sexta-feira, 3 de junho de 2011

RIO DE JANEIRO

Ontem à noite vi que a Carlinda estava on-line no Messenger e lembrei-me da minha viagem ao Brasil...de que falo no texto FREEDOM, e de que ainda há dias falei, à Ana Cristina, a propósito da viagem dela a Praga, nos próximos dias. Está assustada por ir sozinha. E por isso lhe contei como também eu estava quando fui ao Brasil.

E hoje também a contei ao David, por motivos diferentes (já falei nele aqui e hoje achei um piadão que me tivesse cumprimentado com um inclinar de cabeça...ver um rapaz tão cool a fazer uma vénia não é comum...mas ele também de comum não tem nada...)

Talvez seja a altura de contar mais pormenores dessa viagem.

Conheci a Carlinda quando vinha no avião, de regresso. Vinha sentada ao meu lado. Portuguesa a viver no Brasil há 30 anos, tinha perdido o marido há poucos anos. Contou-me que acreditava que marido foi apaixonado por ela até ao dia da morte.Tinham sido felicíssimos. O choque de o perder foi tal (por ele, ela tinha ficado a viver no Brasil quando se casaram- ele era um arquitecto brasileiro conceituado) que ficou um ano de cama a chorar. Literalmente. Ninguem a arrancou de lá. Quando finalmente acabou de chorar tinha ganho uma nova vida. E uma alegria, pelos vistos, contagiante. Contou-me a sua vida e também que estava preocupada porque levava na bagagem feijoada brasileira para a família em Portugal e não se podia transportar comida.

Quando chegamos ao aeroporto fomos as duas seleccionadas para revistarem a bagagem. O guarda que olhou para o meu passaporte perguntou-me: é Molar? Não me diga que é filha do Sr. Mário Molar? De Rebordosa? Sou muito amigo dele. Já não precisa de abrir a mala. Está sozinha? Disse que sim, mas que aquela senhora ao meu lado se tinha tornado minha amiga na viagem. Então também não precisa de abrir as malas. A Carlinda disfarçou mas cá fora pôs-se aos pulos. E ficamos mesmo amigas.

Quando há dias falei na viagem à Ana Cristina contei como foi um desafio para mim do princípio ao fim. E como serviu para ser testada. Já acreditava na entrega ao Céu, que quando entregamos as coisas correm da melhor forma que é possível. Não quer dizer que seja da forma que gostaríamos, mas de todas as formas possíveis será daquela que for a melhor para nós. E quando cheguei ao aeroporto de S. Paulo, perto da meia noite, de onde teria que fazer ligação para Belo Horizonte, soube que a Varig tinha entrado em falência nesse dia e que já não havia voos para Belo Horizonte. Estava com um problema no roaming e não consegui fazer chamadas para ninguém. Também não estava a conseguir fazer a ligação a partir do telefone fixo. Estava a sentir-me preocupada e perdida. E a olhar para a imensidão do aeroporto e a pensar que ia ficar por ali a dormir. Entretanto já tinha tratado de entregar, entregar, entregar, o assunto ao Céu. Também me fui informando no balcão de outras companhias sobre voos para Belo Horizonte. Os que havia estavam lotados. Só haveria no dia seguinte. Nisto, na Varig fazem uma chamada de alguns nomes, muito poucos, que iam ser transportados por outra companhia, dentro de minutos. O meu não foi chamado. Mas um outro rapaz aproximou-se do que fez a chamada e segredou-lhe qualquer coisa ao ouvido. Ele voltou a olhar para a lista e disse que ia chamar só mais um. E chamou o meu.

Quando no véspera do último dia de viagem, cheguei ao Rio, no momento em que estava a abrir a porta do Taxi, no aeroporto pensei no feeling que tinha tido quando o meu irmão me ofereceu a viagem: de que o principal propósito era eu ir ao Corcovado. Que era uma prenda do Céu e que o principal propósito era relacionado com Jesus. E nesse momento estava a pensar em como finalmente estava a chegar ao Rio. E quando me sentei no banco e olhei em frente estava pendurada uma imagem de Jesus no espelho retrovisor...

É que a intenção do meu irmão foi proporcionar-me uma visita à Erica. E por isso a viagem foi programada só para Belo Horizonte. E ela disse-me que estava a fazer um programinha para fazermos algumas viagem pelo país, mas nem eu nem ela nunca falamos no Rio. Já em casa dela, falou-me nos sítios onde tinha pensado levar-me e falou no Rio. Eu pensei: pois, o Céu vai arranjar isto de maneira a levar-me ao Rio. Passados dias disse-me que já não íamos. E eu achei estranho, mas não disse nada. Seria como tivesse que ser, e eu sentia que estava a ser guiada pelo Céu, por isso não me ia intrometer. Ia deixar fluir. Até que mais tarde resolveu que afinal íamos. Bem me parecia.

