segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

FREEDOM


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Há dias estava a conversar sobre liberdade. E fiquei a pensar sobre a liberdade que fui conquistando nos últimos anos. Depois pensei que na verdade não foi conquistada. Foi mais uma proposta da vida.

Porque em boa verdade quando era jovem eu não queria liberdade nenhuma. Eu queria era segurança e conforto. Por isso, quando seguir psicologia implicava arriscar na àrea de ciências, e sociologia implicava ir viver e estudar sozinha para Braga ou Lisboa, eu optei por ficar no conforto do lar e entrar em Direito para frequentar a mesma universidade onde já andava o namorado de tantos anos. Tudo tranquilo.

Nem importou que Direito fosse o ultimo curso que eu quisesse tirar...

Depois o casamento. Tinha dúvidas? Sim, mas o melhor era não levantar ondas...afinal gostavamos tanto um do outro e namoravamos há tantos anos...

Sempre tudo tão seguro...tão direitinho...tão previsível...

Mas eu tinha nascido para viver e tinha medo da vida. Como não consegui escolher mudar a vida, a vida escolheu tirar-me o medo. E começou a cilindrar-me.

Primeiro foi o divórcio. Lá se foi a segurança. Até no supermercado chorava porque não estava habituada a fazer compras sozinha e só com o meu dinheiro.

Viver sozinha com o meu filho, e ele que não gostava nada porque estarmos só os dois o fazia lembrar que o pai não estava.

Depois foi comprar casa sozinha.

A seguir era preciso aprender a trabalhar sozinha. Ok. Assim fiz.

O pior foi quando "ouvi" que era preciso passar à fase seguinte: se queria entrar no meu caminho tinha que acabar o que nunca devia ter começado: fechar o escritório. Achei que não ia ser capaz, chorei até cair no chão...Como é que ia viver sem ter outro trabalho ainda, sem ganhar dinheiro? Como é que me ia sustentar a mim e ao meu filho? Mas percebi que tinha que ser. Acabei de chorar e ainda fiz um telefonema a propôr-me para recepcionista num sitio onde já se trabalhava nas àreas que me seduziam. Não me deram esperança. Mesmo assim, dirigi-me para o meu escritório, decidida a fechá-lo, fosse como fosse. A persiana não abriu, avariou, o candeeiro não ligou. Avariaram-se os dois ao mesmo tempo. A sala já não tinha luz, nem natural, nem artificial. Para que não me restassem dúvidas.

Dias depois o meu irmão ofereceu-me uma viagem ao Brasil. Não queres ir visitar a tua amiga Erica? Queria. Mas não me apetecia viajar sozinha. Andar de cidade em cidade num outro continente.

Os últimos dia e meio de viagem, fiquei sozinha no Rio. Que era para ir ao Corcovado, "ouvi". Sentia que um forte propósito da viagem era esse, desde o início. Todos me tinham dito para não ir lá sozinha, nem sequer de táxi, que se via logo que era uma estrangeira e era mais perigoso ainda.

Ou confiava no que sentia ou não. Fui.

E foi lá que tive uma das mais lindas experiências da minha vida. Um acontecimento mágico. Indescritível. Mas vou tentar: as nuvens começaram a formar-se, curiosamente, lá em baixo. Um forte nevoeiro começou a subir e de repente envolveu a imagem do Cristo. O sol incidiu sobre a imagem que ficou a parecer feita de luz...não se via absolutamente mais nada...só a imagem, em luz...e senti como se o Céu se tivesse materializado na Terra...senti como se estivesse à frente d'Ele, no Céu... acho que também nunca contei isto a ninguém.

Nesse mesmo dia embarquei de regresso e três dias depois, no dia seguinte ao dos meus anos, fui convidada para estagiar onde trabalho agora.

A seguir...vocês já sabem.

Aos 17 anos não consegui afastar-me do namorado e dos pais para seguir o meu caminho. A vida deu-me uma segunda oportunidade, só que agora tive que deixar o meu filho, que também tem 17 anos. Muito mais dificil.

Com isto tudo fui aprendendo o sabor da liberdade. Que não tem preço.


