, precisava mais de descansar do que de sair.Se ficasse em casa ainda podia jantar com o meu filho. Porque principalmente estava triste por o meu filho não ter saído comigo, como prometeu e ter preferido ficar a dormir.

Os meus argumentos pareciam muito válidos, mas o que sentia no peito era uma vontade enorme de sair sózinha.

Vai! Não esperes pelos outros, vai!


Não espero pelos outros?!... Mas eu não pedi nada ao meu filho. Foi ele que me disse que queria sair comigo. Eu disse que sim e fiquei à espera. Não esperar pelos outros, se foram eles que pediram e concordei, implica deixar de acreditar neles, ou não?

Prometem porque no momento sentem necessidade de te agradarem. Se não cumprem, isso vai reflectir-se na energia deles, não na tua. E tu não podes ficar eternamente à espera, porque tens outras coisas para fazer. Lembraste do que te disse no reading? Tu vais e quem quiser vai contigo. Vais porque tens vontade de ir. Tu preferias ir com eles, mas como não cumprem, tu não vais ficar focada na atitude deles, à espera e frustada por eles não cumprirem. Continuas a tua vida.

Era verdade. Eu tinha lido no mural da Teresa sobre a inauguração da exposição e tinha ficado com vontade de ir.

Se tens vontade de ir, porque não vais? Não disseste a ninguém que ias, ninguém sabe que vais. Não dependes de ninguém para ir, ninguém depende de ti. Vais por um único motivo: porque segues o teu coração.

E fui. E adorei.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

OS NOSSOS TEXTOS E A AULA DE KARMA, ONTEM

Ontem, nem de propósito, o tema da aula de Karma era "Foco fora" e a Alexandra, que tinha ficado muito emocionada quando lhe mostrei o email do meu filho, leu os nossos textos, meu e dele, na aula. Porque mostra bem o que aconteceu quando vivi com o foco nele, e o resultado de ter mudado e posto o foco em mim. O email dele, precisamente ontem, foi a maior e melhor demonstração do resultado que essa mudança pode ter na nossa vida, e na daqueles que nós amamos. A Alexandra dizia que o que que ele escreveu, agora e não antes, lhe lembrava as palavras da Maria Flávia de Monsaraz, de que cada um evolui quando pode e não quando quer. Estamos todos surpreendidos com a tomada de consciência dele. E como a Alexandra disse, ainda por cima escreve bem... Tudo o que ele escreveu me enche de felicidade e orgulho, mas sem dúvida que mais me surpreendeu foi a tomada de consciência. Quando escrevi o texto não foi para ele. Foi para mim. Antes de o escrever até pensei em escrever-lhe um email, mas desisti, porque senti que não era para lhe dizer nada, só escrever no meu blog. Não imaginava o efeito que teria.

Depois de ter ouvido a Alexandra ler os textos, uma senhora com quem nunca tinha falado na vida, veio ter comigo e disse-me que nunca tinha conhecido ninguém que sentisse exactamente como ela se sentia em relação ao filho. Que tinha o coração a explodir. E perguntou como é que podia reagir e ter uma conduta como a minha. Expliquei-lhe que o fundamental era fazer terapia. Costumo dizer que foram as terapias que me salvaram - quando o Zé Miguel adoeceu, a Nancy foi logo ao Porto e fez-me terapia, depois a Lúcia fazia-me sempre que ia Porto, e outras vezes vim eu a Oeiras.

Na manhã do dia em que o meu filho me enviou o email eu tinha chegado ao consultório de rastos. Assim que a Lena olhou para mim e me perguntou o que é que eu tinha agarrei-me a ela a chorar. Ela pegou em mim e levou-me para o gabinete dela para me fazer terapia. Na conexão com Jesus, Ele disse-me: Relaciona-te com a alma do teu filho e não com o corpo dele lá em baixo na Terra. Lá em baixo ele não te ouve. E mostrou a nossa união em Luz, como se fossemos um só. Mas que na Terra tínhamos que viver a experiência da individualização.

Nesse dia à noite o meu filho enviou-me o email. Ele não fazia ideia da minha terapia. Mas a verdade é que dizia tal e qual muitas das coisas que me foram mostradas e ditas por Jesus na terapia.

