domingo, 22 de maio de 2011

A MINHA AMIGA ANA CATARINA.












Ontem a Ana Catarina fez anos. E eu não lhe dei os parabéns. Cheguei agora a casa (madrugada de Sábado para Domingo) e vi um email dela a contar-me que lhe apeteceu escrever-me neste dia tão especial para ela. E ela é tão especial para mim que fiquei arrasada por não me ter lembrado que dia era ontem. Na verdade eu nem sabia a quantos estavamos. E há bocado, no jantar em casa da Luísa, por acaso disse isso, que nem sabia quantos eram hoje...A Ana Catarina conhece-me muito bem, e acho que foi por isso também que me escreveu, ela sabe que eu gostaria que me lembrasse. Mas o que ela me disse hoje tocou-me profundamente. Acho até que mais do que profundamente. Ela tem um dom de expressão (aliás tem muitos dons...é das pessoas com maior multipilicidade de talentos que conheço, no outro dia mostrei o curriculum dela a outra amiga minha que ficou realmente impressionada...)Voltando ao email que me enviou agora, disse duas ou três frases e arrasou-me. Arrasou-me de emoção. De felicidade. E de alegria por ter uma amiga como ela. Ainda há dois dias disse ao tio dela e a uma amiga dela as saudades que tenho dela. E a ela digo-lhe isso muitas vezes. Quando fui a última vez com o meu filho ao IPO, levei uma agenda do tempo em que ele esteve internado e onde anotei muitas coisas...entre elas as sms que a Catarina me enviava. E que mereciam ser publicadas. Porque são absolutamente extraordinárias. Até lhe liguei para lhe perguntar se me deixava publica-las, mas depois falamos de tudo menos das sms...No outro dia a minha mãe estava a contar a umas amigas nossas, já não sei a que propósito, que no tempo em que o Zé estava a fazer tratamento, ela dormia aqui connosco muitas vezes. Dormiamos os três. E nós também dormiamos muitas vezes em casa dela. Com os filhos dela, o João e o Afonso. Foi talvez a pessoa mais presente. Talvez, não. Foi mesmo. Sem descurar todas as outras pessoa que estiveram presenets e nos ajudaram naquela época. E tinha estado um bocado desaparecida até ao dia em que soube que ele estava doente. Desde esse dia não nos deixou mais. Um dia, já muito depois do Zé ter terminado os tratamentos eu estava a jantar em casa dela e o telefone dela tocou. Eram 22h. Chamei-a para ela atender e ela riu-se: não é chamada, é o lembrete. É o lembrete que tocava todos os dias quando o Zé estava doente, para eu te mandar sms caso ainda não tivesse mandado...

Foi ela que fez este vídeo para o Zé, foi ela que pediu a toda a gente, anónimos e famosos, amigos e conhecidos, para fazer estes cartazes, muitos dos cartazes foi ela mesma que fez, e fotografou...e montou o vídeo...com uma das músicas que o Zé mais ouvia na altura...e mostrou-lhe o vídeo num jantar surpresa que fizemos aqui em casa. As fotos em que ela aparece têm a legenda de "Ana".

É claro que a esta altura já estou a chorar...

AMO-TE AMIGA! Ser-te-ei eternamente grata. E por mais vezes que repita o quanto te estou grata, nunca serão suficientes. Tens sido das pessoas mais importante da minha vida. E nos momentos mais importantes. Obrigada por seres uma grande benção na minha vida!...Já aqui falei neste blog, de como me senti protegida e acompanhada pelo Céu nos momentos mais difíceis...e tu foste uma dádiva do Céu precisamente nesses momentos.

E Parabéns. Muitos Parabéns pelo aniversário e por seres como és. Das pessoas que mais admiro.


Mil beijos e abraço interminável...


Link do vídeo (que não consigo publicar aqui):

http://www.slide.com/r/hFkuruAPyD-d33-h7MFp8W5u3fwWoau8?previous_view=lt_embedded_url

Estas fotos são das nossas férias no Verão de 2009.

