quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

ANJO


Tinha saudades de uma conexão tão forte e perguntei se podíamos só passear, só estar juntos. Sim, podíamos começar por isso. Por passear. E que hoje eu ia precisar das asas para voar. E assim, como quem não quer a coisa voltou a uma assunto de que tenho andado a fugir. As asas que nós sempre associamos a anjos. É que há tempo tinha-me dito que eu era um anjo. E voltou a dizer. E eu respondi que era mesmo o tipo de coisa que eu seria capaz de escrever no blog...nunca. E fiquei a pensar que não sei o que é pior, se é armar-me em modesta se é assumir que Jesus me disse isso.

Porque na verdade, embora considere algo demasiado forte para se dizer, quando Jesus diz isso não me está a fazer sentir superior. Porque eu sei que não sou, e no fundo, no fundo, tenho é medo que achem que eu me sinto assim, superior. E se eu estou com medo do julgamento, estamos mal.

Quando Jesus me falou em anjo, e eu resisti, estava a mostrar-me o que penso já saber, que em essência todos somos luz, e que todos temos cá dentro a energia de anjo. Ele até me lembrou a frase do Miguel Ângelo (A propósito disse-me que não é por acaso que ele se chamava Ângelo, assim como não é por acaso que eu me chamo Cristina. Assim como nada é por acaso.) em que ele dizia que quando olhava para uma pedra via o anjo que estava lá dentro e só tinha que desbastar a pedra para deixar o anjo sair. E que é isso que a vida nos está a fazer. A desbastar a energia densa que esconde o anjo que somos. E disse-me que me ia dar um sinal de como era importante eu escrever isto.

Dois ou três dias depois, estava no Porto a acompanhar a Manuela numa terapia, e às tantas ela disse-me: "Jesus está a pedir-me para te dizer uma coisa. Que tu és um anjo. E que tens sido um anjo protector na minha vida. E que por isso na primeira vez que te vi senti uma protecção enorme. E não me conseguia despedir de ti. Não me conseguia ir embora."

Fiquei estupefacta. Sinal mais claro era difícil. Espantoso. Conheci a Manuela há uns sete anos atrás e já não falava com ela há muito tempo. Ela não tinha como saber sobre esse assunto. Nem ela nem ninguém porque eu não tinha feito qualquer comentário com ninguém. Verdade seja dita, que nesses dias algumas pessoas me falavam em anjo com muito maior frequência. Aliás, quando Jesus me disse que eu era um anjo foi chamando-me a atenção para a resposta que eu tinha dado a alguem que me tinha chamado anjo e eu disse que não era anjo nenhum. "Disseste que não eras e és."

"A pedra que tens desbastado é que te permitu fazer a viagem ao espaço. Vê só de onde vens: do fundo do mar, onde os peixes são cegos. E onde já chegaste: ao espaço."

"O teu percurso é dos mais difíceis mas também dos mais transformadores. Nasceste com o medo à flor da pele. Com o karma vivo. Tinhas três vidas permanentemente activas. As três vidas onde te levei em simultáneo há pouco tempo. Nesse momento pediste ajuda porque achaste que ias desmaiar. Desfalecer, como tu disseste. Até esse termo tinha a haver com o medo que estavas a sentir: o de falecer. Porque estavas a reviver em simultâneo o momento em que estavas a ser conduzida para a morte. E tens vivido com esse medo toda a tua vida. Ninguém que não venha com o mesmo desafio pode saber o que é sentir isto vivo quase toda a vida. Poucas pessoas podem imaginar o que é ter medo de tudo. Sempre te achaste covarde por ter tanto medo, por te encolheres tanto, por te submeteres tanto. O que não sabias é que vinhas com uma coragem proporcional para enfrentar esse medo. E que só foste descobrindo desafio atrás de desafio. Quantas vezes eu te pedi para avançares quando o que tu sentias é que se avançasses ias morrer? Mesmo assim avançaste. E isso chama-se coragem e fé. Acreditaste em mim. Sempre me seguiste. Não é a primeira vez que me segues. Já foste morta por acreditares em mim. Sempre soubeste que eu estou contigo. Quando caíste, em Lisboa, ninguém se aproximou para te ajudar porque era eu que estava a pegar em ti. Era eu que estava a levantar-te. E foi no meu colo que estiveste a chorar. Não estás imune aos desafios. Sabes para que é que eles servem. Mas estás sempre protegida, estás sempre comigo. Já te disse e repito, que nunca te abandonei nem vou abandonar. Há dias coloquei-te a aliança no dedo para te lembrares da aliança que eu tenho com a tua alma."