Quando ontem mostrei o email à Lena ficamos a olhar uma para a outra. Incrível!... O email também a fez lembrar da forma da filha dela escrever, a Sara (já aqui publiquei um texto dela), que escrevia coisas idênticas às que o Zé Miguel escreveu. Aliás eles têm mapas natais muito parecidos e por isso energias muito parecidas. Ambos do signo Peixes. De uma sensibilidade muito aguçada. Eu também tenho sete planetas com energia de Peixes, e uma das coisas que me foram mostradas ontem em meditação, era que as nossas águas, minhas e do meu filho, se misturaram, e por isso temos tanta dificuldade em as separar. É realmente difícil separá-las, mas o que ajudou foi que elas terem ficado em vibrações diferentes. Eu avancei, pus o foco em mim e evoluí, mudei a vibração da minha água, e isso fez com que a minha água se separasse da dele, e por isso agora ele também pode evoluir. Sem querermos, muitas vezes quando pensamos que estamos a ajudar, só estamos a atrapalhar.

E foi isto tudo que expliquei à tal senhora que veio falar comigo, e que por isso, o mais importante era ela fazer terapia. Aceder à informação sobre o que a vida lhe está a propôr e porquê. Como reagir e quais as melhores atitudes a tomar. Seja como for, é fundamental aceitar todas as emoções que está a sentir (neste caso é principalmente a impotência e o medo de falhar) e chorá-las para as libertar.

Abraçou-me umas cinco ou seis vezes, parecia que queria ir-se embora, e disse-me: Ficava nos seu abraço até ao fim da minha vida...

Fiquei muito sensibilizada com estas palavras e pensei nas coisas maravilhosas que já me têm dito sobre o abraço e outras, que me fazem sentir completamente abençoada pelo trabalho que faço. E lembrei-me de outro comentário sobre o abraço que também me marcou muito, que foi de uma senhora que atendi no Porto, professora universitária, prácticamente céptica, mas que veio à consulta porque tinha uma doença grave e estava disposta a abrir-se para a espiritualidade. Voltou à consulta passado uma semana, muito mais cedo do que eu estava à espera, e disse-me que o motivo porque tinha voltado tão depressa era porque sentiu que o meu abraço (que lhe dei à despedida) era uma coisa do outro mundo, e queria voltar a senti-lo...

O que eu acho é que as pessoas sentem que eu gosto delas. Gosto mesmo. De todas. E isso sente-se.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O EMAIL QUE O MEU FILHO ME ENVIOU DE MADRUGADA- COMPLETAMENTE INESPERADO

Ontem de madrugada o meu filho enviou-me este email. Telefonou-me a pedir para eu ir consultar a minha caixa de correio, ainda resisti, disse-lhe que já estava a dormir, pediu-me por favor. Transcrevo-o tal e qual (garanto que não alterei uma única palavra nem mudei uma única vírgula) depois de lhe ter pedido autorização para o partilhar aqui- ele respondeu que precisava de pensar, mas ao fim do dia disse que sim. Não lhe perguntei ainda como é que ele foi ler o blog, mas suponho que tenha recebido notificação através do Facebook. Foi o texto que mais impacto teve em mim, algum dia na minha vida. Ainda estou em comoção.


Amo-te

Acabei de ler o texto que escreveste no teu blog sobre mim .
Comecei a ler o texto e de repente comecei a chorar , nao consigo parar de chorar.
Não paro de chorar so pelo que escreveste mas sim tambem pelas minhas acções . Acho o texto lindo.Tudo está certo.
Eu sim nunca me rendi !Nunca parei de QUERER , QUERER E QUERER.
Tu és foste e serás sempre a melhor mãe do mundo!
Contigo ao meu lado consegui ultrapassar o maior obstáculo que a vida me pôs a frente.Contigo tudo fica diferente.Quando estou contigo sinto-me bem e tranquilo.
Sei que nem sempre aceito da melhor forma aquilo que me dizes.Para mim eu é que sei e mais nada!Mas ao longo do tempo venho-me a aperceber que nem sempre as coisas são como nós queremos mas sim como têm que ser. Tudo tem uma razão de ser.
Arrependo-me todos os dias de tudo de mal que fiz até hoje, de tudo o que fiz e que não devia ter feito , de tudo o que disse e não devia de ter dito.
Talvez não tenha tomado a melhor decisão ao não ter ido contigo para lisboa. Mas sempre preferi optar pelo mais facil que era não mudar de vida. Sempre achei que o melhor lugar para mim era aqui , mesmo tendo acontecido tudo o que aconteceu.
Sei que todas as vezes que me berraste e te enervaste comigo , era quando já não conseguias passar a tua mensagem de outra forma.
A maioria das vezes eu penso que eu é que sei e que tu não sabes nada, mas tu sabes mais que eu. Já tens mais anos de vida , e ja te entregaste ao Céu , coisa que eu não fiz.
Ter ido aos cursos fez me muito bem , agora arrependo-me de o ter deixado de fazer. Sinto falta daqueles momentos em que me sentia leve e tranquilo, sem pensar nos problemas .
De tudo o que sinto mais falta é de ti ! Tenho saudades de quando andavamos sempre juntos , íamos aqui e ali , nessa altura eu era feliz! Tenho saudades de quando iamos a praia ,e eu ia a nadar para me agarrar a ti .
Agora cresci e fiz com que muitas dessas coisas acabassem. Tentei tornar-me independente , mas acho que não consegui.Eu ainda preciso dos teus concelhos e do teu ombro amigo.Sei que isso nunca vou perder , mas por agora ainda preciso que me ajudes a orientar-me.
As lágrimas não param de me cair pela cara fora .Só consigo pensar em ti e no teu sorriso.Finalmente consegui expressar o que vai aqui dentro.
Eu sei que tu nunca me abandonaste ! Eu é que te abandonei. Tu tentas-te dar-me uma vida melhor , mas eu é que tomei outro caminho. Sempre te apoiei em tudo tal como tu sempre me apoias-te. Basicamente acho que juntos somos um só.
E é por tudo isto que eu te AMO! Posso queixar-me de muitas coisas menos que tenho uma má mãe porque tu és foste e serás a melhor mãe que eu alguma vez poderia ter !

