terça-feira, 24 de julho de 2012

OS FANTÁSTICOS LIVROS VOADORES DO SENHOR LESSMORE

A minha amiga Lurdes Jóia acabou de me enviar este lindo vídeo que me enterneceu e deixou a chorar...

Quando me tocam especialmente gosto de partilhar também aqui, e transcrevo a dedicatória dela, que só por si, já é uma beleza.


"Uma animação profundamente sensível da vida que os livros ganham e carregam. Vida e leitura transitam juntos atravessando a existência daqueles que lidam com eles e os deixam pousar em si mesmos e que se encantam em lhes dar vida, seja pela leitura ou pela escrita.
Para ti..."



domingo, 22 de julho de 2012

SAUDADES E AMOR

Estou no Porto há duas semanas e tenho a sensação de estar há dois meses. Nunca tive tantas saudades de Lisboa, ou melhor de Oeiras. Que agora até é de Algés. Logo na despedida da Lena e do Rui, já foi difícil. Nenhum de nós estava a compreender porque é que estava a ser tão difícil para todos. E só de estar a escrever já estou muito emocionada. Sempre que penso: vou ligar à Lena só para ouvir a voz dela e dizer-lhe a ela e ao Rui das saudades que tenho, ela liga, e vice-versa. Mantemo-nos em sintonia, apesar da distância.

Não estar lá no Optimus Alive, em que se ouviam em casa todos os concertos e um dos ecrãs gigantes dava directamente para a nossa varanda, foi especialmente difícil para mim. Tinha cá o meu filho a recuperar da operação e ir para Algés, nem que fosse só por esse fim de semana, estava fora de questão. A Lena ligava-me para eu ouvir através do telefone o som que se ouvia na nossa casa, e contava-me que o Rui estava a fotografar tudo para depois me mostrar. Mas segundo eles me disseram, a confusão à porta de casa era tão grande, tantos milhares de pessoas pelas ruas, que eles fugiram para o barco deles.

E por falar em barco, dias depois da operação do meu filho, numa meditação, Jesus mostrou-me a imagem do meu barco de luz estar a chegar a um porto, onde muitos outros barcos o esperavam. Como se estivesse a chegar a um lugar seguro, a um porto de abrigo. Mais tarde explicou-me o significado daquela imagem. É que estava mesmo num porto seguro, que é, literalmente, o Porto. Que foi onde passei uma prova dura, com a operação e difícil recuperação do meu filho, mas onde ao mesmo tempo tinha a minha família e a maior parte dos meus amigos para me apoiarem.

Explicou-me também que fui trazida para o Porto, para viver um amor. Que fui trazida ao colo e posta ao lado dele (literalmente) e me fizeram tropeçar nele (quase também literalmente), para que não tivesse dúvidas que eram eles (o povo de Céu) que estavam a tratar de tudo. Que estava na hora. Que já tinha vivido a desilusão. A desmontagem das minhas expectativas. Das minhas e das que me foram criadas. Já tinha passado pela traição da confiança. E que estava pronta para um novo tipo de desafio. Agora com mais transparência. E menos expectativas.

Antes desta explicação, quando falava com a Lena dizia-lhe que não estava a perceber porquê de tanto tempo no Porto, mas que também ainda não tinha perguntado a Jesus. A resposta d'Ele foi surpreendente. Como a Vida.

sábado, 21 de julho de 2012

TRIBUTO 2 À VÂNIA

Conheci a Vânia no segundo ano da faculdade. Rápidamente nos tornamos amigas. E os nossos namorados também. Ao longo dos anos tornámo-nos grandes amigas. E os nossos namorados, entretanto tornados maridos, também. Até hoje. A Vânia e o Chico sempre foram presenças muito fortes e constantes na minha vida. Há poucos dias estiveram a jantar em minha casa com outros amigos e lembramos o que já nos divertimos juntos. Quase que é difícil acreditar como nos divertíamos tanto. Faziamos a festa e deitavamos os foguetes (por acaso há dias, o Chico até lançou, literalmente, os foguetes). Duas leoas, não precisavamos de muito para saltar para cima das mesas e dançar. O Chico lembrou uma vez (eu já não me lembrava) em que a Vânia amolgou o capô do carro de outro amigo, porque dançou lá em cima. O Grove e o Gerês serão para sempre locais que ligaremos à nossa amizade, tantos foram os fins de semana e férias lá passados durante anos.


