segunda-feira, 26 de março de 2012

ESTA, SOU EU.

Mergulhei no mar e senti aquela leveza de ter deixado na água o que mais me pesava.

Adormeci na areia e quando acordei tive a sensação de não estar fisicamente na praia. De não estar lá o corpo. Mas estava. Claro que estava. Mas não parecia. Olhei para o corpo como se precisasse de me certificar. Sentia-o como se tivesse ido comigo durante o sonho e não tivesse voltado. De tão estranhamente leve que estava. Não era estranha a leveza no peito, do espírito, da alma. O que era mesmo estranho era a leveza do próprio corpo, quase como se não o tivesse. É normal sentir isso em meditação, quando estamos fora do corpo. O que não me pareceu tão normal foi sentir isso ao acordar na praia.

Hoje já tinha estado na praia algumas horas. Já tinha apanhado muito sol. Mas não tinha mergulhado. E quando cheguei a casa resolvi lá voltar. E mergulhei. O primeiro mergulho deste ano. Foi melhor do que podia esperar.

Depois do banho de água salgada, o banho de água doce, em casa. Eram 19h e de repente lembrei-me de quando eram 19h num Verão há cerca de 27 anos atrás.

Estava no Mindelo. Como todos os anos, estava lá a passar férias. Com pais e irmão, e tios e primos, todos na mesma casa. Como fazíamos todos anos, também.

E a casa desse ano (que foi por mais um ou dois) era muito especial. Desde a lareira redonda no meio da sala, até um quarto que era uma camarata, cheio de camas para crianças. Que não chegava a ser usado porque apesar de sermos muitos, havia quartos individuais suficientes para todos.

E do meu quarto eu via o sol a pôr-se. E todos os dias, ao chegar da praia tomava o meu banho à hora em que o sol se punha. Ao som da RFM que às 19h transmitia um programa de que não me lembro o nome, mas que era só de músicas calmas que eu adorava. Então iniciei um ritual. Todos os dias àquela hora eu tomava o banho, a ver o pôr do sol e e a ouvir aquelas músicas. E era o meu momento preferido do dia.

Gostava tanto da praia, gostava ainda mais de estarmos todos juntos. Gostava de ir ao café, a seguir ao jantar, encontrar-me com os amigos. Mas por muito bom que fosse tudo isso, nada era tão bom como aquele ritual. Do banho, dos cremes, dos perfumes, do sol laranjo-avermelhado e da música.

Lembro-me de num desses dias ter olhado para o espelho e ter gostado muito de mim. E raramente isso voltou a acontecer. Até há muito poucos anos atrás.

E hoje quando me lembrei disso senti uma nostalgia e revivi o grande prazer que sentia nesses dias. E percebi porque é que na altura gostava de mim.

Porque sem o saber respeitava a minha energia. O meu ritmo. Ficava no meu centro. Tinha aquela hora só para mim. Só para estar comigo. Passava-a da maneira que gostava. Com música e paisagem que adorava. A cuidar de mim.

Da mesma forma que fiz hoje. O banho quente em casa, depois do banho de mar. A música. Os cremes. Os aromas. O tempo. Sem pressa. Esta, sou eu.

 
Posted by Picasa

4 comentários:

Anónimo disse...

Lindo!

Lurdes JC disse...

Tinha muitas saudades de voltar a ler as tuas historias reais. Basicamente esta é frase básica para o tanto que deixas aqui. Se fosse só aqui... Nao é... Deixas nos nossos coraçoes. Pelo menos no meu.
Obrigada por tudo.
Basicamente é isto que te quero dizer...
Um Gd abraço
Lurdes Jóia

Olinda Cristina disse...

Obrigada, anónimo/a!

Olinda Cristina disse...

Aquela boca do básico saiu-me cara, estou a ver!...
E basicamente é um abraço gigante que te quero mandar!