Beijos
Zé Miguel

(vê a foto que vai em anexo)

Texto "O MEU FILHO" com fotos nossas

Porque não te rendes?
Porque não te rendes à tua impotência?
Porque não te rendes a que não podes fazer mais nada senão amar?


Já eram 16h. Estava na praia desde as 13h. À espera de uma indicação do Céu. Deitei-me encostada a uma pedra, no meu lugar preferido. Abrigado das pessoas, do vento, do frio. E fiquei. Adormeci. Acordei. E falava e voltava a falar com o Céu. Fazia perguntas. Só eu é que falava, porque não obtinha resposta nenhuma. Voltei a adormecer. Voltei a acordar. E ao acordar senti uma paz que achei estranha. A paz era tão grande, como se tivesse sido acordada pela brisa do mar...e o silêncio total, o mar tão calmo...achei estranho porque eu tinha chegado lá muito agitada. Sentia a paz, mas não sentia mais nada. Continuava a não ter respostas nem inspiração nenhuma. Estava disposta a esperar tranquilamente o tempo que fosse preciso. Nem vontade tinha de almoçar. Só queria permanecer em silêncio à disposição do Céu, na esperança de receber algo. As perguntas eram sobre o meu filho.

Até que passadas três horas Jesus perguntou porque não me rendia.

Porque não desistia de querer que o meu filho fosse feliz.

Eu pensava que já me tinha rendido.

Porque querer que ele fosse feliz, foi sempre o que eu mais quis.

Depois de compreender que parte de nós é que quer, é que deseja, achei que tinha deixado de querer e de desejar.

E que me tinha apenas concentrado em tentar ser a melhor mãe que eu sou capaz de ser.

Só que estou sempre a cair na "ratoeira". Estou sempre a querer ser a mãe perfeita. Que para mim é a mãe que consegue que os seus filhos sejam felizes.

Desde que nasceu o meu filho foi sempre a minha maior debilidade. A minha maior fragilidade.

Vivi por ele e para ele. Fiz das tripas coração. Virei-me do avesso. Quando adoeceu, pedi ao Céu que trocasse a vida dele pela minha. Que se isso não agravasse o nosso karma, que transferisse a doença para mim. Que me levasse a mim.

Até que o Céu me explicou. Que eu não podia viver a vida dele. E que tinha que viver a minha. E que isso era o que podia fazer de melhor pela vida dele. E eu prometi.

Na verdade, eu já sabia isso em teoria. E até achava que já praticava. Achava que já tinha a minha vida. Mas só percebi que não, quando ele adoeceu. E em respeito por ele e por mim, avancei com a minha vida. Dei-lhe espaço para escolher, vir comigo ou não. Fazia parte do respeito que tinha que ter por ele. E não quis vir para Oeiras comigo. Nunca pensei que fosse capaz de vir sem ele. E se não tivesse estado em risco de o perder, não teria mesmo conseguido vir.

Além da minha dor, tinha o medo. O medo de me criticarem, de me acusarem de ser má mãe, de abandonar o meu filho. Quando me criticam e acusam, como já têm feito, não sabem da coragem que precisei de ter para fazer o que mais me custava. Uma coragem que eu não pensava que algum dia conseguisse ter. E não imaginam que o fiz por amor. Por amor a ele e a mim.

