segunda-feira, 18 de outubro de 2010

COMO TUDO COMEÇOU

No Sábado fui visitar a minha Tia ao hospital S. João.
E percorri alguns dos corredores que percorria quando o Zé lá estava.
Quando as minhas primas me disseram para avisar quando estivesse na entrada para que elas viessem ter comigo e me dessem o cartão para poder subir ao quarto, logo senti um calafrio...lembrei-me de quando tinha que andar todos aqueles corredores...como o trajecto era longo para pediatria...como demorava a chegar junto de alguem que o vinha visitar...
E como tudo começou...
Desde o dia que entrou para a urgência, em como passamos a noite na urgência em observações sem que nos dissessem absolutamente nada...até decidirem pela operação urgente ao apêndice...em que vi tanta gente a entrar e a sair...tantos bébés aos gritos...e o Zé sempre completamente prostrado...passou a noite e o dia numa maca na sala de espera e eu sentada na cadeira ao lado.
Os meus pais e o pai dele, nos carros à porta do hospital.
A operação. Enfermeira disse-me que podia entrar enquanto ele estava a ser anestesiado. Tive a sensação de desmaio. Segurei-me. Saí e esperei cá fora.
Quando os médicos saíram logo um reconheceu o pai do Zé e dirigiu-se a ele. Tinha sido aluno dele no Liceu de Baltar. O Dr. Tiago. Vinha acompanhado de mais dois médicos. Um vim a conhecer mais tarde. Era o Dr. Nuno Farinha, o cirurgião oncológico pediátrico. Na altura não fazia ideia.
Ficou a ser seguido nos cuidados intensivos. Uma sala nova, bem decorada, com motivos infantis.
Dormia num cadeirão reclinável encostado à cama dele. Umas cortinas separavam-nos das outras camas, onde estavam outros meninos, com os pais ao lado. Enfermeiros atenciosos, sempre presentes. Após dois dias foi transferido para um quarto de cirurgia pediátrica.
Foi um choque. Quarto minúsculo com quatro camas. Enfermeira que nos recebeu forçou-o a manter-se sentado num cadeirão. Disse que as regalias tinham acabado. Que ali ia ter que se esforçar por recuparar rápidamente. O cadeirão era onde os pais dormiam, à vez. Uma noite para cada pai. Os outros dormiam em cadeiras.
Meninos com todo o tipo de maleitas. No corredor dessa ala andava sempre um menino de cerca de dois anos com as duas mãos e os dois braços, ao alto. O pai ao dar-lhe banho não tinha reparado que a àgua estava a ferver e queimou braços e mãos. Ele andava com eles ao alto porque era a forma que tinha de equilibrar o peso.
Habituar-me a partilhar uma casa de banho super minúscula com portas abertas para o corredor.
As noites silenciosas e escuras. Interrompidas pelos tratamentos que enfermeiros vinham fazer. Tratar de pensos. Colher sangue. Houve uma noite em que enfermeira picava e voltava a picar o Zá. Não estava a conseguir. Vinha outra, mais paciente e lá conseguia. O alívio quando o dia nascia. E voltavamos a sentir o calor naquele quarto,que mal nos deixava respirar.
Julho de 2008.
Quando tudo começou.