Agora vivo sozinha. Durante a semana. E é dos maiores prazeres que tenho na vida.

Ontem tive mais um sinal da minha autonomia. O João, meu afilhado, e a mulher, Mariana, ofereceram-me uma caixa de ferramentas para quando precisar de fazer arranjos na casa...Achei tão engraçado...é que já tinha escrito este texto mas ainda não o tinha publicado. Porque afinal faltava esta cereja em cima do bolo...a minha própria caixa de ferramentas...nunca pensei...

Mil beijos

Olinda Cris

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

NÃO PENSAVA CRIAR UM BLOG


Olá amigos.

Não pensava ter um blog tão cedo mas hoje a Erica convenceu-me, também porque a Tati já tinha insistido comigo para o criar. Acabei por achar que era uma boa opção porque gosto de escrever para os meus amigos e contar-lhes o que se vai passando comigo.

Muito menos pensava que iria começar a escrever com o estado de espírito com que estou agora.

Passei um serão muito agradável a festejar o aniversário da Tati e cheguei a casa muito bem disposta. Como sempre que estou com ela, ri-me imenso. Quando cheguei liguei o pc porque estou sem sono e à procura de um video da Tati de bicicleta para colocar no facebook dei de caras com umas fotos do Zé Miguel quando estava internado no IPO.

Mais magro cerca de 30kg e enormes olheiras. Tive um choque. Ainda estou em choque. Pensei que ultimamente me tenho preocupado bastante com o excesso de peso dele. Que essa preocupação foi a que a minha mãe sempre teve comigo ao longo da vida. Que me azucrinou por causa disso. Que ainda não me curei disso. E que estou a repetir o que ela fez comigo, embora a outra escala, com o meu filho. Sempre escudada na saúde dele. Mas afinal essa tb era uma das preocupações dela. E nem por isso deixou de me fazer feridas que permanecem até hoje. E quando vi o Zé nas fotos naquele estado pensei em como ele está lindo gordinho!!!! E em como é milhões, bliões, triliões de vezes, melhor ele estar gordinho do que doente... Meu Deus, como nos esquecemos tão depressa do que é mais importante. Tão depressa. Não me quero esquecer. Não me devo esquecer. Não me posso esquecer. A vida não brinca.

Ainda esta segunda feira tive a noção da quantidade de coisas de que já me tinha esquecido. Fui com o Zé ao IPO à consulta de rotina e fazer exames. Assim que entramos na enfermaria para fazer análises, dei de caras com um rapaz, já de barba, que nunca o tinha visto, e imensas peladas na cabeça. Estava cor de cera. Senti que ele devia estar muito mal e fiquei logo com os olhos cheios de àgua e a pedir com a minha intenção ajuda para ele. Passado um pouco ele começou a contorcer-se com dores e percebi que as enfermeiras lhe pediam paciência para esperar até a medicação fazer efeito. Pareceu-me que talvez ele tivesse tido uma reincidência. Acabamos por ter q passar quase todo o dia lá, e andei o tempo todo com os olhos cheios de lágrimas. Tantos, tantos, meninos novos...parece uma epedemia....A 1ª vez que tive essa impressão de que o cancro parece uma epedemia foi quando num dia em que o Zé estava internado, deu entrada no quarto ao lado a filha de 3 meses da psicóloga que chegou a atender o Zé lá no IPO. Tinha deixado de a ver quando entrou de baixa perto da data do parto e voltei a vê-la nesse dia, já com a bébé de 3 meses, mas tb para ser tratada a um cancro. A sensação com q fiquei foi q parecia que os pacientes dela tinham pegado à bébé a doença quando ainda estava na barriga...

Custou-me mais assistir a tudo isso na 2ª feira, porque como já lá não ia desde Setembro parecia que me estava a desligar dessa realidade...mas é bom que não me esqueça do que a vida me quis ensinar...para meu bem...e mesmo assim, nunca se sabe...essa foi talvez a principal lição: nunca se sabe.

E agora vou chorar que tenho o peito a arrebentar...

Mil beijos

Olinda Cris