PS: E outra coisa que já me esquecia de dizer...é quase impossível estar ao lado da Ana Catarina sem rir...ela não faz nada por isso, mas é outro dos talentos natos dela...se bem que também choramos juntas, e no colo uma da outra, muitas, muitas vezes...

sábado, 21 de maio de 2011

AS VOLTAS DA VIDA

Há 3 anos morreu-lhe a filha de 32 anos com cancro. Hoje perguntou-me se me lembrava de há dois meses atrás eu lhe ter perguntado se tinha morrido recentemente algum padre que fosse amigo ou conhecido dela. Tinha-me respondido que não. Na verdade nunca me tinha sequer falado em padres. Estava impressionada porque depois dessa pergunta morreu um frade amigo dela. Que tinha conhecido através de um amigo, engenheiro químico como ela, e que tinha sido aluno do frade, nas aulas de semiótica, do curso de Ciências da Religião que ele entretanto tinha resolvido tirar. E contou de como é sempre tão difícil esta separação física. E do texto do Frei Bento Domingues no jornal Público, sobre a morte deste frade, comum amigo, em que se referia a esta partida física, como sendo a passagem da morte à vida. Achei curioso e contei-lhe como ainda há dias tinha escrito sobre isso. E que tinha dito que quem parte fisicamente perde tudo daqui, mas encontra muito mais do que perdeu. E então começou a contar-me como foi a despedida da filha. Os dias anteriores à morte e o dia da morte. Ainda não tinha falado tão pormenorizadamente sobre isso. As lágrimas corriam-me. Correram ainda mais quando contou que o filho, inseparável da irmã, só mais novo do que ela 14 meses, no momento da morte dela dirigiu-se à janela do quarto, abriu completamente as cortinas que estavam cerradas, e disse: “Finalmente estás livre!”…

No final da nossa conversa perguntou-me aonde é que eu escrevia. Disse que num blog e pediu-me o endereço. Aproveitei para lhe perguntar se podia escrever sobre esta conversa. Acho que vou ter o prazer de a ter aqui como visitante.

Logo a seguir sou avisada sobre o atraso de uma senhora que já deveria ter chegado, mas que tinha ligado a dizer que estava atrasada porque ontem deixou o carro numa oficina e hoje não se tinha lembrado disso e tinha andado à procura do carro por todo o lado. Eu sorri e disse…mas isso pareço eu…e a Filipa já se estava a rir e a dizer que foi a primeira coisa que pensou…que parecia uma coisa minha. Aguardamos. Senti empatia imediata com ela. Era a primeira vez que a via. Havia ali qualquer coisa de estranho. Sinceramente, muito estranho. Depois das primeiras palavras olhei para o mapa astrológico dela, curiosa…Fiquei estupefacta. Mapa quase igual ao meu. Já conhecia duas pessoas com aspectos muito parecidos com os do meu. Mas esta tinha 14 aspectos iguais!!!!!! Nunca tinha visto nada assim…De todas as pessoas que conheci na minha vida, esta será talvez a mais parecida comigo, energeticamente. A um ponto verdadeiramente impressionante. A mesma idade. Acho que o que não coincide no nosso mapa faz com que o dela seja talvez um bocadinho mais difícil do que o meu. Ao fazer-lhe terapia compreendi muito bem o que a Lena diz sobre fazer-me terapia. E isso foi um gosto para mim. Podia escrever aqui muito sobre a impressão que tive dela, e da sensação de olhar para uma pessoa que por dentro era tão parecida comigo. Que embora da mesma idade, em fase muito diferente da vida. Reconheci a necessidade de estudar psicologia e psiquiatria que ela estudou durante anos, na esperança de não ficar maluca e descobrir porque sentia tudo tão intensamente...O que mais destacaria do que conheci hoje dela? A paixão por Jesus…Jesus Cristo, como ela diz. As duas, temos Cristina no nome.

Depois a viagem para o Porto. No comboio de Oeiras para o Cais do Sodré sentei-me ao lado de uma rapariga que estava a fazer anotações num caderno. Às tantas reparei que estava a ordenar títulos de músicas. Curioso…o mesmo que eu ando a fazer para me preparar para “DJ” da festa da Laura…

Já no comboio para o Porto a Tatiana ligou-me. E voltou a meter-se comigo como fez ontem. Sobre a viagem que há tempos éramos para ter feito juntas para o Porto, mas ela ficou na estação porque já não havia bilhete para ela. Eu embarquei porque tinha comprado o meu na véspera. E depois leu um texto neste blog em que eu contava o que me estava rir nessa viagem por causa do que ia acontecendo na carruagem. “Nunca mais me perdoou”… Porque ela tinha ficado triste, e eu ia na viagem a rir-me. Então ontem quando fomos à noite a Lisboa, ao passarmos na estação foi um verdadeiro “teatro”…referia-se à despedida daquele dia como à do Titanic…acusava-me de amiga da onça…de não me ter importado que ela morresse naufragada…e a partir daí desenrolou um verdadeiro filme…e ela faz-me rir tanto, mas tanto, que quando dei por mim era eu que estava a fazer um verdadeiro teatro no parque de estacionamento, de tanto rir…

Chegada ao Porto, encontro com família e amigos...e ouvir coisas surpreendentes...que me enchem de alegria...Atrevo-me a contar isto...porque mostra as voltas da vida...eu que já achei que era tudo negro...Não é que a vida já não seja difícil...mas também já é sobretudo muito luminosa...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

SEM PALAVRAS.