Eu precisava de continuar a criar a minha vida. Não só de ganhar a vida. Não o tinha ainda conseguido fazer pela responsabilidade que sentia em relação ao meu filho. Pelo medo de que se não estivesse completamente focada nele alguma coisa não corresse bem. Pela necessidade de estar por perto para o ajudar. Para o proteger. Para o orientar. Porque o amava tanto que o que mais queria era fazer tudo para ele ser feliz.

Sim, e ele ficou doente apesar de eu ter estado sempre focada nele. Tinha resultado? Não. Não o pude proteger porque não podemos controlar o que não está ao nosso alcance. A felicidade dele não está ao meu alcance. Quanto a isso só posso fazer a minha parte. E a minha parte é ser a melhor mãe que consigo ser. Amá-lo, apoiá-lo e orientá-lo o melhor que consigo. E serei tanto melhor quanto mais feliz e realizada eu estiver. O resto não depende de mim. Transcende-me. Ultrapassa-me. O resto é com ele e com o Céu.

Tantas vezes, ao viver aqui momentos de felicidade, de repente sentia uma sombra:
Falta o meu filho, não está aqui.
E o Céu: Não está porque não quer. É uma escolha dele e tu não podes fazer nada em relação a isso.

Nunca amei tanto ninguém como o amo a ele. É a pessoa mais importante na minha vida. Toda a dor dele me dói a mim. Profundamente. Gostava tanto que ele fosse muito alegre e muito feliz. Ajudo tanta gente a ser mais alegre e mais feliz. Mas a pessoa que eu mais queria tocar, mais queria ajudar, mais queria que fosse mais alegre e mais feliz, não consigo. Pelo menos, não da maneira que eu gostaria.

E por isso Jesus me perguntou hoje: Porque não te rendes?



("Amo-te filho" foi um quadro com cerca de 100x60cm, em acrílico que ofereci ao Zé Miguel no Natal de 2008, só com fotos nossas. Foi realizado pela minha amiga Ana Catarina Esteves Martins.)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O MEU FILHO

Porque não te rendes?
Porque não te rendes à tua impotência?
Porque não te rendes a que não podes fazer mais nada senão amar?


Já eram 16h. Estava na praia desde as 13h. À espera de uma indicação do Céu. Deitei-me encostada a uma pedra, no meu lugar preferido. Abrigado das pessoas, do vento, do frio. E fiquei. Adormeci. Acordei. E falava e voltava a falar com o Céu. Fazia perguntas. Só eu é que falava, porque não obtinha resposta nenhuma. Voltei a adormecer. Voltei a acordar. E ao acordar senti uma paz que achei estranha. A paz era tão grande, como se tivesse sido acordada pela brisa do mar...e o silêncio total, o mar tão calmo...achei estranho porque eu tinha chegado lá muito agitada. Sentia a paz, mas não sentia mais nada. Continuava a não ter respostas nem inspiração nenhuma. Estava disposta a esperar tranquilamente o tempo que fosse preciso. Nem vontade tinha de almoçar. Só queria permanecer em silêncio à disposição do Céu, na esperança de receber algo. As perguntas eram sobre o meu filho.

Até que passadas três horas Jesus perguntou porque não me rendia.

Porque não desistia de querer que o meu filho fosse feliz.

Eu pensava que já me tinha rendido.

Porque querer que ele fosse feliz, foi sempre o que eu mais quis.

Depois de compreender que parte de nós é que quer, é que deseja, achei que tinha deixado de querer e de desejar.

E que me tinha apenas concentrado em tentar ser a melhor mãe que eu sou capaz de ser.

Só que estou sempre a cair na "ratoeira". Estou sempre a querer ser a mãe perfeita. Que para mim é a mãe que consegue que os seus filhos sejam felizes.

Desde que nasceu o meu filho foi sempre a minha maior debilidade. A minha maior fragilidade.

Vivi por ele e para ele. Fiz das tripas coração. Virei-me do avesso. Quando adoeceu, pedi ao Céu que trocasse a vida dele pela minha. Que se isso não agravasse o nosso karma, que transferisse a doença para mim. Que me levasse a mim.

Até que o Céu me explicou. Que eu não podia viver a vida dele. E que tinha que viver a minha. E que isso era o que podia fazer de melhor pela vida dele. E eu prometi.