Senti-me tão rendida, tão rendida, tão grata, que me interrogo como é que ainda encaro tantas vezes a vida como uma dificuldade. Um dos motivos porque às vezes me custa falar desta conexão com Jesus, é porque penso que pode parecer um paradoxo ter uma ligação tão forte com Jesus e ao mesmo tempo passar por desafios tão difíceis. Sentir tantas vezes tanta tristeza, sentir ainda tantos medos. Cada vez mais sei que isto faz parte de um percurso evolutivo. Ele até já me disse em tom de brincadeira, que se eu vivesse num paraíso o que é que teria para contar no meu blog? E também já me mostrou muitas vezesqu e aquilo que eu associava a evolução espiritual, como viver em retiros espirituais, ou fazer voluntariado em Àfrica, para mim sera uma fuga da realidade, isso para mim seria o mais fácil, porque o difícil para mim é passar pelas situações que me despertam os medos profundos que eu tenho por resolver. E por isso continuo em movimento. Hoje vou para Lisboa. Lisboa-Porto, Porto-Lisboa. Sempre entre dois mundos. Sempre entre uma terra e outra. Sempre entre a Terra e o Céu. É como um embalo. Um embalo que me ajuda a descolar daquilo a tento prender-me para me sentir segura e não sentir medo. Mas este embalo é que me está a devolver a liberdade e mostrar-me quem eu sou. E a preparar-me para aceitar sem medo o que a vida tem para mim.

E para "cúmulo", chamou-me a atenção para a sala onde eu estava. Lembraste que há anos atrás um dos teus sonhos era que o teu local de trabalho parecesse uma sala de estar? Que tivesse as paredes forradas de livros e CD's e sofás com mantas? E bules e chávenas de chá? Nesta, além de teres isso tudo, ainda vês o mar."

Espantoso!! Já trabalhei nesta sala há quatro anos atrás e nunca, nunca, me tinha dado conta disso. Nunca relacionei isso com o sonho que eu tinha. Há uns dez anos atrás, sonhava com isso, e a minha amiga Ana Catarina, que na altura tinha uma loja de decoração no prédio onde eu vivia, até me emprestou uns livros com sugestoões precisamente para o lacal de trabalho que eu idealizava. Não imaginava em que é que ia trabalhar, mas idelaizava que fosse num espaço assim. E aqui está ele e nunca tinha relacionado uma coisa com outra. Meu Deus!

A vida cuida sempre de nós de uma forma que nós muitas vezes nem nos apercebemos.

Obrigada! Obrigada!






sábado, 19 de janeiro de 2013

O ANEL DE PRINCESA

Estava a conduzir e olhei para a minha mão no volante. Vi como o anel de princesa condizia tão bem com o verniz das unhas. Vi como as pedras azuis escuras do anel eram da mesma cor do verniz. Como esse conjunto resultava tão bem. E percebi o quanto afinal gostava do meu anel. E pensei que é mesmo um anel de princesa. E no mesmíssimo instante começou no rádio a tocar "Princess of China".

Quem mais me ama assim? Não há outro amor igual. Vale tudo. E por tudo.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

EXPENSIVE SOUL COM MAESTRO MASSENA - SYMPHONIC EXPERIENCE


Hoje algo aconteceu.

Por ter ouvido a música "Não sei" dos Expensive Soul no rádio, lembrei-me de ir procurar o vídeo no YouTube. E dou com a Symphonic Experience: a actuação da banda em Guimarães com a Fundação Orquestra Estúdio, sob a direcção do Maestro Massena.

Sempre gostei imenso desta música ao ponto de ter o CD no meu carro. Mas este vídeo ressoou com qualquer coisa que tenho dentro de mim. Porque ao assistir não parei de cantar, de dançar, de bater palmas, de rir, de chorar... E os bombos...os bombos sempre foram mágicos para mim, ao ponto de querer ir aprender para os "Toca a rufar", mas como ficavam no Seixal,desisti.

É lindo ver a energia Indigo dirigir este espectáculo, através do maestro e dos vocalistas New Max e Demo. Vibro com esta alegria, este ritmo, este entusiasmo, esta partilha, esta comunhão, esta união, este atrevimento e esta ousadia.

Tudo o que desperte esta vibração é de louvar.

Os momentos em que vocalistas e maestro saltam em sincronia, e em que os bombos voltam a tocar no final, foram para mim, arrepiantes.