Hoje, práticamente de madrugada, a viagem de regresso.

E logo no ínicio, ao fazer meditação tive uma nova experiência. É normal que em meditação, deixemos de sentir o corpo, e passemos por essa experiência...de uma existência sem corpo, só em energia. Mas hoje foi-me proposto sentir-me com corpo, mas um corpo diferente...diferente porque não precisa de estar de pé, não está sujeito à lei da gravidade...uma existência num outro plano, com uma outra energia...estranho...mas engraçado.

E lembrei-me de outra experiência que tive em meditação. A experiência de morrer. Em que o Céu me propôs que me tentasse sentir como se fosse partir. Deste mundo. E que me despedisse das pessoas que amo. Não fui capaz de me despedir do meu filho. Mesmo que a experiência fosse apenas virtual, só em energia, não fui capaz. Doloroso demais. Além da dor da separação havia a dor de ser eu a provocar a dor dele.

Quando ele esteve doente tive que fazer ao contrário. E se ele morresse? Sem palavras. Um dia achei que o meu coração não ia aguentar. Que ia ter uma ataque. E telefonei à Alexandra, desesperada. Que, com toda a compaixão deste mundo, me disse para chorar, e que se chorasse não ia acontecer nada ao meu coração. E não. Apesar de já saber disso, tive momentos em que não consegui ter discernimento. Em que precisei mesmo de ajuda. E felizmente tive dessa ajuda muitas vezes.

Nessa experiência de poder ser eu a partir, percebi como quem parte perde tudo. Perde todas as pessoas. Todas as coisas. Perde até a Terra.

E quando choramos a partida de alguém, estamos a sentir a nossa perda, e nem sempre temos a noção de que quem partiu perdeu infinitamente mais do que nós. Porque perdeu tudo.

Na verdade, não é bem assim. Na infinita perfeição do Universo e da Vida, quem parte encontra depois muito mais do que perdeu. E até o que perdeu aqui, volta a encontrar. É só uma questão de tempo. E o tempoo não existe. Nunca perdemos nada. Desencontramo-nos apenas, por breves momentos, na ilusão do tempo.

sábado, 14 de maio de 2011

TEARS

Quando hoje cheguei a Santa-Apolónia estava capaz de entrar no comboio sem bilhete...fui tomar café, fazer compras...e não me lembrava de comprar o bilhete...já não havia lugares junto à janela...pedi então para, por favor, não me dar um daqueles lugares de quatro, e o senhor disse-me que até ia ficar longe desses lugares...não sei o que é que ele entenderá por longe, porque fiquei no lugar imediatamente atrás desses...e quando o comboio encheu na estação do Oriente, lembrei-me de reparar no ambiente...será que ia ter "matéria" para escrever um texto?!...e reparo que do outro lado do corredor, virados para mim, iam dois gémeos...iguaizinhos! Com cerca de 28 anos talvez. De fato cinzento igual. Mas um já tinha tirado a gravata. Fiquei fixada a olhar para eles. E eles repararam. Não conseguia tirar os olhos deles porque me estava a sentir a entrar outra vez num cenário que tinha visto quando fiz uma das últimas terapias. Foi uma terapia que a Lena que me fez. E nem eu nem ela tínhamos visto nada de parecido nestes anos todos de trabalho. E o cenário tinha a haver com uma vida passada em que eu tinha uma irmã gémea. Nessa terapia percebi porque nunca, nunca, nunca, quis ter irmãs. A minha mãe sempre me disse que tinha muita pena que eu não tivesse irmãs, porque ela tinha e sabia o quanto isso tinha sido bom e importante para ela. E sempre lhe respondi que ainda bem que não tinha. Que gostava muito das minhas primas e as considerava como irmãs. Mas uma irmã mesmo não queria. E nunca tinha percebido porquê. Se tinha um irmão que adorava, porque não havia de gostar de uma irmã? Até ao dia da terapia, que foi há cerca de dois meses. Em que percebi isso e outras coisas. Foi mais uma peça de um puzzle. Um puzzle, que neste caso é um karma. E que só há pouco tempo tomei consciência, que este não é um karma como outros que tenho. Este é chamado de karma de morte. E por isso hoje ainda chorei. E por isso nos últimos tempos algumas vezes tive a sensação de que ia morrer...de dor. Dor emocional. Porque a memória, às vezes mistura-se com a realidade. Sobretudo no meu caso, que por causa de toda a minha energia de água e kármica, tenho o chamado karma vivo. Imagine-se sentir vivo um karma de morte... Pior do que os outros...se bem que nenhum seja fácil. A não ser o bom karma. E que por acaso vai ser o tema dos próximos workshops da Alexandra pelo país no mês de Julho. Para que as pessoas saibam que têm talentos que podem usar nestes tempos em que todos se queixam....Voltando ao assunto dos karmas que não são bons nem fáceis...levam tempo a curar.Por isso é que tem que se fazer terapia. Para limpar a memória. E deixarmos de confundir o passado com o presente. E por isso é que temos de chorar. Para sair a tristeza que ainda não tinha sido chorada e que fazia com que a energia do karma ainda estivesse activa. E que tornava o karma vivo.