E ontem era preciso levar o meu filho à urgência de um hospital. Fiz alguns telefonemas para confirmar se era mesmo caso de o levar à urgência, e era. Um hora da madrugada. E a Vânia, que estava a par do que se estava a passar, fez absoluta questão de ir connosco. Quando insistiu sem me dar hipótese de não aceitar, comecei a chorar. Porque foi um conforto tão grande, incomensurável, ter a minha amiga comigo. Sugeriu que fossemos ao hospital de Alfena, que foi inaugurado há apenas 6 meses.

E quando lá chegamos, já quase às duas da madrugada, espantamo-nos porque nem parecia um hospital, parecia mais um hotel...tão moderno, rodeado de pinheiros, muito bem ajardinado...o Zé ainda fez umas piadolas como se fossemos passar férias...

Felizmente não era nada de grave, tudo indica que será apenas uma virose.

O médico era extremamente simpático e todo o ambiente era diferente do que eu costumo encontrar nos hospitais. Foi o primeiro com música pelos corredores e nos gabinetes.

Também foi a primeira vez que alguém entrou comigo para uma consulta com o meu filho, a não ser o pai dele. Em lado nenhum seria permitido. Ali autorizaram, sem problema nenhum, a Vânia a entrar connosco.

E foi tudo infinitamente mais fácil só porque ela estava presente. Há tempos Jesus mostrou-me a importância de alguns amigos na minha vida (que felizmente são muitos e verdadeiros, o que não é comum e é das grandes bençãos da minha vida porque sei que estão incondicionalmente comigo e tenho incontáveis demonstrações disso). Mostrou-me como a Vânia foi a primeira a visitar-me em Oeiras. Foi ela que me ajudou a fazer a mudança e passou lá comigo o primeiro fim de semana. Foi ela a primeira pessoa a visitar-nos no hospital há 15 dias, no dia seguinte à operação do meu filho.

Por isso, lhe agradecia tanto ontem. Por isso gosto tanto dela. Gosto de todas as minhas amigas e amigos, conheço-os bem e sei que seriam capazes de fazer o mesmo por mim. Mas ontem o Céu abençoou-me com a grande amizade de dois amigos que fizeram com que o meu dia, apesar de tudo, fosse lindo.

E também por isso, presto aqui o segundo tributo à minha amiga Vânia :)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

APARÊNCIAS

Estava numa fila de trânsito e a reparar no carro à minha frente. Familiar e já um bocado antigo. Que "aparentemente" em nada condizia com o rapaz que o conduzia. Perguntei-me como se sentiria ele naquele carro. Se se identificava com ele ou não. Se se sentiria julgado em função dele e se isso seria indiferente para ele ou não. Felizes os que não são condicionados pela opinião dos outros.

E os que se importam com a opinião dos outros? Estão a sujeitar-se a uma opinião de alguém que tem opinião. Que acha alguma coisa. Neste caso, concreto, que julgará a pessoa pelo carro. Pelas aparências. Então, muitas vezes estamos a preocupar-nos com o opinião de quem julga. De quem acha que uma marca ou modelo de carro é importante. De quem avalia pelo que se tem e não pelo que se é. E porque havia uma opinião dessas de nos afectar ?

Estava tão absorta nestes pensamentos que nem me dei conta que ele já não estava à minha frente mas na fila ao lado e a par de mim. Tanto ele como a namorada (seria?) estavam com o pescoço esticado, a espreitar para mim. Fiquei surpreendida. Porque estariam eles a olhar? Depois achei que devia ser por causa do tipo e volume da música. Também devem ter achado que a música não condizia comigo...e ri-me.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

NEW LOOK

Que era para alterar a foto. Colocar esta. Mostrar mais. Já não são só os olhos.

Bem sei que já publiquei aqui algumas fotos minhas. Mas a imagem do blogue eram só os olhos. Que na verdade já mostram muito e tinham um significado implícito. Serem o espelho da alma. E aqui é suposto que eu vá mostrando a minha alma, à medida que a vou descobrindo.

