domingo, 11 de novembro de 2012

A TRISTEZA DAS VIAGENS

Ainda não parei de chorar. Desde que me despedi da Lena, às 10,30h, que choro sem parar. Cada vez me custa mais a despedida. Cada vez me custam mais as viagens. Cada vez me custa mais carregar as malas e arrasta-las pelas estações. É meio dia de Sábado e estou no comboio a arrancar de Santa Apolónia em direcção ao Porto. Estou cansada. Apetecia-me passear pela marginal, por Lisboa e desde que acordei estive a fazer malas e a apanhar transportes. Para cima, para baixo. Para a frente e para trás. Esta tem sido a minha vida. Às vezes sinto que é uma grande bênção. Outras vezes sinto que é um grande desgaste. Na verdade, sei que é tudo ao mesmo tempo. Uma bênção porque posso estar parte do tempo em locais que adoro, com pessoas que adoro. Posso aproveitar o melhor de dois lados. O melhor de estar em Lisboa e depois o melhor de estar no Porto. Gosto de estar nos dois lugares. E isso é uma bênção. Mas ter que andar sempre com malas e passar horas e horas em viagem, é muito cansativo. Um cansaço que me fragiliza, me desgasta, me desenraíza, e por isso também me torna mais leve. Me permite voar. Porque não estou presa nem ancorada a nenhum lugar. As viagens dão-me asas. Só que hoje não me apetecia voar. Hoje apetecia-me ficar quieta. E por isso quando estava na estação de Algés, à espera do comboio para o Cais do Sodré, para daí ir para Santa Apolónia, as lágrimas começaram a cair-me. Sem parar. Limpava, limpava, e continuavam. Comecei a sentir-me quase envergonhada. Entrei no comboio com as lágrimas a rolar pela cara. Pensei que era uma situação estranha. Passar pelo corredor do comboio e enfrentar aquelas pessoas todas com lágrimas a cair. Depois o único lugar vago era em frente a duas pessoas. Que olhavam para mim enquanto eu continuava a limpar as lágrimas. Já no táxi a caminho de Santa Apolónia, olhava para o rio , para o sol a abrir, e as lágrimas caíam.

Agora já aqui estou no comboio para o Porto, e continuo. Estou a pensar que às tantas vou chorar todo o caminho. E estou lembrar-me do que aconteceu em Setembro. Era sexta-feira ao fim da tarde, e antes de ir apanhar o comboio para o Porto pedi à Lena que me fizesse uma limpeza energética. Quando acabou ela disse-me: “Jesus esteve a limpar-te e disse para não ires a chorar toda a viagem no comboio, para olhares para o que se passa à tua volta e te lembrares que Ele está contigo. Que desta vez não é para ficares triste. “ Nem por um segundo duvidei do que a Lena me estava a dizer mas respondi que achava isso muito estranho porque eu não me estava a sentir nada triste, pelo contrário, estava alegre e bem disposta e por isso não estava a compreender o “recado”. Despedi-me dela e quando ia a caminho da estação peguei no telemóvel e vi que tinha quatro chamadas do meu filho. Não era normal, porque ele sabia que à hora a que tinha ligado eu não podia atender. Liguei-lhe, apreensiva, e ele disse-me que estava no hospital, que tinha ido de urgência porque a enfermeira que lhe estava a fazer o curativo no centro de saúde ficou alarmada com o estado da cicatriz e mandou-o para o hospital mas que no hospital também não estavam a perceber o que se estava a passar com a cicatriz, e recomendaram que fosse visto no IPO. Fiquei arrasada, triste, e quando desliguei comecei a chorar. Só mais tarde, já no comboio,é que me lembrei do que a Lena me tinha dito. E compreendi o “recado”. Mas estava a ser difícil parar de chorar. E comecei a ouvir Jesus dizer-me para olhar pela janela. E vi como o Céu estava a ficar cor de rosa e lindo. E Jesus dizia-me para eu continuar a olhar, que era Ele. E nessa altura eu já chorava era de comoção pela presença e protecção d’Ele. Às tantas sentia-O comigo no comboio e dei por mim muito esticada, imóvel como uma estátua e a olhar pelo canto do olho, como se não O quisesse perturbar e para Ele continuar ali. Ele riu-se e disse-me que estava ali para eu descontrair, não para eu ficar em tensão. Realmente, que absurdo. Acabei por rir também e ficar a desfrutar de tamanha bênção. Porque no momento em que conectamos com a energia d’Ele o mundo pára. Tudo perde importância e as preocupações deixam de existir. O Mundo e a Vida ficam perfeitos e deixamos de precisar seja do que for. Descontraí e confiei, como sempre faço, que iria acontecer só o que tivesse mesmo que acontecer.

