quarta-feira, 30 de março de 2011

IPO hoje- e o dia da notícia.

Hoje tivemos consulta no IPO e a confirmação das boas notícias (falo no plural porque é como se as consultas e os exames também fossem meus). Antes da consulta o Zé fez um Raio-X torácico mas só vamos saber o resultado na próxima semana.
Quando estávamos na consulta o médico recebeu um telefonema. Era sobre um Sarcoma de Ewing. Estremeci. Lembrei-me do dia em que me foi dada a notícia. Por este mesmo médico.

Na altura o Zé estava no Hospital S. João, a recuperar de uma operação a uma apendicite aguda. Três dias depois de ter caído violentamente de bicicleta por uma escadaria. A recuperação estava a ser demasiado lenta. E um dia chegaram ao quarto dois médicos que queriam falar comigo a sós.

Um deles era o oncologista pediátrico, que eu nunca tinha visto. As primeiras palavras que me disse, foi que o meu filho tinha um cancro maligno. Um cancro muito raro e agressivo. Que atingia quase exclusivamente adolescentes. Um Sarcoma de Ewing. Já não estava a ouvir. Já nem percebi o nome (quando dias depois fui pesquisar na net, procurei cancro que acabasse em “ing”...). Ele continuou a falar, eu continuei a olhar para ele mas já não ouvia. Lembro-se só de perguntar que palavras devia usar para contar ao meu filho. O resto não lembro. Pedi para ficar a sós.

Sempre fiquei a gostar do Dr. Nuno. Era directo, frontal, sem meias palavras. Mas não era bruto. Tanto o Zé como eu gostamos dele. E quando ele nos disse que tínhamos de decidir entre continuar no S. João ou ir para o IPO, lamentamos ter que o deixar. Ele deixou-nos as portas abertas e voltei lá várias vezes para falar com ele. Foi com ele que me aconselhei sobre a viagem à Alemanha. Sobre o Prof. Jurgens. Sempre lhe disse que embora não tivesse razão de queixa nenhuma dos médicos do IPO, lamentava que não fosse ele o médico do Zé. E ele sempre me respondia para não dizer isso, que o Zé estava muito bem entregue.

Um dia soube que o Dr. Nuno tinha vindo trabalhar para o IPO. E continuei a ir falar com ele sobre o Zé. Especialmente quando Zé teve que repetir uam ressonância porque resultado não era claro. Em Outubro passado, num dia em liguei para o IPO por causa de uma consulta do Zé disseram que ele já não ia ser atendido pela médica dele…que ela estava de baixa…perguntei se era grave…a enfermeira respondeu que era a doença da casa…comecei a chorar…a enfermeira dizia para não me preocupar que ele ia ser atendido na mesma..expliquei que óbviamente que não era por isso que estava a chorar…era pela doença dela…Foi um enorme choque…Pedi se, nesse caso, podia passar a ser doente do Dr. Nuno. E foi assim que o Dr. Nuno passou a ser médico dele outra vez.
Quando hoje o ouvi pronunciar as palavras “Sarcoma de Ewing” revivi tudo outra vez…e contei-lhe, quando ele desligou o telefone. Contei-lhe também que na altura nem percebi o que ele tinha dito, embora tivesse fixado a sonoridade…

Pedi-lhe para me deixar tirar-lhe uma fotografia com o Zé…ficou bonita.

Já que falo nisto, vou publicar a seguir o texto que escrevi no dia em que fez um ano sobre o acidente do Zé.

3 comentários:

Lurdes disse...

As tuas palavras reflectem a luz que existe nesse teu coração... Tão grande! Tão grande!
Depois de lassares por uma experiência tão difícil e ao mesmo tempo tão enriquecerias...
Continua a brilhar, a luzir, a irradiar uma beleza infinita da tua alma...
Estava a ler, e as lágrimas começaram a invadir os meus olhos, senti como que um formigueiro arrepiante pelo corpo e os meus olhos espelharam a emoção, que me é mais difícil de exteriorizar, a verdadeira alegria e o choro que a ela se associa... E na verdade chorei... Chorei...
Estes são momentos tão especiais da alma...
Estou muito feliz... ( e como sempre a forma como exteriorizas e partilhas connosco é tão bonita e tão bem escrita!)
Um grande abraço
Lurdes

Lurdes disse...

Por motivos do corrector automatico ter alterado a minha frase, deixo aqui a correcçao do meu comentario.

Depois de passares por uma experiência tão difícil e ao mesmo tempo tão enriquecedora...
31 de Março de 2011 00:28

Olinda Cristina disse...

Lurdes, tocas-me...fundo. Nem sei como agradecer as tuas palavras...Mas posso dizer Obrigada! Um grande abraço também para ti!