sábado, 7 de abril de 2012

EU E O MEU CORPO

"Não temas, porque para onde fores eu vou contigo."

Nunca tinha ouvido Jesus usar este termo. Pareceu-me até um pouco bíblico. Estava a responder-me a algum receio que eu estava a sentir por me estar a levar para uma nova dimensão. Nova para mim. Explicou que se por esta altura no ano passado me falou no Calvário, agora me estava a falar na Ascensão. Senti uma frequência mais alta do que qualquer outra que tivesse sentido. E pelo corpo uma corrente eléctrica. Na verdade nunca tinha sentido nada de tão alta frequência, etérea e física ao mesmo tempo. Para mim foi até um fenómeno estranho. Porque até hoje, sempre que elevava a frequência deixava de sentir o corpo. Explicou-me que a reacção de hoje tem a ver com a subida de frequência também do meu corpo.

Ainda ontem, quando comecei a fazer um exercício de meditação com uma determinada finalidade, me mostrou que não, que eu não ia tratar nada do que estava a pensar, mas que ia tratar a relação com o meu corpo. Continuar a tratar.

E pediu-me para me ver a sair do corpo como se tivesse uma porta que abrisse metade para cada lado. E que olhasse para ele, de fora. E que o envolvesse num abraço. Que desse colo ao meu corpo. Chorei, chorei, chorei...Já fiz isto muitas vezes, mas a emoção ainda é muito grande. O que neste caso quer dizer que ainda tenho muito que tratar. Pediu-me para voltar a rever a minha relação com o meu corpo desde pequenina. Que voltasse a sentir os momentos que para o meu corpo foram mais difíceis.

Sempre me senti vítima de violência psicológica devido ao meu corpo. Como se as pessoas que eu amava me obrigassem a manter-me magra para continuarem a gostar de mim. Ontem percebi mais claramente do que nunca, que quem mais exerceu violência sobre o meu corpo, fui eu. Exerci uma violência atroz. Verdadeiramente atroz. Para me manter magra passei fome durante muitos anos. Porque acreditava que só gostavam de mim se me mantivesse magra. E virei-me contra o meu corpo. E fiz as dietas mais desumanas até aos 30 anos. Todas as que se possam imaginar. Consecutivamente. Desde os 8.

Durante anos e anos tomei medicação para inibir o apetite que hoje é completamente proíbida. Recorri a todo o tipo de médicos. A todo o tipo de tratamentos.

Uma vez ia ficando maluca. Estive 10 dias sem mastigar uma migalha sequer, só bebia o xarope de seiva. Pelo 9º e 10º dias, quando ouvia o barulho de talheres de alguém que estava a comer sentia-me quase a enlouquecer. Entrava em casa e cheirava-me a bifes e batatas fritas. Eu que naquele casa nunca tinha fritado uma única batata nem cozinhava bifes.

Anos antes, quando andava na faculdade e vivia num apartamento com as minha primas, recebi um dia a visita inesperada do meu irmão que viu que as minhas primas estavam a jantar à mesa e eu estava no sofá a tomar chá e a comer uma tablete dietética. Zangou-se comigo e disse-me que eu ainda ia pagar isso muito caro.

E paguei. Aos 30 decidi que não ia passar mais fome e que não ia fazer mais dietas. Inconscientemente devia saber que o meu corpo não aguentava mais. Que ou parava ou acontecia algo verdadeiramente grave. E comecei a engordar quase sem parar. E fiquei na situação de ter que encarar o que sempre quis evitar. E que antes de esperar o amor dos outros tinha que me amar a mim. Incondicionalmente. Ou seja sem condições. Magra ou gorda. E só quem me aceitar assim estará também a ser capaz de amar incondicionalmente. E não é esse tipo de amor que eu gostaria de conseguir emanar e receber?

Ao longo da minha vida, conheci mulheres consideradas físicamente perfeitas. Algumas, passados uns minutos de conversa deixavam-me a pensar que o aspecto não era mínimamente suficiente para se querer estar ao lado delas. Outras eram profundamente infelizes por se sentirem rejeitadas, traídas e maltratadas. Percebi que o corpo que tinham não era garantia de nada. Mesmo assim, ainda não me aceitava.

Ontem, na meditação ao olhar para o meu corpo senti uma enorme compaixão por tudo a que o sujeitei. Quem sou eu para criticar a violência de alguém se eu fui de uma violência atroz comigo mesmo? Se eu fui o meu próprio carrasco?