No dia seguinte o médio do IPO disse que afinal a cicatriz estava perfeita e que as enfermeiras se tinham alarmado com algo que só aparentemente era grave, mas que afinal era uma reacção da pele própria de um processo de cicatrização daquela natureza. Alívio.

Os tais altos e baixos que me fazem sentir que a vida é uma montanha russa. Para cima e para baixo, como estas viagens. Não pertenço a lado nenhum. Tal como não pertenço a ninguém. E este estilo de vida (que não é novo para mim, porque tenho memórias de vidas passadas de nómada) faz-me treinar a libertação de apegos. Ajuda-me a libertar-me de coisas, para facilitar as viagens. Ajuda-me a ficar só com o essencial.

Agora vou meditar. A ver se o choro pára e se começo a vibrar pela alegria de estar a caminho de ver e abraçar o meu filho, e que é a razão destas constantes viagens.

Logo que fechei os olhos Jesus disse-me para olhar pela janela e para imaginar que via lá fora a Olinda Cristina a dançar. Tal como os passageiros do outro comboio a viram , quando passaram por ela. Sorri. E Ele disse-me que eu preciso de mim. De me lembrar da minha própria alegria. Que eu sou a minha maior inimiga, quando me auto boicoto, mas que também sou a minha maior amiga.

Recebi agora uma mensagem da Lena. Termina assim: “Boa viagem amiga querida.”

Ela sabe como está a ser difícil para mim. Sabe o quanto me custou hoje a despedida. A mim e a ela também. O Rui já tinha saído de casa e ao fechar a porta voltou para trás para se despedir melhor quando se lembrou que eu ia demorar mais tempo do que o costume a voltar.

Ontem tínhamos feito um jantar em jeito de despedida provisória, com brinde e tudo. Rimo-nos tanto, sentimo-nos tão bem na nossa alegre casinha, que cada vez nos custa mais separar. Deixar, largar, perder, tem sido a minha vida. Partir, chegar. Para logo a seguir partir outra vez.

Viver num lugar, com o filho no outro. Faz com que eu nunca me possa acomodar, instalar. Nunca posso ficar só em Lisboa, nem nunca posso ficar só no Porto. Há dias Jesus mostrou-me a mim a pairar no ar. E disse que ali é o meu lugar. A voar. É bonito, realmente. Mas às vezes cansa. Como hoje.

Cheguei e abracei o meu filho, que estava a dormitar no sofá. Ele abriu os olhos e disse: “Mamã, estás tão linda!...” E tudo passou. E senti-me muito feliz por poder abraçá-lo e beijá-lo.


Sábado, 10.11.2012



4 comentários:

Lurdes JC disse...

Hoje de manhã acordei e vim aqui ao teu blog. Dei por mim a ler e a chorar. Veio-me à memória quando eu fazia também as minhas viagens de Lisboa para a minha terra.E como te conheço e sei o quanto sensível és, imaginei o teu coração a chorar de saudades daqui e com saudades de lá... Aconteceu-me no Verão passado, quando me vim embora da minha terra, as lágrimas caíam e eu disfarçava. Se me perguntassem porquê? Porque chorava? Não saberia responder... E ao ler este teu texto, senti a tua emoção emocionar o meu coração. Tive saudades dos nossos brindes, tive saudades e vou ter... Muitas saudades tuas.
Beijo grande amiga
Aguardo por ti de braços abertos para festejarmos... Ainda não sei bem o quê...

Lurdes Jóia a tua grande amiga e fã... Por falar em fã, as tuas fãs chamam por ti... E dizem que ou vens rápido ou vão aí... Sabes que mais eu vou com elas... LOL

Helena, Rui e Olinda disse...

Alô Olinda Cris. Aqui casa de algés Chama...
Aproveita para matar saudades do Zé. Eu e o Rui estamos a matar saudades nossas, mas temos ao mesmo tempo saudades tuas.
Sabes que estou feliz por vivermos esta experiência. Sinto-me uma previligiada.Pela experiência e por ter uma amigaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa como tu.
Beijinhos
Lena

Olinda Cristina disse...

Lurdes, vires cá ao Porto é que era uma grande ideia, e temos sempre motivos para festejar, isso é o que nunca falta. Brindar é uma cena que nos assiste...lol...Bora lá :)))))
Big big hug.

Olinda Cristina disse...

Daqui Olinda Cris, respondo a Casa de Algés...cambio...:))) Tb estou super feliz, por arriscarmos esta experiênciae que se tem revelado grande fonte de alegria, amigaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa :))))))

beijinhos da Invicta.