É isso que ainda me assusta. A exposição. É por isso que quase parei o livro. Estou a fazer o mesmo bloqueio que fiz no início em relação ao blogue. Assusta-me divulgar mais. Mas tem de ser. Jesus deu-me o exemplo dele. Quando esteve na Terra assumiu quem era. Até às últimas consequências. Estou muito longe, a anos luz, desse exemplo. Mas já fiz muita coisa que me parecia impossível. Já me expus mais do que algum dia pensei ser capaz. E à conta de ter que me expôr descobri a coragem para o fazer. E assim descobri mais um pouco de mim.

Esta foto foi tirada há três dias em minha casa, pelo filho da minha amiga Catarina (de quem já aqui falei, no texto "A minha amiga Ana Catarina"). Estar com ela é das coisas boas e divertidas da vida. Não podia imaginar que esta foto viria aqui parar. Ainda por cima tirada pelo Afonso que eu adoro, tanto como ao irmão João, e que no caminho para casa disse: "Mãe, eu gosto tanto da Cristininha..." Eu respondi que ele disse isso porque sente e sabe, porque lhe digo e mostro, o quanto gosto dele. De verdade. Amor gera amor.

sábado, 14 de julho de 2012

PRENDA

Há dias voltei a publicar o texto "A vida fala connosco de muitas maneiras".

E ontem, quando vinha a conduzir ao fim do dia, na viagem de regresso do trabalho, feliz por saber que ia encontrar o meu filho já em casa, senti uma comunicação de Jesus muito forte e emocionei-me muito. Disse-me para ligar o rádio e ouvi uma música que nunca tinha ouvido na vida, com uma letra que era o que Ele me queria dizer. A música era linda, a voz ainda mais. A comoção foi fortíssima. Não cheguei a saber quem cantava, nem sequer reparei em que estação é que estava.

E fiquei a pensar nisto de Jesus falar connosco de muitas maneiras.

Hoje de manhã, quando ia a conduzir para o Porto, voltei a pensar nisso. Voltei a comover-me.

E ao principio da tarde conheci uma senhora. Que me contou um sonho que teve. Com Jesus. Assim que ela me começou a descrever o sonho, senti a energia de Jesus fortíssima e percebi que estava a comunicar comigo. Como se o sonho da senhora tivesse uma mensagem para mim. E a água começou a embaciar-me os olhos.

E conta-me a senhora:

- No fim Jesus disse-me: "Toma, isto é para ti, lindinha." E entregou-me algo em luz, que eu não sei o que era. E também nunca percebi porque é que Ele me tratou por lindinha.

As lágrimas cairam-me. Lindinha é como me tratam no trabalho. Mas a senhora nem sequer sabia o meu nome. E eu não fiz qualquer comentário, óbviamente.

Uma hora depois, quando nos estavamos a despedir a senhora pegou-me na mão e perguntou:

- Desculpe, como se chama? Acho que não sei o seu nome, ou então não me lembro...

- Olinda.

- Olinda?

E deu uns passos no sentido da porta. Voltou para trás.

-Desculpe, é que estou a achar que tem a ver com a expressão lindinha, de Jesus...

Sorri. E respondi que no trabalho me tratam por Lindinha.

Voltou a caminhar na direcção da porta. Virou-se outra vez : -Estranho...há aqui qualquer coisa...mas não sei o que é...talvez seja para ser descortinado mais tarde...

E saiu.

Para mim era nítido que entre outras coisas, que o Céu me estava a entregar uma prenda. Só ainda não sabia qual era.

Assim que a senhora saiu peguei no telefone para ligar ao meu afilhado João, como combinado. Tinhamos previsto encontrarmo-nos para um abraço antes do seu regresso aos EUA, porque a sua passagem tão fugaz por Portugal e a convalescença do meu filho não davam tempo para mais. E, sem que eu pudesse contar com tal, ele, a Mariana e os filhos foram jantar a minha casa. Jantarmos juntos outra vez, desfrutarmos de um serão completo, foi a prenda que o Céu tinha para mim. E que prenda maravilhosa!



Foi uma enorme felicidade. Enorme. Para mim e para o Zé Miguel.

E adorei os golfinhos. E o mocho :)

PS. E agora, ao olhar para a fotografia lembrei-me que estava a usar a pulseira que há anos eles me trouxeram do México, e os brincos que a Mariana me fez (os mais originais e elogiados que tenho). E que os tinha colocado hoje propositadamente...ainda sem saber que iríamos tirar esta foto...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

6º DIA

Alta. At last.

