sexta-feira, 3 de maio de 2013

AS BOAS NOTÍCIAS SÃO OFICIAIS!

Sim, as boas notícias são oficiais. Hoje o Zé Miguel teve a consulta que confirmou "oficialmente" o resultado dos exames, e o que tem é apenas uma infecção causada por um vírus. Respiramos de alívio. Para já só vai ter que tomar antibiótico.

Ir ao IPO é sempre um acontecimento. Que começa logo no parque de estacionamento e nos questionamos como é possível estar tanta gente cancerosa, quando vemos os milhares de carros estacionados.

No corredor a psicóloga de pediatria veio ao nosso encontro para falar como Zé Miguel,  e ao cumprimentá-la perguntei-lhe como estava a filha. O segundo que ela demorou a responder fez-me logo perceber que ela estava à procura das palavras para me dizer que a filha tinha morrido. As lágrimas começaram a cair-me e pedi desculpa. Não consegui parar de chorar. O Zé afastou-se um bocadinho enquanto a doutora me consolava e me dizia que estava tudo bem. Que tinha tido outro filho, e que embora não compensasse, nem substituísse, estava tudo bem. Mas eu não conseguia parar de chorar. Só conseguia pedir desculpa. Até queria parar de pedir desculpa mas não conseguia. Tinha sentido que era uma violência tão grande levar alguem a ter que responder que a filha tinha morrido, que não conseguia parar.

A doutora estava no final da gravidez quando o Zé iniciou o tratamento no IPO e passado pouco tempo entrou em licença de parto. Um dos grandes choques que tive nesse ano, foi quando um dia soube que ia dar entrada no quarto ao lado do Zé uma bebé de três meses e que era a filha da Dra. Susana.

Entretanto, já depois do tratamento do Zé ter terminado, chegamos a encontrar-nos na sala de espera do hospital de dia, quando o Zé ia às consultas de rotina e ela também ia com a bebé.

Sempre foi um dos meus grandes medos ali. Perguntar a uma mãe ou a um pai pelo filho e ouvir esta resposta. Sempre tive dúvidas se devia ou não perguntar. Mas não é uma situação de que se possa fugir. Já me aconteceu encontrar lá pais de meninos que eu já sabia que tinham partido, mas ir ao encontro deles para os abraçar quando já sabemos, é diferente.

Tivemos tempo de ir visitar o piso 12, o de internamento pediátrico, onde o Zé gosta de ir visitar as enfermeiras que o trataram e as professoras que estão lá no acompanhamento dos meninos. Mostram-se sempre espantadas com o bom aspecto dele. E quando falam de outros meninos que estiveram lá ao mesmo tempo que o Zé, sinto sempre um conforto por perceber que estão vivos.

O confronto com a morte não podia ser mais real. Por mais coisas que saibamos sobre a vida e a morte. Por mais que acreditemos que a morte não é o fim e que a vida continua, sabemos sempre que esta separação ainda envolve dor. E muita.

Não só a morte. O próprio tratamento é mais do que doloroso. Reparei numa jovem muito alta, que vinha a arrastar o suporte do soro, ajudada pela mãe. Reflectia um grande sofrimento físico. Digo uma jovem, mas comentando depois com o meu filho ele disse que tinha reparado e achava que era um rapaz.  Sem cabelo, neste caso não se percebia muito bem.

Mas foi a única pessoa que vi nos dois corredores daquele piso. Tanto eu como o meu filhos estranhamos. Na última vez que tínhamos lá estado não tinham vagas para todos os meninos que estavam em espera para entrar. Responderam que agora não, pelo contrário estão sub lotados. Perguntei a que é que se devia, que seria muito bom se fosse por haver menor incidência da doença, mas parece que é por cada vez recorrerem mais a tratamentos privados, sobretudo as pessoas que têm seguros.Penso que também será por recorrerem a tratamentos alternativos.