Estava a olhar para os gémeos e a reviver tudo outra vez...como se voltasse a ficar vivo...fechei os olhos e as lágrimas começaram a correr...tive que pousar as folhas com o texto em inglês que vinha a ler e tanto me estava a entusiasmar e deixar as lágrimas caír...não adiantava nada o lugar onde estava...apesar de ser sempre embaraçoso para mim chorar em público era impossível parar...e tinha que deixar sair mais uma dose de tristeza...uma tristeza que já me tinha levado à morte...um tristeza que de tanto ser chorada há-de acabar...e chorei, chorei...só limpava as lágrimas muito de vez em quando...na esperança de que não reparassem...imaginei que os gémeos tivessem achado estranho verem-me a olhar para eles e depois a chorar...e chorei até adormecer...quando acordei, em Coimbra, saiu muita gente e mudei de lugar para poder ficar sozinha e mais à vontade....e o choro recomeçou...até chegar ao Porto...

Olhei para o vidro da janela para ver a minha figura...se se notava muito os olhos de chorar...e reparei no novo colar que trazia...antes de sair do consultório tinha atendido uma rapariga que me ofereceu um colar feito por ela. Que fez para mim. Pediu-me para esperar 5 minutos porque não tinha tido tempo de o acabar e não queria deixar de mo dar hoje... Lindo. Com fio transparente e uma pedra verde: uma aventurina. Ela teve o cuidado de pesquisar sobre uma pedra que achasse adequada para mim e que tivesse a cor dos meus olhos. Lembrar-me desse gesto dela voltou a encher-me de calor...de conforto...de gratidão...e quando já estava em casa alguem me tratou por "sweet heart" e mais alguem me disse que eu parecia mágica...e ainda mais alguem me disse outras coisas igualmente lindas...os meus amigos, que me tocam...me enternecem...e me ajudam a recuperar o sorriso...e o meu filho...o meu filho lindo que só vi por um minuto...porque eu estava a chegar e ele a sair...mas não tem mal...tenho tempo de o ver...e ele tem a vida para viver...

terça-feira, 10 de maio de 2011

IPO hoje, 10 de Maio

Depois de 3 dias maravilhosos em que encontrei amigas que não via há muito tempo, inclusive um amigo que não via há mais de 20 anos, em que tive almoços e jantares maravilhosos com amigas com quem não tinha oportunidade de estar há também muito tempo...depois de 3 dias em que o meu filho esteve mel...nem a ida com ele hoje ao IPO ( consulta de rotina) me perturbou...assim que entrei pensei: quem será que vou encontrar hoje? Já conheci lá tanta gente e já encontrei lá tantas pessoas que conhecia doutros lugares...e mal entrei vi uma enfermeira a olhar muito para mim que eu não estava a reconhecer...ao passar por ela, sorriu-me e eu perguntei: conheço-a, não conheço? "Conhece sim, mas não daqui. Atendeu-me quando trabalhava na Boavista" Já lá vão uns 3 anos. Ela já sabia que agora eu estava em Oeiras. Entretanto lembrei-me que ela tinha uma filha, e só a seguir me lembrei que também tinha chegado a atender a filha. Aliás com um caso curiosíssimo.


Tive oportunidade de dar beijinhos a mais pessoas que lá trabalham e que conheço sem ser dali, e entretanto foi-nos dito que havia uma confusão com a consulta. Mas, para evitar nova deslocação o Zé ia ser atendido na mesma. Era um nova especialidade. Nunca tinhamos ido àquela consulta. Muita gente. Quando passei pela sala onde estavam as pessoas à espera pensei: coitadas destas pessoas que nem respiram aqui...nem sabia que era ali mesmo que ia ter que esperar...E surpresa: atendeu-nos uma médica de quem já tinha ouvido falar muito, porque tenho grandes amigos que também são amigos dela. Ainda não a conhecia. Só de ouvir falar. E ela também. Mas quando nos viu disse: eu já os conheço! Expliquei quem eramos e conhecia-nos, sim, mas só de nome.


