sábado, 28 de janeiro de 2012

REENCONTROS

Ontem foi dia de mais uma visita ao IPO. O Zé Miguel tinha uma consulta de rotina que acabou por ser adiada para Fevereiro.

Nada me assusta mais do que lá voltar. Nada me reposiciona mais. Me redimensiona mais. Volto logo para o meu lugar. De impotência máxima. De entrega.

Gostava de poder fotografar. Contar o que se passa lá, por imagens. Porque por palavras não consigo. Tantas meninos. Máscaras. Gorros. Bonés. Cadeiras de rodas. Macas empurradas. Bebés. Jovens a ficarem adultos. O coração parte-se.

Uma das últimas vezes que lá fui, estava sozinha, e espreitei a nova sala de brincar dos pequeninos. A parede é de vidro fosco que só fica transparente ao nível dos nossos olhos, dos adultos. E de repente uma das educadoras que estava mesmo junto ao vidro, levanta-se e depara-se com os meus olhos cheios de água. Acho que ela se assustou.

O Zé Miguel quis visitar as enfermeiras do piso do internamento. Mal o reconheceram. Espantaram-se com o homem em que ele se tornou. Repetiam o quão bonito ele está. Uma das professoras que apoia os meninos internados reconheu-o só porque me reconheceu a mim e diz que ele tem que andar comigo atrás para ser reconhecido.

De lá tivemos que ir ao Hospital de S. João, tratar de questões burocráticas. Disseram-nos que tinhamos que tentar falar com um dos médicos que o tinham operado lá. Para assinar um papel. Fiquei a pensar que ia ter que fazer contactos, porque um dos médicos já nem trabalhava lá. Mas cinco minutos depois estava a encontrar esse mesmo médico, o Dr. Nuno, a entrar para o mesmo elevador que nós. Ficamos todos surpreendidos com este encontro. Ele e nós. Por sua vez, o Dr. Nuno encaminhou-nos para uma colega. Uma médica que trabalhava na pediatria do IPO, e por isso nos conhecia, porque chegou a atender o Zé Miguel quando estava escalada para as urgências, e que agora está a trabalhar no S. João. Olhou para nós com espanto e disse que nos conhecia tão bem, mas que não estava a conseguir localizar. Expliquei que do IPO, mas mesmo assim não estava a ver. Falei no Sarcoma de Ewing. Lembrou-se imediatamente. De tudo. Do acidente, de tudo, tudo. Mostrou uma alegria por nos rever que me deixou de lágrimas nos olhos. A meio da conversa pediu para a deixarmos abraçar-nos outra vez, tal era a alegria. Fiquei ainda mais emocionada. Que bom sentir um calor tão grande vindo de uma médica.

Almoçamos os dois num restaurante onde costumamos almoçar quando vamos lá. Tivemos das conversas mais agradáveis e abertas de sempre. Sentimo-nos ainda mais próximos. Ainda mais ligados.

Hoje de manhã mais uma despedida. Mais uma vez, partida ao meio.

"Porque metade de mim é partida. Mas a outra metade é saudade."
Oswaldo Montenegro.

6 comentários:

Lurdes JC disse...

Amiga, estes teus textos deixam-me sem palavras...
Por isso apenas te deixo aqui...
um gd bj para ti e para o teu filho que anseio conhecer...
Lurdes Jóia

Helena disse...

Olinda,
Desde que tu me envias-te um texto sobre a saudade que sinto muita vontade de o partilhar porque é absolutamente intenso mas muito muito bonito. Como não consigo por aqui vou mandar-te por e-mail. Fala de saudade e de quem vive dividido, como tu, como eu. Tu estás dividida entre o Porto e Lisboa. Eu entre o quanto gosto da vida aqui na Terra e da vida lá em Cima onde o sorriso da Sara me espera. Quando nos encontramos e nos despedimos ela diz-me quase sempre a mesma coisa:
-" Não desistas de ser muito feliz!"
É incrivél como conseguimos viver divididas, descobrir quem somos porque esse estado nos mantem frágeis e ainda nos conseguirmos sentir muito felizes.
A Vida é mesmo abundante.
Estou a ouvir uma musica no blog da Lurdes e que fala sobre chorar a chuva.
Estou feliz por sermos amigas, mesmo muito.
Tua amiga (e fã :))

Lena

Essencialma disse...

Ao contrário de sempre, hoje não tenho muitas palavras!!
Adoro os teus textos...
E sabes o que igualmente me deixa feliz, e mexe comigo...essa vossa amizade!! é lindo ler os comentários, sentir o amor!!
Não conheço a Helena, apenas de a ver, mas os comentários que tenho lido...
sem palavras, só um amor, que não se escreve!! Muito bonito!!

E por coisas assim, é que sempre consegui de não deixar de acreditar que a vida haveria de valer a pena, e agora mais que nunca, já percebo que vale, é mais fácil acreditar nisso!!

Beijo muito grande

Olinda Cristina disse...

Lena, não consigo partilhar aqui o o vídeo de que falas, por causa do formato. Ter a tua amizade é mesmo das coisas que me faz mais feliz! E que tb sou tua fã incondicional, já tu sabes! Obrigada amiga e nem sabes o prazer que me dás cada vez que vens aqui! beijo enorme

Olinda Cristina disse...

Tb eu gostava que conhecesses o meu filho, Lurdes! Sou uma mãe babada! Beijos minha amiga!

Olinda Cristina disse...

Beijo grande Cláudia, e é verdade, por mais momentos difíceis que a vida nos traga vale sempre a pena. Acho que o melhor de tudo é dar-mos valor à vida. E se não forem as dificuldades de vez em quando ...torna-se sem sabor.