Depois de uma noite angustiante em que o Zé Miguel não conseguiu dormir e uma notícia pela manhã de que podia não ter alta antes do fim de semana, finalmente a comunicação ao fim da tarde: "Vamos tirar-te os drenos porque vais ter alta."

Hoje estive todo o dia a trabalhar. Foi o primeiro destes últimos seis dias, que não fui ao Hospital. Mesmo assim, ouvi as duas músicas que tenho ouvido desde Sábado.

Todos os dias à ida e à vinda, ouvia as mesmas duas músicas. De um CD que o meu filho gravou há anos, e que por o ter encontrado no porta-luvas, meteu no leitor de CDs quando estavamos a caminho do Hospital, no Sábado. Como eu não gosto muito de ouvir rádio (com raras excepções como o "SMOOTH FM") porque não tenho paciência para a maior parte das músicas que passam e muito menos para a publicidade, acabei por ouvir sempre este CD. E as músicas que eu repetia eram estas duas, que estavam gravadas uma a seguir à outra. Embora soubesse quem as cantava não fazia a mínima ideia dos títulos destas faixas. Só fiquei a saber agora, ao procurá-las no Youtube.





O Zé Miguel está aqui em casa, feliz por um lado, apreensivo por outro. Começamos hoje uma nova etapa. Juntos.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

5º DIA

Dia igualmente difícil. O Zé Miguel continua internado. Voltou a reagir mal à notícia de que não ia ter alta. Sente-se a reviver o internamento no S. João, em que a alta era adiada todos os dias. Fiquei arrasada numa primeira fase. Mas quando nos despedimos já estávamos os dois tranquilos. O médico assegura-nos que não há nenhuma gravidade. Pelo caminho de regresso a casa até parei junto ao rio Ave para tirar uma fotografia,
e quando voltei a entrar no carro, respondi à Madalena, que me ligou (uma das grandes e boas surpresas, este reencontro com a Madalena depois de vinte anos sem nos vermos) que já me sentia bem ao ponto de estar a fotografar.

Esse caminho por onde vim, foi outra surpresa. Descobri-o naquele dia em que me perdi. Enquanto andava perdida, não sei como nem porquê, fiquei com a sensação de que tinha dado com um caminho que me levaria directa ao hospital. Só que como lá fui ter perdida, achei que nunca mais daria com o caminho. Não é que dei? E a grande surpresa, foi que depois de entrar na via rápida que passa junto à minha casa, só tenho que virar uma vez à direita e outra à esquerda, e estou a rua do hospital. Que fica a mais de 40Km, e por bandas que eu nunca visitei na vida. Encontrar este trajecto, por mero acaso (que não existe, já sei) que é praticamente a direito, foi mesmo uma grande surpresa.

Também foi ao fazer este trajecto, ontem de manhã, que descobri que perto do hospital afinal havia um parque de merendas. E fui procurá-lo na hora de almoço, em que no hospital não são permitidas visitas.

Dei então com o parque de merendas mais caricato que vi na minha vida. Era mesmo só isto:





Até me ri.








Mas à custa de andar atrás do parque de merendas,entrei numa quinta linda,


www.quintavilaverde.com.pt


Andei por lá à vontade. Só um funcionário que se cruzou comigo me perguntou se eu andava à procura do cão...


...mas o que encontrei foram cavalos...

terça-feira, 10 de julho de 2012

4º DIA

Dia triste. Zé Miguel não teve alta (nenhum motivo de gravidade) e reagiu muito mal (tem medo que se repita a situação do apêndice).

Lamentei que o Sr. Joaquim se tivesse despedido em lágrimas, no meio da notícia do Zé. Ao contrário, ele teve alta hoje e só contava ter daqui a dois dias.

Estou muito cansada e triste, como se tivesse sido apanhada por uma tempestade súbita e violenta.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

3º DIA

Vim do hospital extremamente cansada. Apesar do Zé Miguel se sentir muito melhor, a presença de mais dois rapazes no quarto, com 16 e 18 anos, tornou o ambiente mais pesado.

O que é natural, porque foram operados hoje, estão desconfortáveis, não queriam estar ali, tinham dores e muita fome. Um até dizia que hoje era capaz de comer um porco. Já para não falarmos da preocupação das mães que estavam com eles.