Há coisas fantásticas. E é fascinante deixarmo-nos contagiar por elas.




(este vídeo merece ser visto em Full Screen)


Fui à Wikipédia pesquisar mais sobre os Expensive Soul, e aqui partilho parte da informação:

Este ano (2011), a banda foi, novamente, nomeada para os prémios MTV Europe Music Awards, na categoria “ Best Portuguese Act”.

Em 28 de abril de 2012, no âmbito da Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura, acontece a «Expensive Soul Symphonic Experience», um dos pontos altos da sua carreira e uma das noites mais inesquecíveis de sempre: dirigidos pelo Maestro Rui Massena, atuam, no Multiusos daquela Cidade, para um público entusiasta de 6500 pessoas, acompanhados pela Fundação Orquestra Estúdio, por um coro de cerca de 50 vozes do Norte e pelo ribombar das caixas e bombos do grupo dos Velhos Nicolinos. O concerto foi filmado pela RTP e editado em DVD.

As letras das músicas do grupo revelam uma madura consciência social, passando uma mensagem activista sem acinzentar a alegria festiva e o clima de diversão que caracteriza as suas canções. Muito trabalho e profissionalismo são outras das características da banda, que passa horas no estúdio, na sala de ensaios e na estrada.

Álvaro Costa define a “onda” Expensive Soul

“Soul City, a cidade do funky puro,
onde a alma nunca acaba.
Mais uma noite e aqui estou na Soul City.
'Vibração estéreo.
Do hip-hop, ao reggae, ao soul.
'Nada mais forte do que isto.
Perto de nós, na 1ª fila da vida.
Na cidade, onde a alma nunca acaba.

Noites longas, aqui estou eu na Soul City.
Deliciada de vibrações estéreo.
Na cidade do funky puro.
Desperta o que tens dentro de ti.
Sintoniza-te; Goza; Desfruta.
Nada, mas nada, é mais forte do que isto.
Isto é soul, a tua vibração em estéreo.
Onde a alma nunca acaba.”



domingo, 13 de janeiro de 2013

O UNIVERSO É INFINITAMENTE PERFEITO




"Estás deitada exactamente na mesma posição em que estavas deitada em Belém, exactamente à mesma hora, há exactamente oito dias atrás."

Olhei para o relógio. Sim, era exactamente a mesma hora. Duas da tarde.

"Tudo porque te deixas guiar."

Hoje de manhã quando saí de casa pensava que ia demorar pouco mais de trinta minutos. Estava sol e saí sem casaco. Ia a um sítio perto de casa e quando lá cheguei percebi que era para andar um pouco mais e ir ao Parque do Jamor. Mas está a começar a chover...Ok. Não tenho que discutir, óbviamente. Fui, e os pingos de chuva pararam logo. Quando cheguei ao parque e comecei a olhar para a água do lago e para os patos, e para as flores e para sol que brilhava, senti uma alegria tão grande que as lágrimas começaram a cair...Que bom...Ainda bem que fui. Estava encantada, feliz, cheirava-me a primavera. Jesus disse-me que era um bom sítio para eu dançar. OMG! Aqui??? Mas tantas pessoas a correr, a fazer ginástica, canoagem... E ri-me de mim. Quem é que eu julgo que sou para argumentar com Jesus? Como se Ele pudesse não ter razão...Lá porque me é difícil não quer dizer que não é bom para mim. Aliás, quanto mais difícil melhor é para mim. Em termos de resultado, diga-se. A ver bem até me apetecia dançar. E no meio da relva, junto a uma canal de água dancei uma das músicas que já dancei com Ele. E para meu espanto, dezenas de pombos brancos que estavam na água, levantaram voo e passaram por cima de mim. E foram pousar mais à frente na relva. E depois levantaram voo outra vez e foram de novo para a água. E fizeram eles também esta dança uma infinidade de vezes. E as lágrimas caíam-me. Parecia que estavam treinados. E eram tão brancos, tão brancos...e eu sem a minha máquina fotográfica!...Nunca tinha visto tal. Tantos, tão juntinhos e de um branco imaculado.

"Este espectáculo para ti foi só porque vieste. Só porque dançaste. Se te pedisse que corresses ou fizesses ginática, não te custava nada porque toda a gente estava a fazer. Mas ninguém estava a dançar. E de tudo que aqui estavam a fazer a tua dança era o que emanava mais alegria. Por isso é tão importante, para ti e para os outros."

