segunda-feira, 9 de julho de 2012

3º DIA

Vim do hospital extremamente cansada. Apesar do Zé Miguel se sentir muito melhor, a presença de mais dois rapazes no quarto, com 16 e 18 anos, tornou o ambiente mais pesado.

O que é natural, porque foram operados hoje, estão desconfortáveis, não queriam estar ali, tinham dores e muita fome. Um até dizia que hoje era capaz de comer um porco. Já para não falarmos da preocupação das mães que estavam com eles.

O Zé Miguel sempre que olhava para mim perguntava o que é que eu tinha, porque o meu aspecto revelava como me estava a ser muito difícil tornar a energia mais leve. Embora estivesse sempre de olhos abertos, houve um momento em que tentei ser mais eficaz e fechei os olhos, mas o Sr. Joaquim deu-me um berro. Pensou que eu estava a dormir e meteu-se comigo: "Então que é isto? Dormimos a esta hora?" Resignei-me à minha condição de desvantagem.

E no caminho de regresso para casa comprovei o estado em que eu estava. Enganei-me no trajecto. Andei uns 20 minutos perdida. Acontece sempre, sempre, que estou energéticamente mais carregada. Ao contrário, de manhã, quando ia, sentia-me tão leve e conectada, que me deixei teleguiar. Fui por um trajecto completamente desconhecido para mim, passei por estradas onde nunca tinha passado na vida, e fui ter pertinho do hospital e mais rápido do que pelo trajecto conhecido. Assim que vi que tinha chegado lá sorri abertamente. Adoro fazer isso. A Kleo até diz que eu tenho um GPS incorporado, porque me viu ir direitinha a sítios por intuição.

Quando finalmente encontrei o caminho, pus-me a pensar em como foi o dia, e afinal tudo se resume a confirmar o tamanho do meu amor pelo meu filho. Que na verdade, espero que não tenha tamanho, que não seja limitado. Que seja infindável. Durante todo o dia reparei em como ele estava a lidar com a situação. Conformado e a lidar com as dores com toda a naturalidade. Cheio de drenos e em estado fisicamente muito desconfortável, ficou resignado quanto à possibilidade de não ter alta amanhã. A achar que nada tinha importância. Trocava piadas com o Sr. Joaquim. Desafiado por ele foi convidar as senhoras do quarto do lado para uma sueca.

Eu que sou testemunha do percurso dele, fiquei realmente estupefacta com a coragem que ele demonstra. Já disse isto e repito: não acredito que eu tivesse a coragem dele.

Mais uma vez senti que o meu filho é o meu herói. E enquanto escrevia estas linhas enviei-lhe uma mensagem a dizer isso mesmo. Que ele é o meu herói e que o amo de paixão.

E ele respondeu agora, com várias mensagens que me voltaram a deixar siderada. Revelam uma ampliação de consciência desde que me escreveu aquele mail que aqui divulguei...Revelam um amor surpreendente, e que é, sem dúvida, o melhor que tenho na vida...são as mensagens mais lindas e importantes que recebi na vida... Estou em choque de emoção. Não sei que mais dizer...e estou imensamente feliz. E tudo vale muito a pena.

2 comentários:

Pedro Quitério disse...

Com que então GPS incluído..., de origem ou foi um extra?....
Agora mais a sério.
Aqui está a prova de que as situações dificeis, são por vezes sublimadoras e provocam alterações nunca imaginadas... Ainda bem que elas acontecem.
Cada vez estou mais convencido que é uma benção, e não uma infelicidade, passarmos por elas.
Tornam os seres humanos mais ligados, entre todos e em si próprios.
Agora que não tens o sr. Joaquim, podes fechar os olhos... mereces descansar.
Abraço e beijinhos.
PQ

Olinda Cristina disse...

Fizeste-me rir, Pedro...

Beijinhos e abraço