À última da hora, quando já estavamos no Rio, a Erica foi chamada para um exame médico urgente, e voltou para BH. Eu fiquei um dia sozinha no Rio. Curioso, porque a Erica, sem eu perguntar nada, tinha dito que se recusava a ir aos locais turísticos e Corcovado nunca na vida...Agora, sozinha, eu já podia ir. Os amigos dela do Rio recomendaram-me vivamente que não pensasse sequer em ir lá sózinha (nesse dia um turista português morreu esfaqueado na praia de Copacabana), que seria completamente louca se o fizesse. Na véspera, quando estavamos na rua acabados de sair do restaurante onde foramos jantar (um dos mais bonitos que vi, e onde distribuíam listas de músicas desde os anos 60 até hoje, para escolhermos as queriamos que pusessem a tocar - a propósito a Erica levou-me aos restaurantes mais bonitos e maravilhosos de todos os lugares onde estivemos e onde tinha sempre amigos) a Erica deu-me um berro porque tirei o telemóvel da carteira para fazer um telefonema. Você não pode fazer isso aqui! Está louca? E ria-se com a minha ingenuidade. Mas eu, talvez, por inconsciência, não tinha medo. Tive em Belo Horizonte, onde não podiamos abrir os vidros do carro, nunca. E onde vi miúdos a assaltarem condutores de automóveis. Em Salvador também não tive medo.

Então, decidida a ir ao Corcovado, porque não tinha dúvidas que tinha de lá ir, pedi ao Céu que me continuasse a guiar e a proteger. Estava a ser desafiada a confiar na minha intuição e no Céu. Na verdade tinha começado a ser desafiada desde que recebi a proposta da viagem. Tinha percebido no primeiro minuto. Sabia que ia enfrentar uma série de medos e que ia ter que escolher, entre confiar no Céu, mostrar que acreditava, ou ceder aos medos que me tolhiam. E comecei a caminhar pelas ruas do Rio sem destino, à espera do que surgisse. Olhei para uma montra de loja de artesanato e senti vontade de entrar. Às tantas perguntei à senhora que me atendeu se me sabia aconselhar sobre a melhor forma de ir ao Corcovado sozinha. Ela explicou-me que a loja pertencia ao hotel do lado, e que tinham um taxista da máxima confiança que trabalhava só para eles. E ela foi-lhe perguntar se ele me levava lá e por quanto. Um rapaz novo, bonito e muito simpático. Levou-me, esperou por mim e trouxe-me de volta.

E tive lá a experiência que tentei descrever no texto FREEDOM, embora na verdade seja uma experiência indescritível. Três dias depois, já regressada a Portugal, a Alexandra, que não sabia da viagem ao Brasil, convidou-me para estagiar.

4 comentários:

Lurdes disse...

Nem consigo comentar, só sentir porque foi o teu primeiro texto sobre esta viagem que me trouxe até aqui. O resto que possa dizer vai ser sempre pouco para imensidão do que escreves.
Obrigada Amiga, por tudo.
Abraço muito grande
Lurdes

Lurdes disse...

E para complementar as minhas palavras, aqui deixo um vídeo.
http://www.youtube.com/watch?v=oeDB8Zd4GCw

Um abraço
Lurdes

Olinda Cristina disse...

Pois foi...e sabes que agora tenho falado dele a mais pessoas, graças ao efeito que teve em ti...e continua a ser até hoje o texto mais lido...FREEDOM! Obrigada por tudo! Imensamente grata. E obrigada também pelo vídeo. Mil beijos.

Lurdes disse...

Só posso dizer uma coisa "teve um efeito fabuloso em todos os aspectos". E nem sequer sabia de quem era... Claro só podia ser teu. Às vezes a vida dá-nos tudo e nem queremos ver, e quando menos esperamos, voltamos a ter as mesmas coisas mas em fases diferentes... E com os mesmos olhos, vemos o não queríamos ver... Quando prescindi do querer apareceu o Freedom... Falo dele a imensas pessoas, que me procuram,outras que não procuram, falo dele... É mágico porque encaixa em tantas situações... Tantas ...
Um abraço
Lurdes