O Zé Miguel sempre que olhava para mim perguntava o que é que eu tinha, porque o meu aspecto revelava como me estava a ser muito difícil tornar a energia mais leve. Embora estivesse sempre de olhos abertos, houve um momento em que tentei ser mais eficaz e fechei os olhos, mas o Sr. Joaquim deu-me um berro. Pensou que eu estava a dormir e meteu-se comigo: "Então que é isto? Dormimos a esta hora?" Resignei-me à minha condição de desvantagem.

E no caminho de regresso para casa comprovei o estado em que eu estava. Enganei-me no trajecto. Andei uns 20 minutos perdida. Acontece sempre, sempre, que estou energéticamente mais carregada. Ao contrário, de manhã, quando ia, sentia-me tão leve e conectada, que me deixei teleguiar. Fui por um trajecto completamente desconhecido para mim, passei por estradas onde nunca tinha passado na vida, e fui ter pertinho do hospital e mais rápido do que pelo trajecto conhecido. Assim que vi que tinha chegado lá sorri abertamente. Adoro fazer isso. A Kleo até diz que eu tenho um GPS incorporado, porque me viu ir direitinha a sítios por intuição.

Quando finalmente encontrei o caminho, pus-me a pensar em como foi o dia, e afinal tudo se resume a confirmar o tamanho do meu amor pelo meu filho. Que na verdade, espero que não tenha tamanho, que não seja limitado. Que seja infindável. Durante todo o dia reparei em como ele estava a lidar com a situação. Conformado e a lidar com as dores com toda a naturalidade. Cheio de drenos e em estado fisicamente muito desconfortável, ficou resignado quanto à possibilidade de não ter alta amanhã. A achar que nada tinha importância. Trocava piadas com o Sr. Joaquim. Desafiado por ele foi convidar as senhoras do quarto do lado para uma sueca.

Eu que sou testemunha do percurso dele, fiquei realmente estupefacta com a coragem que ele demonstra. Já disse isto e repito: não acredito que eu tivesse a coragem dele.

Mais uma vez senti que o meu filho é o meu herói. E enquanto escrevia estas linhas enviei-lhe uma mensagem a dizer isso mesmo. Que ele é o meu herói e que o amo de paixão.

E ele respondeu agora, com várias mensagens que me voltaram a deixar siderada. Revelam uma ampliação de consciência desde que me escreveu aquele mail que aqui divulguei...Revelam um amor surpreendente, e que é, sem dúvida, o melhor que tenho na vida...são as mensagens mais lindas e importantes que recebi na vida... Estou em choque de emoção. Não sei que mais dizer...e estou imensamente feliz. E tudo vale muito a pena.

2º DIA

- "Obrigada por toda a sua atenção, Sr. Joaquim."

Foi assim que me despedi hoje, ao fim do dia, do companheiro de quarto do meu filho.

De manhã quando entrei e me pareceu que estavam os dois a dormir mantive-me em silêncio a olhar para a palidez do meu filho. De repente o Sr. Joaquim levanta a cabeça, e diz-me:

-"O filho da senhora tem passado muito mal. As enfermeiras têm andado todas de volta dele."

Já ontem quando saí, tinham ficado quatro à volta da cama dele.

Disse-me o meu filho mais tarde, que o próprio Sr. Joaquim, além de chamar as enfermeiras, se tinha levantado da cama dele, com as duas canadianas, para vir ajudá-lo. Porque quase desmaiou por várias vezes.

O Sr. Joaquim, com cerca de 60 anos, foi operado a uma rótula e já é a quinta vez que é internado neste hospital. O que mais me surpreende nele são os seus óculos, super modernos. Modernos, e de bom gosto. Como nunca vi nenhuns. E que contrastam com a sua forma de falar. Contou da operação de alguem à "tirone" e ao "estomo". Diz uma palavra, um palavrão. Mas gosta-se dele. É atencioso e boa gente. Ele e o meu filho já combinaram jogar às cartas e amanhã até vou levar um baralho. Dizem que faltam dois parceiros para jogar à sueca e que vão ter que convidar duas enfermeiras...

Só estão o Zé Miguel e o Sr. Joaquim, embora seja uma "sala" de quatro camas. Ontem esteve também um menino de 14 anos. Entrou para o quarto ao mesmo tempo que o Zé Miguel mas foi operado logo no início da tarde. Quando o via a sair para o bloco operatório é que percebi que ele práticamente não tinha mão esquerda, tinha só 3 dedos, que saiam pouco abaixo do cotovelo, e depois a mãe disse-me que na mão direita também só tinha três dedos. Quando nasceu o médico disse à mãe que era uma menina. Depois é que veio uma enfermeira dizer que era uma menino e que tinha uma mal formação grave nas mãos.