Na verdade, eu já sabia isso em teoria. E até achava que já praticava. Achava que já tinha a minha vida. Mas só percebi que não, quando ele adoeceu. E em respeito por ele e por mim, avancei com a minha vida. Dei-lhe espaço para escolher, vir comigo ou não. Fazia parte do respeito que tinha que ter por ele. E não quis vir para Oeiras comigo. Nunca pensei que fosse capaz de vir sem ele. E se não tivesse estado em risco de o perder, não teria mesmo conseguido vir.

Além da minha dor, tinha o medo. O medo de me criticarem, de me acusarem de ser má mãe, de abandonar o meu filho. Quando me criticam e acusam, como já têm feito, não sabem da coragem que precisei de ter para fazer o que mais me custava. Uma coragem que eu não pensava que algum dia conseguisse ter. E não imaginam que o fiz por amor. Por amor a ele e a mim.

Eu precisava de continuar a criar a minha vida. Não só de ganhar a vida. Não o tinha ainda conseguido fazer pela responsabilidade que sentia em relação ao meu filho. Pelo medo de que se não estivesse completamente focada nele alguma coisa não corresse bem. Pela necessidade de estar por perto para o ajudar. Para o proteger. Para o orientar. Porque o amava tanto que o que mais queria era fazer tudo para ele ser feliz.

Sim, e ele ficou doente apesar de eu ter estado sempre focada nele. Tinha resultado? Não. Não o pude proteger porque não podemos controlar o que não está ao nosso alcance. A felicidade dele não está ao meu alcance. Quanto a isso só posso fazer a minha parte. E a minha parte é ser a melhor mãe que consigo ser. Amá-lo, apoiá-lo e orientá-lo o melhor que consigo. E serei tanto melhor quanto mais feliz e realizada eu estiver. O resto não depende de mim. Transcende-me. Ultrapassa-me. O resto é com ele e com o Céu.

Tantas vezes, ao viver aqui momentos de felicidade, de repente sentia uma sombra:
Falta o meu filho, não está aqui.
E o Céu: Não está porque não quer. É uma escolha dele e tu não podes fazer nada em relação a isso.

Nunca amei tanto ninguém como o amo a ele. É a pessoa mais importante na minha vida. Toda a dor dele me dói a mim. Profundamente. Gostava tanto que ele fosse muito alegre e muito feliz. Ajudo tanta gente a ser mais alegre e mais feliz. Mas a pessoa que eu mais queria tocar, mais queria ajudar, mais queria que fosse mais alegre e mais feliz, não consigo. Pelo menos, não da maneira que eu gostaria.

E por isso Jesus me perguntou hoje: Porque não te rendes?

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

LIVRO JÁ CORRIGIDO

Acabei a correcção do livro. Foi sempre corrigido em ambientes tranquilos e energeticamente harmoniosos. Quando tentava corrigir noutros locais, como tentei uma vez na sala de espera de um consultório, enquanto esperava pela minha consulta, recebia imediatamente indicações para parar. Só o podia fazer onde houvesse Luz. Muita Luz. Num tempo e sítios certos. E pronto.




quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O OUTRO LADO DISTO TUDO

Jesus disse-me: Agora vais contar o outro lado.

Contar que na terça-feira, assim que desliguei o telefone depois de falar com a médica do meu filho, foi a Nicole que me abraçou e me disse: Chora, Lindinha, chora! E eu chorei lá das profundezas da minha alma. Nem eu sabia que estava tão assustada. Fiquei no abraço dela até o choro passar.

Depois a Alexandra. Outro abraço. E fez-me uma limpeza espiritual. E enquanto me limpava senti o que sinto sempre que é ela que me limpa ou me faz terapia: a presença de Jesus mais forte do que nunca, de uma forma que não dá nem para descrever. E sinto uma gratidão que não tem fim. Conversamos. Sobre o que Jesus lhe disse quando me limpou. Eu também já tinha estado a conversar com a Nicole. Sabemos o porquê destes sustos. Mas como respondi à Nicole, sei isso, mas também sei que tudo está em aberto, que tudo pode acontecer.

Depois vieram os abraços da Lena, da Tati, do Rui, da Nancy, do Jorge, da Lucia, da Filipa, da Isabel, da Teresa...e a Kleo que não estava, mas que me enviou uma sms que me fez chorar...Todos ajudaram a preparar tudo para que eu viesse o mais rápidamente possível para o Porto.

E pensei, que se de um lado me tiram o tapete, do outro me dão um privilégio enorme:

...

Alto. Vou interromper a escrita. Tenho que ir meditar. Jesus tem algo para dizer.

...

Ora bem. Não sei muito bem como continuar...não contava com esta partida.

