sábado, 18 de junho de 2011

PIQUENIQUES




Hoje fui fazer um piquenique. Com a minha Mãe, a Lila, que trabalha cá em casa há mais de 20 anos, e a Sofia, que é filha da Lila e tem a idade do meu filho. O Zé Miguel foi para uma festa 24h no Kartódromo de Baltar.

E quando estavamos a arranjar a cestinha disse à minha Mãe: Prepare-se porque hoje não vai haver café.

É que há exactamente um ano atrás também fomos fazer um piquenique. Porque adoro. E então disse aqui em casa que ia fazer um e perguntei quem queria ir. Todos disseram que sim. Ficou combinado para o Sábado seguinte. Cheguei de Lisboa na manhã desse Sábado e a minha Mãe disse que eu estava a chegar em cima da hora, assim não tinha havido tempo de preparar tudo como devia ser. Mas na verdade tínhamos tudo o que precisavamos, porque a Lila, solícita, tinha preparado quase tudo. Entramos no carro e a minha Mãe e o meu filho não se calavam, a minha Mãe porque se queixava que as coisas tinham que ser devidamente planeadas e que não podíamos ir para um sítio que nem sequer conhecíamos, não sabíamos se iríamos gostar...que se calhar estava melhor na casa dela num dia de calor como aquele...e o meu filho a mesma coisa, que duvidava que em Rebordoa houvesse um parque de merendas em condições...às tantas, cansada de os ouvir, e ainda só tinhamos andado 300m, encostei o carro e disse que ia dar a volta e leva-los a casa porque ia para me divertir e com aquela atitude era impossível...que só ia quem queria e se eles não queriam...Calaram-se. Disseram que iam.

Segui as placas que indicavam o parque de merendas. Apesar de ser na nossa terra nenhum de nós conhecia. O caminho era de cabras. O carro enterrava-se na terra, mas como estava a ver um já estacionado mais acima estava a insistir...nem para cima nem para baixo...ninguém imagina o que eles já estavam a dizer dentro do carro...entretanto já tinha um jipe encostado atrás de mim. Não havia hipótese de dar a volta. O senhor do jipe veio oferecer-se para conduzir e tentar tirar o carro dali...bem lhe disse que com certeza ele também não ia conseguir, mas não quis ser orgulhosa e autorizei. Não conseguiu. Então com ele é que nem se mexeu mesmo. Ele então fez marcha atrás com o dele e consegui vir também a recuar para a rectaguarda (como diria a minha amiga Ana Catarina, imitando um polícia que dizia que tinha de voltar com a palavra à rectaguarda). Lá consegui sair dali e a Lila lembrou-se de um outro parque de merendas a uns 500m, pelos vistos a nossa minúscula e feia terra é fértil nestes parques...e lá fomos. A mesma conversa, que íamos enfiar um barrete...que não sei que mais...quando lá chegamos o sítio era muito bonito...lindo. Completamente preparado para piqueniques. Sombras fresquíssimas, escolhemos um lugar óptimo. Já sem mais defeitos para pôr, a minha Mãe a meio do almoço disse que por ter sido tudo feito à pressa, nem sequer tinhamos levado sobremesa...e naquele momento eu tive um desabafo..." Mas esta gente não confia em nada...Não acredita em nada...Só sabe pôr defeitos e queixar-se." É importante dizer aqui que a minha Mãe tem lá a fé dela que não sei muito bem qual é, desconfio que seja Fátima, mas de resto é céptica. Nunca falou comigo sobre o meu trabalho a não ser há uns anos atrás para dizer que não acreditava em nada. E para me fazer a vida negra quando me acusava de abandonar o meu filho para ir para os cursos e que ainda por cima era tudo uma seita. Eu chegava a ter o meu pai à minha espera na garagem a pedir-me para ter paciência quando entrasse em casa porque a minha mãe me ia soltar os cães. E assim era.

Bom, voltando ao tal piquenique. Estavamos a acabar o almoço e vimos 3 crianças a aproximarem-se com um tabuleiro na mão. E vinham mesmo na nossa direcção. Traziam metade de um bolo gelado. Identificaram-se. A menina que trazia o bolo era filha do dono do melhor restaurante da terra (por acaso muito bom mesmo - o Frade - até tenho amigos do Porto que vêm cá de propósito - para quem não sabe, Rebordosa fica a 34 Km do Porto). Disse que andava na escola de música de Rebordosa (eu nem sabia que essa escola existia)e que também estavam lá a fazer um piquenique e que ela tinha levado aquele bolo mas não se tinha comido todo, e resolveu vir-nos oferecer...engraçado é que a nossa mesa era a mais isolada e distante...e eles vieram aquela distância toda...