Curiosos encontros.

sábado, 7 de maio de 2011

MAS GOSTO DE TI MESMO QUE ESTEJAS INVÁLIDA...

Há dias, estava sentada no meu lugar do comboio, para voltar a Lisboa, quando chegou um senhor conduzido por um funcionário da CP. Era cego. E sentou-se num banco do outro lado do corredor.

Ele não via, mas eu fiquei a olhar.

E pensei que ainda há pouco tinha dado o exemplo de um cego, ao David. Um rapaz de vinte e poucos anos. Estudante e surfista. Quando lhe tinha perguntado como estava a vida dele, ele respondeu que era pessimista por natureza. E que portanto nunca via nada de muito positivo. Eu respondi-lhe que não, que era uma escolha dele. Que podia focar-se em tudo o que tinha de bom. Ou então, em tudo o que achava que lhe faltava. Mas que a perspectiva era uma escolha dele. E falei-lhe da minha meditação, em que me tinham sido mostradas todas as bênçãos. E falei-lhe num vídeo que tinha visto há dias, sobre um senhor cego que estava a pedir na rua, e passou alguém que escreveu no cartaz que estava ao lado dele: “está um dia lindo, e eu não posso vê-lo…”
E a seguir pedi ao David: mas então conta-me lá como está a tua vida. E ele respondeu: afinal, a minha vida está óptima. Visto por essa perspectiva, a minha vida está óptima, brilhante. E estou mesmo a falar a sério. Nunca tinha olhado assim para a minha vida. Acabou de me tirar um peso de cima.

E enquanto olhava para o senhor cego, resolvi fechar os olhos e sentir-me como se não pudesse ver…

O comboio arrancou…e não vi o sol…não vi a Ribeira…não vi nada...não podia ver tanta coisa que me dá tanto prazer quando vejo...só me podia ver a mim…mas por dentro…e percebi que quando não se vê fora, não se fica totalmente desprovido de visão…pode-se sempre ver outras coisas…que se podem ver de olhos fechados…

Mas não era a mesma coisa…se eu fosse cega eu não podia abrir os olhos quando me cansasse de estar com eles fechados…não podia ver tanta coisa bonita…

Se eu fosse cega… alguém iria gostar de mim na mesma?

Tantas perguntas...

Mas afinal, cegos…não somos todos? Uns para umas coisas, outros, para outras…

E entretanto houve alguém, que não sabendo desta minha reflexão, me disse: Mas gosto de ti mesmo que estejas inválida…

domingo, 1 de maio de 2011

O TEXTO DA SARA, FILHA DA LENA

A minha amiga Lena partilhou hoje comigo este texto da filha, Sara. E deu-me autorização para o partilhar também. A Sara escreveu este texto em Março de 2004, e partiu dois meses depois, em Julho do mesmo ano. Tinha um cancro. E tinha 17 anos.

Apesar de praticamente conhecer o texto, porque a Lena já me tinha falado nele, ao lê-lo hoje senti uma tremenda comoção.

E porque hoje é o dia da Mãe, é hoje mesmo que o vou partilhar, com todo o amor e respeito pela Sara e pela Lena, que é uma das pessoas que eu mais amo e mais admiro. E a sua amizade é uma verdadeira benção, das grandes, enormes, na minha vida. Que eu agradeço todos os dias.



EU!
EU O QUE SEREI?!
O QUE ACREDITO ESTARÁ CERTO OU ERRADO?
O QUE PENSO FARÁ SENTIDO? POR VEZES SIM POR OUTRAS NÃO.
QUANTO MAIS ME DESCUBRO MAIS ME PERCO.
QUANTO MAIS ME CONHEÇO, MAIS ME DESCONHEÇO.
QUANTO MAIS VIVO, MAIS QUERO VIVER
E A MORTE?! É ALGO QUE NÃO ME ASSUSTA.
É APENAS A PASSAGEM, E NÃO O FIM DE TUDO.
EU SOU ÚNICA, SOU SIMPLES E HUMILDE.
EU SOU ESPIRITO, MATÉRIA…
EU SOU AQUELA QUE QUER CRESCER, MAIS E MAIS.
EU SOU AQUELA QUE QUER APRENDER, MAIS E MAIS.
EU SOU AQUELA QUE QUER VIVER, SIMPLESMENTE

SARA MORAIS
25-MARÇO 2004