segunda-feira, 10 de junho de 2013

O CAMINHO DE SANTIAGO ou THE WAY


E foi ao fim do quarto dia. Não do sétimo, mas do quarto.

Estou doente, ou melhor, estava, porque já estou muito melhor, mas como dizia, estava doente desde quinta-feira, ou seja, hoje Domingo, é o quarto dia desde que adoeci.

Há muito que sabia que ia adoecer, não sabia era quando nem com o quê. Há muito que ouvia a recomendação do Céu para abrandar, caso contrário ficaria doente. E andava atenta aos meus sintomas para tentar perceber quando teria mesmo que parar. Há praticamente oito dias, no Sábado, dia 01 de Junho, caí. Dei um grande tombo e feri-me nas pernas e muito no pé direito. Achei estranho que da forma que caí não tivesse magoado os braços e a cara. Nem assim percebi o sinal. Não podia andar, era para parar. Mas ignorei. Estava à espera de me sentir a adoecer, não de um tombo. E continuei a andar, a coxear, com o pé todo ligado, com dores, mas sempre a andar. A fazer exactamente o que eu aconselho a que não se faça: a esforçar e a contrariar os sinais. Porque por mais absurdo que seja, é-me mais fácil lidar com as consequências do que respeitar os sinais quando envolvem responsabilidade para com os outros.

Só que a vida não brinca. E como Jesus me disse hoje, se há pessoa que sabe que a vida não brinca, sou eu. Quer dizer a vida até brinca connosco, e muito, mas não quando tem que nos ensinar.

Ainda assim me espantei quando na quinta-feira acordei com vómitos. Não me lembrava de ter comido nada que pudesse ter causado isso. Tudo tão repentino. E até ao fim da manhã surgiram todos os sintomas da doença. De origem viral, precisava de dieta e repouso. Só aí me "caiu a ficha". Repouso. E deixei-me ficar de cama até hoje. Porque percebi que afinal estava era esgotada. Dormi de dia e de noite. No início de cada noite pensava: é hoje que não vou dormir por ter dormido o dia todo. Mas não. Dormia até de manhã. E voltava a dormir de dia.

Apesar de perceber que precisava de descansar não sabia bem o que me estava a acontecer. Deixei-me ficar.

Janela do meu quarto (Rebordosa)
E foi só hoje, ao fim do dia, que Jesus me veio buscar. Enrolou-me numas asas, as minhas, e levou-me ao colo.

"As tuas asas hoje são só para te cobrirem, não vais fazer nada com elas porque vamos ser Nós que vamos cuidar de ti."

E chegamos a um lugar que tinha uma aspecto, literalmente, de céu. Com chão em nuvens. Aquelas imagens clássicas que vemos do que será o céu onde estão os santos e anjos. E alguém, que eu não sei quem, começou a tratar dos meus pés. Como se me aplicasse um bálsamo.

Já tenho vivido emoções muitíssimo intensas, muitas sensações de êxtase, de unidade, mas a emoção de hoje foi nova.

Parecia que o amor e carinho eram maiores, se possível.

E então Jesus explicou-me muita coisa. Lembro-me de chegar a um ponto em que deixei tentar de reter a informação, e concluí, mais uma vez, que guardar o que fosse mais importante. Ou não. Mas pelo menos o que fosse importante manter a nível consciente.

Lembro-me de que um dos momentos mais intensos foi quando me levou de volta à Catedral de Santiago. Mais precisamente a uma pequena capela interior no interior da Catedral, que, salvo erro, se chama Sagrado Coração de Jesus. Foi lá que tive a primeira catarse, de que me lembre. Deve ter sido há cerca de 13 anos, o meu filho era ainda pequeno. Dessa vez, quando lá entrei senti uma comoção tão forte que caí de joelhos e em pranto. Um pranto inexplicável e interminavel. Na altura não sabia o que me estava a acontecer e só percebi quando li o livro "Voo Sensitivo", da Alexandra. Hoje Jesus fez-me sentir de volta a esse lugar, na companhia d'Ele e confirmou que o que me aconteceu naquele dia foi ter sentido a presença d'Ele.

Hoje levou-me lá para me explicar porque é que últimamente tenho sentido tanta vontade de lá voltar e até de lá ir como peregrina a pé. Já confidenciei isso com algumas amigas, e a Manuela R. até me desafiou para irmos lá um Sábado, que ainda não se proporcionou, porque as nossas permanências no Porto não têm coincidido, e a minha mãe também já me propõs o mesmo. As minhas grandes surpresas foram quando o meu irmão foi lá de bicicleta nesta Páscoa, e quando três grandes amigas minhas iniciaram a caminhada por etapas de forma a lá chegarem no próximo Julho.

Curioso é ter recebido a indicação para procurar a música do filme "The Way", que é sobre esta peregrinação e que representa muito para mim pelo seu conteúdo e pela pessoa ao lado de quem o vi. E estava a ouvir esta faixa quando fui levada à catedral.



E foi lá que Jesus me explicou que o que me estava a acontecer era que estava a sentir-me como se tivesse chegado ao fim de uma peregrinação. Como se tivesse chegado lá depois de uma grande caminhada, a pé. E que este esgotamento e esta exaustão era o que eu sentiria se fosse lá a pé. E que o ferimento no pé além do sinal para parar, era também simbólico, pelos ferimentos dos peregrinos. E que o caminho, como sabemos, é interior. E por isso nunca antes me tinha passado pela cabeça fazê-lo, porque sabia que o estava a fazer onde ele precisa de ser feito, dentro. E que toda a vontade de fazer essa peregrinação, agora, era simbólica. Era mais a vontade de caminhar sózinha na natureza e de me manter em estado de conexão.

"Conectada já tu estás, a maior parte do tempo. Este caminho já o fizeste. E foram muitos anos a fazê-lo. Até em trânsito tens estado, sempre. Agora podes descansar, e por isso estamos a cuidar de ti, como quem cuida de um peregrino."

E assim soube que afinal, o que eu esperava fazer, está feito. Outras caminhadas virão, porque a própria vida é, em si, um caminho.