segunda-feira, 16 de maio de 2011

SEM PALAVRAS.

Hoje, práticamente de madrugada, a viagem de regresso.

E logo no ínicio, ao fazer meditação tive uma nova experiência. É normal que em meditação, deixemos de sentir o corpo, e passemos por essa experiência...de uma existência sem corpo, só em energia. Mas hoje foi-me proposto sentir-me com corpo, mas um corpo diferente...diferente porque não precisa de estar de pé, não está sujeito à lei da gravidade...uma existência num outro plano, com uma outra energia...estranho...mas engraçado.

E lembrei-me de outra experiência que tive em meditação. A experiência de morrer. Em que o Céu me propôs que me tentasse sentir como se fosse partir. Deste mundo. E que me despedisse das pessoas que amo. Não fui capaz de me despedir do meu filho. Mesmo que a experiência fosse apenas virtual, só em energia, não fui capaz. Doloroso demais. Além da dor da separação havia a dor de ser eu a provocar a dor dele.

Quando ele esteve doente tive que fazer ao contrário. E se ele morresse? Sem palavras. Um dia achei que o meu coração não ia aguentar. Que ia ter uma ataque. E telefonei à Alexandra, desesperada. Que, com toda a compaixão deste mundo, me disse para chorar, e que se chorasse não ia acontecer nada ao meu coração. E não. Apesar de já saber disso, tive momentos em que não consegui ter discernimento. Em que precisei mesmo de ajuda. E felizmente tive dessa ajuda muitas vezes.

Nessa experiência de poder ser eu a partir, percebi como quem parte perde tudo. Perde todas as pessoas. Todas as coisas. Perde até a Terra.

E quando choramos a partida de alguém, estamos a sentir a nossa perda, e nem sempre temos a noção de que quem partiu perdeu infinitamente mais do que nós. Porque perdeu tudo.

Na verdade, não é bem assim. Na infinita perfeição do Universo e da Vida, quem parte encontra depois muito mais do que perdeu. E até o que perdeu aqui, volta a encontrar. É só uma questão de tempo. E o tempoo não existe. Nunca perdemos nada. Desencontramo-nos apenas, por breves momentos, na ilusão do tempo.

5 comentários:

Lurdes disse...

Obrigada Olinda!
Mais uma vivência, uma experiência que partilhaste connosco. Uma experiência que só quem a vivencia, poderá sentir a emoção da partida. Quem parte, quem fica? A dor?
De repente veio-me à cabeça, e a saudade? O que se passa com a saudade? A saudade do que fomos, a saudade do que somos e existirá a saudade do que iremos ser... Em luz!
Fiquei a reflectir, sem pensar ...a sentir. E sem corpo a sensação é de uma leveza infinita. Ou melhor sem tempo, nada se projecta, tudo se organiza ou desorganiza num mesmo espaço, sem espaço. Será que se perdeu? O corpo... que importa se alma se reencontrou de novo, e o achado do coração, o achado da outra metade!
Depois de tanta confusão em mim, acabei por perceber internamente a imensidão, da tua organização, num céu que eu nunca revi.
Morre-se todos os dias um bocadinho, para se poder renascer... Tão linda esta tua experiência, e tão dolorosa.
São estas experiências que me empurram, para mesmo sem forças poder continuar o caminho. Mais uma viagem atribulada na minha vida. Nesta viagem encontrei tantos mensageiros, que me ajudaram a encontrar o caminho. E como a curiosidade acabou por não matar o gato... continuei as suas pegadas, para não me matar a mim.
Um abraço
Lurdes

Pedro Quitério disse...

Realmente é uma forma diferente de percepcionar as situações, muito própria de quem as sente intensamente.
Não há dúvida que não existe perda maior do que a de quem parte, quando se deixam aqui as pessoas de quem se ama...vista sob esse ângulo...
Mas como a Olinda diz, e bem, é tudo uma questão espacialmente relativa, pois todo o tempo e espaço também é relativo.
Engraçada a forma de ver a morte...e nós todos que temos perdas, umas maiores do que outras, não será que também já a vimos? De um lado ou de outro?
Lembra-me, não há muitos anos, de comentar com outra pessoa que já tinha experimentado tudo de bom, (achava eu....) mais do que alguma vez tinha ambicionado...viagens, amor, alegrias, que não me importava nada de morrer assim de um momento para o outro e que não me importava de partir...
Realmente estava a esquecer-me dos que cá ficavam, de todos os que amo mais que tudo...e hoje digo, e volto a dizer que quero VIVER...
E por aqui me fico, que me acabaram as palavras e tenho que chorar...

Olinda Cristina disse...

E pensar que eu não queria fazer blog nenhum...nem FB...e agora tenho o enorme prazer de ler os vossos comentários...e os da Graça...que também é comentadora assídua...Os vossos comentários sempre tão bonitos e profundos...aos quais nem tenho habilidade de responder...Estou encantada...Obrigada por estarem aqui e me fazerem mais feliz! Obrigada Pedro e Lurdes! Beijos e grandes abraços para os dois.

graça disse...

Por já ter vivido uma experiência semelhante, consigo perfeitamente compreender o que sentiste, só que a grande diferença é que não sou capaz (por ser muito reservada e intimista) de contar abertamente como tu o fazes.
Aprecio enormemente a tua capacidade de comunicar emoções de uma forma fascinante e fantástica - UNICA diria mesmo.
Abraço apertado no coração.
Graça

Olinda Cristina disse...

Graça, é o que eu digo...não tenho habilidade para responder...Muito obrigada! E outro abraço apertado para ti.