Quando o vi hoje a ser levado para o bloco senti-me tão impressionada e tocada que me dediquei logo a tratar da energia que envolvia toda a cirurgia. Percebi que a malformação dele estava em grande parte relacionada com uma vida passada com a que é hoje irmã dele. Uma menina linda de 6 anos, a quem ele tinha estado sempre agarrado enquanto esperava ser chamado e de quem é inseparável, pelo que a mãe me contou.

Sem ede nada, a mãe aproximou-se de mim para comentar que estava a achar estranho que a cirurgia estivesse a demorar tanto. Estava muito preocupada. Era a quinta operação desde que nasceu. E sem que eu lhe perguntasse, começou a contar-me tudo. Que o filho lhe pedia todos os dias uma irmã. Não era um irmão, era uma irmã. Queria muito, muito, uma irmã. Mas ela tinha decido não ter mais filhos com medo que nascesse com alguma malformação, como ele. Só soube que estava grávida da filha, aos cinco meses de gravidez, porque a continuação do período não a tinha levado a desconfiar de nada. (Como tudo acontece, quando tem que acontecer...) O parto teve que ser provocado aos sete meses por ter entrado em pré-eclâmpsia devido ao alto de grau de ansiedade sentido por medo que a bebé tivesse más formações. Felizmente a menina é "perfeita" e linda,(ressalvo: de acordo com o que para nós é perfeita, porque o irmão também é perfeito). E lindo porque quando a mãe dele me pediu para lhe levantar a cabeceira da cama olhei para ele vi uns olhos azuis lindos...ao ponto de exclamar: "Meus Deus, que olhos!"

Chegou uma enfermeira a dar a notícia que a operação dele correu melhor do que se esperava, que não tinha sido preciso fazer o enxerto de pele que estava previsto e que por isso ele poderia ir ontem mesmo para a casa. Foi a grande surpresa da mãe.

Despediu-se de mim com um beijinho. Tinhamos acabado de nos conhecer mas tinha-me contado grande parte da sua vida, e da sua profissão de camionista. Ela e o marido são condutores de longo curso e fazem as viagens juntos. Fiquei a saber imensas coisas interessantes sobre uma profissão que achei também muitíssimo interessante.

Como se foram embora, ficaram só o Zé Miguel e o Sr. Joaquim. Segundo ele prevê nos próximos dias entrará mais gente. O Hospital é pequenino e antigo, mas está remodelado e é muito cuidado. A sala deles fica num pequeno corredor, sossegado e virado para o jardim.

No período de almoço, enquanto esperava pela hora de poder voltar a entrar, fui dar uma volta pelas ruas de Riba de Ave, que como era Domingo e estava tudo fechado, me pareceu uma vila fantasma. Muito mais pequena do que eu imaginava. Ontem tinha perguntado a uma senhora da recepção onde era o centro da vila. Que centro?, perguntou ela. De facto não há. Tenho três horas no período de almoço, em que não são permitidas visitas, e nada para ver, nem sítio onde estar. Nenhum parque. Tem só a sombra das arvores aqui na capela ao lado, disse-me a tal senhora.

Mas tem esta rua, que achei linda:



Linda e calma. E hoje ao fim do dia, quando saí, também estava tudo calmo. O Zé estava melhor e mais tranquilo. Já tinha recuperado a cor e tinha menos dores. Comeu, pela primeira vez em 48 horas. O Sr. Joaquim ia ver "Pai à força", na televisão. E eu saí a correr, porque o segurança me veio dizer que as visitas tinham que sair. Amanhã volto.

domingo, 8 de julho de 2012

HOSPITAIS OUTRA VEZ

O meu filho tinha uma cirurgia reconstrutiva de uma cicatriz, marcada para Setembro.

Na passada terça-feira, quando eu estava a entrar para o comboio com destino a Lisboa, recebi um telefonema do hospital, a informar-me que, por razões burocráticas, a operação teria que ser realizada neste Sábado.