Jesus disse-me que antes de eu começar a agradecer a todos, como ia fazer, devo contar que hoje no Céu, na minha meditação, me fizeram uma manifestação de gratidão. Jesus e seres de luz felicitaram-me pelo meu percurso e pelo meu compromisso.

E fizeram-no de uma maneira que me fez lembrar o início do curso de terapeutas. Quando fui à primeira aula a Alexandra anunciou que quem quisesse podia iniciar as aulas de astrologia aos Sábados. Isso implicaria deslocar-me a Lisboa duas vezes por semana. E se uma já era tão difícil para mim, duas parecia ser impossível. Mas dentro de mim sentia que tinha de o fazer. Decidi que sim, que me ia inscrever, que não sabia como ia conseguir mas que ia respeitar o que estava a sentir. E o meu medo foi tão grande que por momentos senti-me a perder o ar e a sufocar. Na aula seguinte a Alexandra tinha redimensionado o curso para ficarem menos alunos na aula dela. Eu tinha ficado. E ela leu um texto que Jesus lhe tinha ditado sobre a forma como o curso ia ficar. E dizia: "Agora sim tens as pessoas certas". Senti uma comoção brutal de que me lembro até hoje. E no exercício de meditação que fizemos nessa aula, o Céu felicitou-me por estar lá, pela minha decisão e pela minha coragem. E mostrou-me que estava a conseguir fazer o que tinha que fazer. Que apesar do medo estava a respeitar as indicações e que por isso estava de parabéns.

Jesus disse-me agora, que se não me tivesse interrompido este texto eu não contaria sobre esta manifestação de gratidão. E que também já me preparava para não contar o que aconteceu no passado Domingo. Tinha percebido que era para contar, mas como é difícil para mim contar estas coisas ia relegar para uma altura que viesse a propósito. E pelos vistos não tem que vir a propósito de nada. É para contar agora. Ou melhor, que é agora que vem a propósito.

Pois...no passado Domingo, no curso nível V, num exercício sobre gratidão, em que é suposto entramos em contacto com a energia das almas das pessoas a quem estamos gratos, Jesus disse-me: É sobre gratidão, mas sobre a minha gratidão por ti. Pelo teu percurso, pelo teu compromisso.

E a conexão foi brutal. E a minha gratidão ainda maior.

E Jesus disse-me agora que era importante contar isto, para que se perceba que esta situação com o meu filho não tem nada a ver com castigos (aliás o Céu não castiga nunca), nem com alguma coisa que eu esteja a fazer mal (o certo e o errado também não existem), e que isto acontece apesar de todo o Amor e gratidão do Céu. Apesar de todo o meu amor e de toda a minha gratidão.

Porque isto é uma proposta da Vida, é uma proposta de evolução. É uma escolha de almas. Para limpar Karma, porque é uma doença kármica, para nos transformarmos e libertarmos, tanto eu como o meu filho. Aprender a viver no fio da navalha. Sem segurança. Sem garantias. Com entrega. Com aceitação. Com fé.

Cresci durante este processo. Evoluí. Transformei-me. Ampliei a minha consciência. Aprendi a verdadeira entrega. Abri o coração. Conheci-me um pouco mais. Conheci o tamanho da minha fé. E mais importante de tudo: conheci a magnitude de Jesus.

Abrir-me para Jesus, deixa-lo entrar na minha vida é algo que não se compara com nada. E foi na minha maior fragilidade, na minha maior vulnerabilidade que se deu a maior conexão. E por isso a minha fé cresceu tanto. No meio do meu maior drama aconteceu o melhor da minha vida. Deixei a dor abrir o meu coração e tenho tentado mantê-lo aberto apesar da dor reincidir. E é aí que está o mérito que podemos ter. Essa coragem de que Jesus me falou, de manter o coração aberto nestas condições.

Este processo trouxe-me outra coisas maravilhosas, como a proximidade e apoio dos meus familiares e amigos.

Que com este episódio me mostraram mais uma vez o seu amor.

E agora sim, creio que posso agradecer a todos.

E agradecer mais uma e outra vez, a Jesus e ao Céu.

E ontem, quando a Lurdes publicou esta música no meu mural, e disse que tinha pegado neste CD na Fnac e percebido que esta música era para mim, eu desatei a chorar...porque é tanto o amor que recebo.

