quarta-feira, 2 de março de 2011

IPO- 12/01/2011

Ontem fui com o meu filho ao IPO. Consultas de rotina. Aparentemente está tudo bem, dentro da normalidade.

Ir lá implica o choque do costume. E quando estavamos numa fila reparei numa exposição nas paredes do corredor. Fui ver. Eram fotos de excelente qualidade, como obras de arte, de meninos da idade do Zé Miguel, nos quartos do internamento. Retratam muito bem tudo o que lá se passa.

Os computadores, as consolas e telemóveis com que eles se tentam distrair.

Uma menina encolhida na cama.

Outra, a mãe a dar-lhe a comida à boca.

Outra com a perna amputada.

Ao vê-las senti como um soco no estômago. Além do aperto no peito. Das lágrimas a cairem.

Voltei para junto do Zé neste estado. Ele perguntou-me o que se passava e disse que não era motivo para ficar assim. Passados minutos quis ir ver. Voltou em silêncio, e assim permaneceu por um bom bocado.

Até a senhora nos atender e perguntar pela namorada dele, depois dirigiu-se a mim e perguntou-me se ela tinha falecido. Outro murro no estômago. De repente só me ocorreu que ela tinha pensado que a namorada era alguma menina de lá e que essa menina tinha morrido. Mas não. Falecida, era a expressão para "ex"...Alívio...

A seguir fomos visitar as enfermeiras e levar-lhes bolos que eu tinha resolvido fazer para lhes oferecer. Quando me viu a fazê-los o Zé Miguel perguntou por que é que os estava a fazer. Eu respondi que por Amor. Que é assim que acho que tudo deve ser feito.

Enquanto o Zé esteve internado nunca lhes ofereci nada. Para que não fosse interpretado como forma de pedir de favores ou tratamento especial. Só comecei a oferecer depois de ter terminado os tratamentos, como forma de agradecimento. Porque na verdade sempre o trataram como um príncipe.

Quando o viram ontem fizeram-lhe uma grande festa e disseram que ainda na véspera tinham falado nele por ele ter sido o verdadeiro "D. Juan" ...

Acham-nos com excelente aspecto, como se o Zé tivesse crescido 20cm e eu tivesse rejuvenescido 20 anos...

Fomos almoçar a ver o mar, na Foz. E depois a despedida na estação de Campanhã. Foi a primeira vez que assim que fiquei sozinha comecei a chorar. Foi mais difícil talvez por termos estado no IPO. Por ele estar mais doce do que nunca. Por termos estado os dois doentes, nos últimos dias. Procurei o meu lugar e, providencialmente, era o último lugar do comboio, o último lugar da última carruagem...o que me permitiu chorar à vontade.

Vim todo o caminho a ouvir as músicas do meu IPod. Senti que uma das músicas, que apesar de estar no sistema aleatório, estava sempre a repetir, tinha uma mensagem para mim. Mas não estava a percebê-la. Só quando estava quase a chegar a Lisboa é que se fez luz e comecei a ouvir o que estava a querer ser dito. E comecei a chorar outra vez. Mas desta vez, de alegria, de conforto. Por saber que não estava sozinha. Na verdade, eu já sabia, mas é sempre bom ouvir isto lá de Cima.

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