Dali fui para um banco de madeira onde me deitei a apanhar sol e a cheirar os eucaliptos e a ver os ramos de pinheiro, muito altos, por cima da minha cabeça. E pensei: Que bem que se está no campo, Adelaide!

Até que o sol ficou encoberto e senti frio. Está na hora de abalar. A Lena já deve estar à minha espera em casa por isso vou pelo caminho mais curto. Não é para ir por esse caminho? É para ir junto ao mar? Mas já estive aqui tanto tempo junto da água, já passei aqui momentos tão bons...Ri-me outra vez. Mas quem julgo eu que sou para argumentar? Ok.

Assim que vi o mar, as ondas, a luz que estava por cima da água...mais emoção, mais lágrimas.

"Vai sentar-te naquelas pedras." Ali? Mas ainda caio, como caí no Sábado. "Já caíste: passado. Não vais cair." Engraçado como isto se aplica a todas as memórias, recentes ou longínquas. Por ter acontecido passamos a viver com medo como se fosse acontecer outra vez, e isso não é verdade. E apercebi-me que tinha sido mais uma argumentação minha. Para quê???

Sentei-me nas pedras e percebi que elas tinham uma posição que me permitia ficar completamente recostada, quase deitada, a apanhar sol. Fechei os olhos a ouvir música pelos phones e a desfrutar da fortíssima presença d'Ele.

"Precisavas de vir aqui antes de ir para o Porto. Encher-te de ti e desta energia. Vamos tratar do teu canal. Limpá-lo, abri-lo mais e enchê-lo mais. Tu que gostas tanto de arquitectura, vais ver agora a obra linda que está o teu canal."

Senti, como sinto sempre, que não há nada nesta vida, com que possa sonhar, que me possa proporcionar uma sensação de maior plenitude do que esta conexão. Estamos plenos, não falta nada. Está tudo bem. Tudo como tem que estar.

"Como vês não precisavas de ter pressa para ir para casa porque nada do que ias lá fazer é mais importante do que isto. E mais uma vez estás aqui por te deixares guiar. Não planeaste nada, não te preveniste e mesmo assim não apanhaste frio nem chuva. E agora estás aqui, junto ao mar e ao rio, deitada exactamente na mesma posição, exactamente à mesma hora, a que estavas há oito dias atrás em Belém.

Há oito dias atrás eu estava em Belém recostada, práticamente deitada, nas escadas em frente à Torre. Tinha lá estado na quinta-feira anterior, à noite, mas como fiquei cheia de frio Jesus disse-me para voltar lá com sol. E voltei nesse Sábado. Enquanto caminhava para lá pensei várias vezes que devia ter saído de casa mais cedo para estar lá mais tempo. Jesus perguntava-me porque é que eu insistia em pensar com a minha cabeça sobre o que estava a acontecer e não percebia que pura e simplesmente estava a ser guiada e por isso estava tudo no tempo certo. Disse-me que estavamos ali para tratar do canal de Belém, limpá-lo e alargá-lo.

Falou-me na foto que eu tinha acabado de tirar e mostrou-me que se eu tivesse ido mais cedo, como eu teimava em pensar que teria sido melhor, eu não teria tirado aquela foto porque teria passado ali num momento em que o sol não estaria naquele lugar. E que a foto era o melhor exemplo de que tudo está certo. De que tudo é perfeito.

Quando acabou retomei a caminhada e fui na direcção do Centro de Lisboa. Fui sempre pela marginal e passei por ruas onde nunca tinha passado. Às tantas dei com uma rua onde estavam dezenas e dezenas de crianças a brincar com os pais a ver. Era uma rua sem trânsito de carros e quase todos os miúdos andavam de patins e de skate.