OBRIGADA.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

EM SEGUNDOS A MINHA VIDA VOLTOU A ABANAR

Ontem vim de urgência para o Porto. Aparentemente, alguns sintomas do meu filho seriam graves. Depois de ter telefonado à médica meti-me no comboio. Em segundos a minha vida voltou a abanar. A virar-se. Ou a revirar-se, não sei bem. O meu coração parecia estrangulado. O meu estômago amarrado. É daqueles momentos em que tudo o resto pode desabar, porque o nosso centro já desabou. Como se nada mais interessasse. Esta é a primeira reacção.

No comboio não apetecia ouvir música, nem ouvir conversas, nem ler, muito menos falar. Fechava os olhos à procura duma conexão, dum eixo, de algo que me puxasse para muito dentro ou para muito fora de mim. Fui lá para o fundo. O fundo do mais fundo do meu peito. Onde afinal havia luz. Havia paz. Fiquei ali. Percebo que nestes momentos não sou capaz de mais nada. E é bom que não seja. Nem de pensar, nem de sentir. Só ficar ali. Não pensar no que pode acontecer, não pensar no que tenho de fazer. Só aceitar. Aceito. Aceito o momento. Aceito a vida. A minha vida. Este momento é assim. Este momento é triste. E eu aceito. Não podia ser de outra maneira. Não adianta pensar que podia ser de outra maneira. Porque não podia. Mais para a frente poderá ser diferente. Mas agora não. Agora é para passar por isto. E passo. Com os olhos fechados sinto a paz da aceitação. E em paz, entrego. Entrego pela enésima vez. Será como tiver que ser. Eu só tenho que fazer a minha parte. E faço. Tento fazer.

Chego ao Porto. Sinto uma enorme calma quando estou com o meu filho.

Hoje chegamos ao IPO às 10.15h. Tinha ficado de lá estar entre as 10,30h e as 11h.

Sentamo-nos na salinha de espera. Atrás de mim um menino de voz muito suave dizia: " Não percebo porque é que quando respiro me dói tanto o peito..." As lágrimas saltaram-me logo. E a partir daí praticamente não pararam. Passado um bocado tentei olhar para trás disfarçadamente para ver a cara dele, devia ter uns 10 anos e estava de máscara e capuz pela cabeça. Pisquei-lhe o olho e ele piscou-me de volta. Que querido...Tão querido que depois o vi a fazer festinhas no cabelo da mãe. Acho que foi o primeiro menino que vi a fazer isso por ali.

O tempo ia passando. Meninos iam entrando e saindo. Sentou-me o Gonçalo de uns 3 anos, ao meu lado. Ou melhor, sentou-se a mãe porque ele ainda estava na cadeirinha de rodas. Completamente careca. A mãe insistia que ele desse uma trinca na banana. Ele não queria, chorava. Lamentei que mãe insistisse, porque se estava mesmo a ver o que ia acontecer. Deu duas trincas com muito custo. E vomitou. E a mãe dizia que ele ou não come, ou se come vomita. Conheço isso. Às tantas, ele já aconchegado numa manta pedia: Quero soro! E mãe disse que ele pede soro porque é a única coisa que não vomita...E que antes de vir já tinha vomitado três ou quatro vezes em casa. E as lágrimas continuavam a saltar-me.

Entrou uma jovenzinha. A primeira com cabelo comprido, que eu via ali. Estranhei. Mas era uma cabeleira, com corte moderno. A seguir entra outra rapariguinha. Também com cabeleira, mas trazia um capuz cinzento por cima, de um poncho ao estilo capuchinho vermelho. A pele também estava acinzentada. De máscara posta, e olhos assustados. Mais lágrimas a saltarem-me.

Uma pequenina de uns dois aninhos estava sempre a entrar e a sair da enfermaria com os pais. Devia estar a fazer algum tratamento que implicasse ser injectada de x em x tempo. Quem tinha olhos de assustada era a mãe.

De pé, encostadas à parede algumas mães conversavam enquanto bebiam o café que as voluntárias distribuem. Uma delas dizia a rir e a tentar fazer as outras rir, que já estava a pensar no sexo que ia fazer logo à noite, porque é o que se leva desta vida. Que não se pode estar a pensar em coisas tristes.

E eu a pensar que por isso tenho tão pouco a falar com grande parte destas mães, que falam de tudo menos do que realmente importa. Que falam das enfermeiras...e dos médicos...porque este é assim e aquela é assado...Nunca jamais em tempo algum eu comentei o que quer que fosse de alguém que lá trabalhe. Lembro-me sim, de um dia ter pensado: "Como é que esta enfermeira entra neste quarto com meninos neste estado com este tom agressivo? Quem é que ela pensa que é?" Para no mesmo minuto pensar: "Então é melhor que penses primeiro quem és tu para atraíres estares nesta situação, ainda por cima com uma enfermeira agressiva. Fica lá triste, em vez de ficares irritada." E fiquei. Fiquei triste por todo o desconforto da situação. E tentei perceber se depois de ficar triste em vez de irritada ainda tinha alguma coisa para dizer à enfermeira. Já não não tinha. E ela já estava doce.