Enquanto lá estivemos o Zé não fez qualquer comentário sobre o acontecimento com a Dra. Susana e quando estavamso a almoçar comentou: "Hoje aprendi uma lição. Nunca perguntar sobre o filho de ninguem."  Ficou mais chocado porque  nas últimas semanas tem falado com a Dra. Susana e não suspeitava do que se passava com ela.

O mesmo tipo de choque já tinhamos tido quando soubemos que a sua médica, a Dra. Ana, estava de baixa porque tinha um cancro. Vê-la com o cabelo curtinho foi chocante.

E percebemos que somos todos iguais. E que ninguém está imune às voltas da vida, que está sempre a tentar falar connosco.

11 comentários:

Miguel Amaral disse...

Olá Cris, que alegria ao saber que tudo está bem, tudo isto são testes, para colocar à prova a nossa fé... Deus seja louvado!

Como sabes os teus textos, valem para todos, sempre nos identificamos com o que nos relatas.

Infelizmente lembro-me bem desses corredores... lembro-me de muitas coisas... mas essencialmente lembro-me do dia que fui buscar o meu Pai, depois do meu irmão ter falecido e ele me ter dado um abraço tremendo. E também me lembro da última vez que levei a minha Mãe, para ver o seu filho, e presenciei quando a trazia para o carro, que a vida dela a partir desse dia, tinha acabado... o que a segura ainda hoje... sou eu...

Sagrado coração de Jesus eu tenho confiança em Ti!

Um beijinho grande e até breve <3

sara disse...

"O confronto com a morte não podia ser mais real. Por mais coisas que saibamos sobre a vida e a morte. Por mais que acreditemos que a morte não é o fim e que a vida continua, sabemos sempre que esta separação ainda envolve dor. E muita."

Falta-me um bocado, tenho o coração apertadinho.
Mortinha por receber um abraço teu.
Beijo de Sol

sonia disse...

Engraçado... por diversas vezes quando venho ao teu blog ha uma cronica nova.... :)

Acredito que a dor quando é partilhada doi menos. Uma mãe ou um pai que partilha a morte de um filho(a), a alguém que lhes quer bem, está a partilhar e a limpar toda a gigantesca dor que carrega.

Que a luz invade o IPO!

xi

Sandra disse...

Oi Olinda, que boa notícia, quando passamos um aperto assim, a espera de resultados, o medo, a ansiedade e temos uma boa notícia, ficamos tão gratos, não é mesmo?
bjs e saudades
Sandra

Anónimo disse...

Olá Olinda !

Fiquei tão feliz quando li que o Zé está bem ... tinha ficado tão triste quando li o teu blog, depois da minha consulta do TEI ... mas agora sinto o Amor e como devem estar felizes, que BOM !!!
Os teus textos são tão bonitos !!! Reflectem a sensibilidade que tens, a ternura, o carinho ... estes textos dão-me força para acreditar que o caminho da LUZ não é fácil mas vale a pena !!! Embora, ás vezes, o "aperto no peito" insista em não ir embora ... Obrigado por partilhares um pouco de ti !

Um abraço cheio de Amor e de Luz !

Olinda Cristina disse...

É verdade, Miguel, passaste por momentos intensos e muito marcantes :))) É sempre muito bom conversar contigo. Um abraço apertado, daqueles solidários.

Olinda Cristina disse...

Também ansiosa por estar contigo e te dar um abraço forte, querida Sara!

Olinda Cristina disse...

Beijo grande Sónia!

Olinda Cristina disse...

É mesmo, Sandra (do Brasil)! Você sabe coo é isto...Beijo enorme!

Olinda Cristina disse...

É mesmo, Sandra (do Brasil)! Você sabe coo é isto...Beijo enorme!

Rosa Fernandes disse...

Antes de mais fiquei muito feliz que o teu filhote esteja bem! Que boas noticias! Quanto ao resto estou de coração apertado...escreves com o coração, isso sente-se claro, e passa para quem lê... relembra-nos situações que muitos de nós passamos e embora saibamos que não é o fim, deixa-nos mesmo com o tal aperto cá dentro, uma sensação de estarmos na corda bamba... beijinhos de LUZ anjo azul