Eu não sabia que o meu problema não era a comida mas sim as emoções que eu comia.

Tenho pedido um perdão sincero ao meu corpo. Assumi um compromisso em o aceitar. Porque muito é ele depois de tudo o que eu lhe fiz. É quase com vergonha que confesso que ainda me apanho muitas vezes em atitude crítica para com o meu corpo. Ainda tenho muitas vezes dificuldade. Não percebo porquê. Uma vez que já sei por experiência própria que o corpo não é nada e é tudo. Não somos o nosso corpo, mas é a única forma de estarmos aqui.

Quando o abraço, adoro-o. Sinto uma grande amor por ele. E rendo-me a ele. E a tudo o que ele fez por mim. Só agora tenho noção de tudo o que ele fez por mim. Protegeu-me constantemente. Apesar do desgaste que lhe provoquei. Apesar de o ter levado ao limite. Foi fundamental no meu processo evolutivo. Ajudou-me a não me dispersar quando era hora de não o fazer. Agora ajuda-me a manter-me frágil e centrada. Ajuda-me a não valorizar o que não tem valor. E a valorizar o que tem. E tenho uma gratidão incomensurável por ele. E se não for capaz de o aceitar e amar tal como ele é (e ele é exactamente o que eu preciso que ele seja) então que ando eu cá a fazer?

5 comentários:

Diario de um Sonho disse...

És linda amiga. Não olhes só para o que gostas menos. Olha para os teus olhos, para o teu sorriso, para a tua gargalhada contagiante. Tudo isso também é o teu corpo.
Ádoro-te amiga. Sobre a energia electrica gostava de falar contigo pessoalmente.
Um grande xi-coração para a minha amiga e sócia.
Lena

Rodrigo disse...

Oi Olinda

Todos temos coisas em nós que não gostamos... acho que deves de ficar muito feliz pela escolha que fizeste - crescimento a nível espiritual. A escolha que fizeste permitiu que hoje tenhas consciência daquilo que fizeste a alguns anos atrás. Deste forma darás um maior valor ao teu corpo, vais querer protege-lo vais querer ama-lo... independentemente da forma que ele tenha... Não te esqueças de dançar... ficarás mais à vontade contigo... ;)

Beijos

Olinda Cristina disse...

Lena, minha amiga, cada vez tenho mais noção da benção que estou a receber por poder "conversar pessoalmente" contigo com mais frequência. Contigo e não só...o mistério ainda está no ar mas em breve vai desvendar-se. Acho que é mesmo das maiores bençãos da minha vida. Xi-coração tb para ti amiga e sócia e não só.

Olinda Cristina disse...

Rodrigo, estava a pensar que da importância de dançar e do à vontade connosco mesmo que isso nos traz, percebes tu...ou o exercício não tivesse a ver com a tua formação. Por isso chamas sempre a atenção...percebo melhor. Ainda no Sábado dancei, mas pouco. Não me estás a falar nisso por acaso e vou ter mais atenção. Ainda vou ficar uma dançarina...Obrigada, Rodrigo e beijos!

Sílvia disse...

Olá Olinda :)
perdi-me completamente a ler estes textos, adoro, e pensava, 'comento'/'não comento', mas este precisa mesmo de um 'comment'.
Eu quando vi a Olinda pela primeira vez, no curso no Porto, achei-a linda linda e o facto de se estar sempre a rir tornava-a mais maravilhosa ainda. Quando a vi de perto, na Limpeza no Porto, meu Deus, a Olinda é a mulher mais bonita que eu já vi, e brilha tanto que se torna um deslumbre essa luz toda passa cá para fora e faz-nos ver a nossa própria luz. Tudo em si é bonito, desde os olhos «que falam com a expressão da alma», como Ele diz, ao sorriso, até a pele brilha até às estrelas e isso só demonstra que está feliz e ninguém a ia amar mais se fosse magrinha, pelo contrário, tenho a certeza que perderia metade do encanto que tem e que todos à sua volta a amam muito tal como é. Eu ainda não conheci nenhuma pessoa magrinha que me fascinasse tanto com a Olinda, e isso é a prova de que um corpo magro não é de todo o mais importante.
Não vejo a hora de estar consigo no Porto daqui a três semanas para a TEI, que não aconteceu da primeira vez por motivos que Ele conhece de certeza, e valeu tudo xD.
Um abraço :))
Sílvia