E eu disse "Afinal, parece que já não falta a sobremesa." E a minha Mãe respondeu: "Mas falta o café". Apre! Mas não demorou nem 5 mimutos. Reparem bem: nem 5 minutos. E ligaram um sistema de som lá do próprio parque e uma voz de homem disse ao microfone: "Somos a escola de música aqui de Rebordosa, e trouxemos máquina de café. Temos todo o gosto em oferecer a quem quiser tomar."

Olhei para a minha Mãe e para a Lila e elas estavam de olhos arregalados...acho que não estavam a acreditar...Fui com a Lila buscar os cafés (ainda hoje temos as chávenas muito giras, que nos ofereceram, transparentes).

No fim a minha Mãe disse: Não sei o que foi, mas algo aconteceu aqui hoje...

Ainda ficamos a ouvir os meninos da escola a cantar e fiquei absolutamente surpreendida com as vozes que ouvi...agora era eu que nem queria acreditar...

Agora Rebordosa, tem mais um parque de merendas, e fomos lá hoje almoçar. Mal chegamos lá a minha Mãe disse: "A minha filha é como as crianças. Muito gosta destas coisas..." Ela não sabe, mas está a fazer-me um grande elogio...

Hoje já não houve queixas nem exigências e a única coisa que me surpreendeu foi a àrvore que cresceu deitada...

3 comentários:

Pedro Quitério disse...

Mais uma história de encantar... Mais uma vez faz-me pensar como são as coisas desta vida...
Deixar fluir como eu dizia há muito tempo, quando achava que alguma coisa nos preocupava, antes do meu acidente...e não dava valor como fluia e corria, normalmente queremos que as coisas corram num determinado sentido e teimamos com a vida pensando que assim é que é, que, empurrando a vida as coisas que pensamos serem boas para nós, acontecem.... não há nada mais errado, a vida é que se encarrega de nos fazer ver, quando estamos cegos...e não agradecemos...
Realmente como disse a sua mãe: Alguma coisa aconteceu aqui..., a diferença é que já acontece há muito tempo, ou não seria a Olinda que escreve aqui... e tem tanto para contar, e tantos há espera que conte...
Bom resto de semana em Rebordosa, que quando aí está transforma-se de terra feia???? em terra linda.
E já tem parque de merendas novo...mesmo sem café....
Beijinhos e abraços.
PQ

Pedro Quitério disse...

Esqueci-me de lhe dar mais uma vez os PARABÉNS, foi preciso mesmo muita coragem para dar essa volta à sua vida....
Eu não sei se conseguia...e sinto-me um pouco perdido ainda com a volta que a minha vida deu...
Bem não digo mais nada...
Abraço

Olinda Cristina disse...

Obrigada Pedro! Sabe que na altura nem tive bem noção da coragem de que precisei...já era como se estivesse a a ser guiada e tivesse uma força que me puxava de tal maneira que eu nem hesitava, nem tinha dúvidas...agora olho para trás e vejo que realmente foi muito complicado...não tinha apoio de ninguém, absolutamente ninguém. Naquela época (em que comecei a fazer os cursos, inclusivé o de terapeuta) já estava a viver de novo em casa da minha mãe, com o meu filho. E se por um lado isso me dificultava tudo, pela oposição dela,que não aceitava de maneira nenhuma que eu estivesse a pôr de lado a minha actividade em advocacia, por outro ficava com o meu filho enquanto eu ia, e de outra maneira talvez eu não pudesse ter ido. No fundo, o Céu conjugou tudo para que eu pudesse fazer o que tinha de fazer. Enquanto testava a minha fé e determinação. Nos dias de aulas do curso de terapeutas chegava a casa às 3:30h da manhã...e às 8:30h tinha que estar a deixar o meu filho na escola...E no primeiro semestre tinha aulas em Lisboa 2 vezes por semana...Eu era a de mais longe. Nunca nada foi fácil. Mas por uma lado, ainda bem. Tudo fez de mim quem eu sou hoje. Ainda bastante imperfeita. Mas com uma melhor noção daquilo de que sou capaz. O que me faz acreditar que se eu sou, todos são.

Beijinhos e abraços Pedro. Muito obrigada por continuar aqui.