De um modo geral eu tenho uma tal gratidão por todos os que assistiram o meu filho que na verdade gosto de todos. Mesmo que não sinta empatia, eu gosto.

E por isso me afastei sempre das outras mães. Porque não tinha o que conversar. O que criticar. E também não as queria criticar a elas por criticarem. Elas estavam a fazer o melhor que podiam e sabiam e eu também. Só estavamos era em vibrações diferentes. Às vezes pensava se em vez de me afastar não lhes podia dizer alguma coisa que as ajudasse. Mas imediatamente me dava conta que estava ali para me mudar a mim e não para mudar ou ajudar os outros. E a propósito das outras mães, hoje lembrei-me de uma vez a Alexandra me ter dito, quando o Zé Miguel estava internado, que eu era muito corajosa. E eu ter respondido: Mas ali todas as mães são corajosas. E a Alexandra retorquiu: Sim, mas não têm a tua consciência.

As horas foram passando e daquelas 40 ou 50 pessoas que lá estavam,entre pais e filhos, muitas foram sendo atendidas e iam embora. O Zé Miguel já desesperava e dizia que ia embora também. Estava em jejum e já eram quase 15h. Apesar de hoje não ter consulta marcada já aconteceu noutras ocasiões ser atendido a esta hora. Impaciente mas meigo, nunca deixou de me dar abraços, e fazer festinhas.

Atrás de mim uma mãe contava que o filho não parava de sangrar e por isso teve que chamar a ambulância para vir a correr.

Até que ficamos nós, uma menina de uns 12 anos, muito magrinha de cadeira de rodas, que acabou há poucos dias os tratamentos, com a mãe, e uma senhora que parecia ser indiana com o filho que tinha o lado esquerdo da cara como uma bola.

A senhora indiana dizia que ainda não tinha feito lá um reclame porque era a primeira vez que lá ia mas que não se admitia estar à espera de será tendida até aquela hora. A outra senhora dizia que já tinha feito muitos reclames (reclamações com espectáculo, foi assim que entendi o reclame a que se referiam) mas que não adiantava nada. Que o filho tinha aquele abcesso há 7 meses e não sabia o que era, E que agora tinham encaminhado para ali. E a mãe da menina dizia que aquilo não era abcesso nenhum, que tinha que ser outra coisa, e que pedia desculpa por estar a dizer aquilo, mas que quando se era mandado para este lugar, se estava logo a ver o que era. Enfim. Já não basta o que basta para ainda se estar a ouvir um diagnóstico de uma pessoa que apesar de tudo é leiga.

Finalmente o Zé Miguel foi chamado. A médica quis falar com ele a sós. Achei bem. Até ia propôr isso mesmo. Depois falou comigo. Que afinal lhe parece que ele está bem. Que se os sintomas fossem consequência de neoplasia ele não estaria com aquele aspecto. E que confia que o resultado das análises vai confirmar isso e que basta fazer outros exames no final do mês.

Relaxei. E já lhe pude dizer como ela está bonita. Como o cabelo dela ficou forte depois da quimio.

E por falar em médicos que que sofrem da mesma doença, hoje também vi a Dra. Susana, a psicóloga que atendeu o Zé duas vezes (não atendeu mais, nem ela nem nenhuma outra porque ele não queria, dizia que a psicóloga dele era a mãe) e que teve um bebé que aos três meses foi internado para fazer quimio.

Saímos já às quatro da tarde. Às sete voltamos lá para levantar justificação para a escola do Zé, de que nos tínhamos esquecido. Já estava noite. E a última vez que tinha chegado ao IPO à noite, foi às 5h da manhã. Quando ele ficava com febre e tínhamos que ir disparados para lá, porque eram infecções e pior do que chegar a essa hora era sabermos que ia ficar em isolamento. Aconteceu umas três vezes chegar lá com ele de madrugada. Sozinhos. Eu e ele. Deixava-o à porta com a mala enquanto ia estacionar o carro. Corredores e elevador em silêncio. Quase tudo escuro. Só as enfermeiras que o atendiam e começavam a fazer a recolha de sangue para análise é que estavam acordadas. Depois dos primeiros exames feitos é que íamos para o quarto. Tempos difíceis.

Hoje são outros tempos.