Fui pela berma, o mais arredada deles possível, e quando estava a reparar que até festas de anos ali faziam, senti um embate nas minhas pernas e estatelei-me nos paralelos. Levava a máquina fotográfica na mão e quando caí só vi a máquina a bater nas pedras apesar de eu não a ter largado. Ao levantar-me é que percebi que foi um menino num carro de pedais que me bateu. Eu ia a olhar para a direita e ele veio da esquerda. Sentia-me toda dorida e com a sensação de estar ensanguentada. Mas não me atrevi a levantar a roupa para ver. Estava envergonhada e só queria sair dali rápidamente. Ninguém se aproximou, ninguém me perguntou se eu estava bem. E mal comecei a andar ouvi um ciclista que ia a passar por mim dizer para outro que as gordas andavam ali a estorvar. Aquelas palavras entraram em mim como uma faca a
fiada e muito comprida. Porque chegou muito fundo. Tão fundo que eu quase não conseguia andar. Só pensava porque é que aquilo me estava a acontecer depois de um momento de conexão tão bonito. O que é que eu tinha feito, como é que eu tinha descido assim a minha frequência para aquilo estar a acontecer. Até que me dei conta de que me estava a julgar. E que só precisava de me lembrar que se o Universo é perfeito, então aquele momento também era perfeito. E que na hora certa ia perceber porquê. E desatei num choro convulsivo. Mais à frente havia um parque de estacionamento ao ar livre, e sentei-me num muro a chorar. Não conseguia chorar baixinho porque não tinha qualquer controlo sobre aquele choro. Vinha das profundezas. Estava a soltar-se uma dor que eu tinha escondida no mais fundo de mim. A dor de ser gorda. Pensava eu que já a tinha chorado muito. Pensava eu que já estava em aceitação. Não sabia era que havia uma camada mais funda a que não tinha acedido ainda. Porque ainda não me tinha acontecido nada que tivesse tocado essa camada. E foi preciso cair da forma que caí, sem me aperceber que alguem vinha contra mim, de estar muita gente a ver e ninguem me vir ajudar, de estar cheia de dores, de estragar a maquina, para que quando a seguir me chamassem gorda eu já não ter defesas para isso. Já estar fragilizada, desmontada.

"Finalmente estás a chorar isso. Sente como é profundo e antigo. Agora é o momento de limpar. Chora tudo."

E chorei. Porque também não podia fazer de outra maneira. O choro era maior do que eu. E mais alto do que eu. Continuava envergonhada, agora era por estar ali a chorar daquela maneira descontrolada. Ainda por cima num lugar público. E lembrei-me da minha mãe uma vez me ter dito que nunca me tinha visto chorar porque eu me escondia sempre para chorar e chorava muito baixinho para ninguem ouvir. Nos últimos anos já tenho chorado muitas vezes em público, porque tento não travar o choro. Mas nunca tinha era chorado daquela maneira. As pessoas que passavam não olhavam nem paravam. Comecei a ficar cansada. Passada quase uma hora, quando já estava a abrandar um bocadinho o telemóvel tocou. Pensei em não atender porque não ia conseguir falar, mas quando vi o nome da Ana Catarina percebi que Alguem me estava a enviar aquela chamada. E atendi. Falou o filho mais novo dela e disse-me que ia ser ele a falar porque a mãe estava sem voz. E eu ri-me. A Catarina não resistiu e tentou falar. Então é que eu me ri. Porque não se ouvia nada. Disse-me que estava ligar não só para me convidar para jantar mas também para me dizer que me amava. Confirmei a minha intuição. O telefonema foi-me enviado. Disse-lhe também o quanto a amava, porque agora felizmente os amigo não se inibem de dizer o quanto gostam uns dos outros e dizer que amam já não é estranho. Lembrei-me que numa das últimas vezes que tinhamos falado eu lhe disse que estava triste e que por isso não me apetecia muito falar, e ela me disse que então se ia calar também, para me deixar ficar triste, e que comigo era tudo bom, que era bom chorar comigo e que era bom rir comigo. E isso foi das melhores coisas que alguma vez me disseram. E por isso ela é uma amiga que eu amo incondionalmente.

Hoje, quando estava deitada nas pedras, Jesus disse-me que o meu corpo é um templo e que é infinitamnete perfeito. Serve todos os meus propósitos. Que afastou quem precisava que afastasse e aproximou quem precisava que aproximasse. E disse que há dias quando me mostrou um imagem minha num flash que tive, em que me vi mais bonita sem maquilhagem do que com maqulihagem (que foi uma coisa que eu nunca achei) eu quase me apaixonei pela minha imagem. E que eu só precisava de aceitar isso. Que o meu corpo é perfeito para mim. Assim como percebi que aquele momento foi perfeito porque me libertou de muita da dor que me impede de ver a perfeição do corpo.

Depois disto, quando já ia a caminho de casa, vi um miúdo a cair de bicicleta numas pedras. Ele estava com um amigo que o ajudou a levantar-se mas eu fui a correr, transpus um muro e confirmei que ele não precisava de ajuda. Era parecido com o meu filho. Agradeceu imenso a minha preocupação, sempre com um sorriso.

Fui mais empenhada porque agora sei o que é não receber ajuda.

Realmente tudo é perfeito. Tudo como é como tem que ser.