sexta-feira, 22 de abril de 2011

SEXTA FEIRA SANTA E A DOENÇA DO MEU FILHO

Ontem "ouvi" que tinha que publicar um texto hoje. O texto que escrevi no dia em que fez um ano que o meu filho teve o acidente. E que tinha que ser hoje, na Sexta Feira Santa. Não estava a perceber a relação. De facto já tinha dito tantas vezes, até já tinha escrito em textos anteriores, que ia publicar aqui esse texto e acabei sempre por não o fazer porque sentia que não era a hora. Mas agora não estava a perceber porquê hoje. E Jesus explicou que era porque eu no texto falo do meu calvário...Fiquei surpreendida...é que não me lembrava sequer que nesse texto eu usei o termo calvário...

E como nada é por acaso...eu que não vejo televisão, e não ligo a de minha casa há meses (verdade!), só vejo em casa da minha mãe porque ela a tem sempre ligada e às vezes vejo apenas uns minutos, hoje, quando acordei vim para a sala e liguei a televisão...e quando estava a ligar estava a pensar..."O que é que se passa comigo hoje?"...comecei a fazer zapping e parei na TVI...o Goucha estava a entrevistar um padre, motard, vestido como tal, que estava a contar a experiência dele com o cancro.

Não vi a entrevista do início, mas percebi que tinha a doença há 6 anos, que agora estava com metástases, e que não sabia se teria meses ou semanas de vida. Contou como a doença o aproximou ainda mais de Deus, como a sua fé se reforçou. Perguntava a Deus o que é que Ele lhe estava a querer ensinar através da doença. E como descobriu tanta coisa sobre si e sobre os outros. Como houve pessoas de quem não contava, que lhe deram um amor totalmente incondicional. Que recebeu um mimo que nunca tinha recebido. E que houve outras que se afastaram. E como no meio disso tudo, aprendeu que era um privilegiado. E que estava sempre protegido. E como aprendeu a amar mais Deus.

Tudo o que eu também aprendi com a doença do meu filho. E sobretudo aprendi a amá-lo mais ainda, ao meu filho. Dediquei-lhe esse ano. Mas aceitei afastar-me a seguir. Porque percebi que amor não é apêgo. E que depois do meu divórcio ele tinha sido o centro da minha vida. Tinha-me apegado a ele e feito dele a razão da minha vida. E isso não podia ser. Eu tinha que ter uma vida própria. E aprender a amá-lo, tendo eu a minha vida, e deixá-lo ter a dele. Aceitei isso com toda a serenidade. Porque já tinha aprendido que podia nem isso ter.

Aprendi a ir largando. A largar tudo. Porque nada é meu. Tudo é da vida. E a vida dá, a vida tira. E o amor incondicional é isso. O que estou a aprender. Aprender a amar sem ter.
E agora aqui vai o texto que escrevi no dia 02 de Julho de 2009.

PS: E por falar em padres. Só houve dois dos que conheci, de que gostei. O que me casou, amigo da minha mãe, e que quando lhe perguntei dias antes do casamento, num jantar em minha casa, se não tinha que me confessar, ele me respondeu: "Tu não tens pecados pois não? Então já estás absolvida." Era como se ele soubesse que o pecado não existe. E é nisso que acredito. O outro, é um amigo da família da minha amiga Lu, que quando vi pela primeira vez, me fascinou com o seu longo cabelo negro, preso em rabo de cavalo. Missionário. Anos depois havia de ser ele a benzer o apartamento que comprei. Eu que não era nada dessas coisas, na altura achei melhor fazê-lo.Com uma boa disposição contagiante, ficou comigo e a Lu a ver futebol, a beber cerveja e a comer tremoços. Voltei a encontrá-lo no ano passado, com o cabelo mais curto e grisalho. Tempos depois deste último encontro Jesus disse-me que ele era a alma mais parecida com a minha que andava aqui na Terra. E que o que mais nos unia, era também o que mais nos afastava. A nossa fé. E a forma como a tinhamos professado. Que no caso dele o tinha levado para o Chade, em missão, onde vive há anos. E onde me convidou, a mim e à Lu, a visitá-lo.

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