Com o telefone ainda colado ao ouvido vim à porta da carruagem chamar por ele " Zé Miguel, vais ser operado no próximo Sábado"! O quê? perguntou ele, e o comboio arrancou.

Tinha acabado de me abraçar com todo o carinho. Com muitas declarações de amor. E com a promessa de me visitar em Lisboa.

Fui o início da viagem a fazer telefonemas para que se conseguissem fazer todos os exames médicos necessários antes da operação.

Sentia-me apanhada de surpresa e muito agitada.

Minutos antes, ao entrar na estação tinha-me sentido uma nómada. E foi a primeira vez que essa expressão me veio à cabeça. Lá ia eu outra vez para Lisboa, e lá estava eu a despedir-me outra vez do meu filho. Sempre a parte mais difícil. Na última terapia que fiz o Céu falou na importância da mobilidade na minha vida. Não me sentir fixada a lado nenhum. E realmente aí estava a mobilidade. Ao arrancar para Lisboa prevendo ficar lá por umas semanas, afinal já ia ter que regressar daí a 3 dias.

Todos estes pensamentos impediam-me de centrar , de relaxar. Só a partir do meio da viagem consegui conectar-me. E quando estava a dizer a Jesus "Vim entregar o meu filho"...Ele respondeu-me "Já estamos a tratar de tudo."

Senti um conforto...um amparo, um amor maior do que tudo o resto. Quando somos confrontados com algo que nos assusta temos a impressão de ter acontecido algo que não era para acontecer. Que podia ter sido evitado. E não temos noção de que TUDO acontece como tem que acontecer. Mesmo que aos nossos olhos nos pareça errado ou injusto. Energéticamente nada é errado ou certo. Nada é bom ou mau. Tudo é como tem de ser. E quando Jesus me respondeu, isso ficou muito claro. Já estava tudo a ser preparado para ser assim. Os propósitos, os designios, até nos podem escapar. Mas mais tarde ou mais cedo vamos perceber porque é que teve de ser assim e não de outra maneira.

Isto estava a acontecer no dia 03 de Julho, terça-feira. O acidente do Zé Miguel que desencadeou tudo, foi no dia 02 de Julho de 2008. Tinha feito na véspera quatro anos.

Ontem, Sábado, dia 07 do mês 07, dia da operação. Estava no meu quarto a acabar de preparar as coisas para levar para o hospital e ouço nas minhas costas a voz do meu filho "Bom dia princesa! Amo-te muito." O abraço mais terno do mundo e uma queixa: estava enjoado. Pensei logo que este ia ser um dia longo...muito longo. E foi. Todo o dia em espera. O Zé só se lembrava da operação ao apêndice de há 4 anos. Da cicatriz que não cicatrizava. Do mês inteiro no Hospital de S. João. Agora estavamos no Hospital de Riba de Ave. Mas o medo de que tudo se repetisse Em jejum, só foi operado às 22h.

Regressou ao quarto quase à meia noite. A chorar com muitas dores e muitos tubos. As enfermeiras pediram-me para sair. Tinham deixado os pais ficar até ele chegar da cirurgia mas como era maia noite não podiam deixar ficar mais tempo.

Pedi-lhes para não o deixarem ter dores. que lhe dessem toda a medicação que pudessem, mas que por favor não o deixassem ter dores. Disse-lhes que ele já tinha sofrido muito e por isso estava tão preocupada. Garantiram-me que iam fazer tudo o possível.

Já no carro, liguei a ignição, mas não conseguia arrancar. Tinha que voltar para casa, mas o meu coração ficava lá. A Vãnia ligou-me nessa altura e senti-me mais confortada. Aliás fui confortada toda a tarde com as mensagens das minhas amigas.

Arranquei. Durante a viagem senti que mais uma vez tudo tinha que acontecer sozinha. Nos momentos mais dificeis. Sózinha físicamente. O estômago estava embrulhado, encolhido, doía-me. Eu que nunca tenho dores de estômago. A menos que esteja no limite de uma emoção difícil. As pernas tremiam-me. Às tantas encostei o carro e parei. Tentei restabelecer-me. Lembrei-me do que tinha sentido no quarto do hospital. O colo de Jesus. Que na altura até me fez do texto de pegadas na areia. De que realmente é nos momentos mais dificeis que mais cuida de nós. Retomei a condução e cheguei a casa. A chorar.

Agora estou de saída para lá. De volta ao circuito dos hospitais.