Por ter estado hoje a ver projectos de arquitectura, lembrei-me do meu arquitecto preferido, o Paulo Horta, e de contar a minha história, que é ao mesmo tempo de sincronismos e de perda.
Adoro arquitectura, e durante anos coleccionei livros e revistas sobre arquitectura.
Quando estava casada, chegou a altura de construirmos uma casa num terreno que o meu ex-marido já tinha. Tive carta verde para ser eu a decidir qual o arquitecto que a projectaria, uma vez que era tão apaixonada pelo tema.
Andava eu a estudar o assunto, quando o meu irmão me perguntou porque é que não contratava um amigo dele, o Paulo Horta. Eu respondi que não conhecia o trabalho dele e achava fundamental indentificar-me com trabalho do arquitecto para lhe dar liberdade de criar. O meu irmão disse que isso não seria problema porque o amigo fazia o género de projectos de que eu gostava e o melhor era eu ir conhecê-lo.
Foi marcada a reunião no seu atelier e de seguida saímos para me mostrar algumas das casas projectadas por ele.
A primeira que vimos foi em Cête. Assim que olhei para ela comentei: Mas esta casa tem os mesmos traços de uma em Penafiel. Ele perguntou-me a localização da casa a que me referia e disse-me que foi ele que a projectou...Foi o meu primeiro espanto.
Porque essa casa de Penafiel foi a primeira que eu tinha visto de que tinha gostado realmente. Tinha gostado tanto, que quando passei por ela, por acaso, tinha parado o carro e saído para procurar alguem que me pudesse dizer quem tinha sido o autor do projecto. Toquei à campaínha, andei à volta da casa, mas não apareceu ninguém. Fiquei sem a resposta. E fiquei a pensar que era mesmo o arquitecto daquela casa que eu gostaria de contratar.
Quando o Paulo me disse que tinha sido ele a projectá-la tive o sinal de que ele era o arquitecto certo.
Entretanto foi mostrar-me outras casas que me apaixonaram realmente. O trabalho dele para mim, era melhor do que eu poderia imaginar.
E fez o projecto da nossa casa. Fantástico. Maravilhoso. A casa estava melhor também do que eu poderia imaginar.
Quando o projecto estava terminado o meu ex-marido resolveu que iríamos construir noutro terreno novo e aquele projecto ficava sem efeito. Foi o primeiro projecto e a primeira casa que perdi.
Encomendamos ao Paulo novo projecto, para o outro terreno. Era um terreno enorme mas num sítio muito isolado e um pouco distante. Que por caaso me agradava bastante mais do que o primeiro. Quando o Paulo me perguntou onde era esse novo terreno eu respondi: Não conhece de certeza, porque é longe. E quando lhe disse que era no Sergeal, ele respondeu que tinha projectado uma casa nesse mesmo lugar. O meu segundo espanto. Essa casa era num terreno só separado do nosso pela estrada...
Este segundo projecto já não chegou sequer a ser concluído porque entretanto me divorciei. Foi a minha segunda perda.
Agora a esta distância, independetemente de tudo o resto, vejo que não gostaria de viver ali, com um hectare não seria muito do meu feitio cuidar de tanto verde, e com a minha reacção à bicharada aquilo ir-se-ia tornar o meu suplício...
Não há dúvida de que tudo acontece para nosso bem, mesmo que na altura não consigamos perceber, e só nos pareça uma perda brutal.
Hoje, moro numa casa minúscula, que não é minha, que eu adoro e com a qual nunca poderia ter sonhado, porque não me passaria nunca pela cabeça poder morar num sítio destes. E afinal, eu não sabia, mas o Céu sabia o que era melhor para mim. Morar sózinha e numa casa pequenina. E por isso a importância de entregarmos e confiarmos no Céu.
Havia de ter na mesma um projecto do Paulo mas de interior, porque foi ele que mais tarde projectou a decoração de uma loja que tive com a minha Mãe.
Neste processo todo a empatia com ele e com o trabalho dele foi impressionante.
E ao lembrar-me disto tudo agora, resolvi consultar o site dele, que não via há 12 anos, e tive a surpresa de ver projectos recentes de casas de amigos meus.
Já agora, deixo aqui o link: http://www.paulohorta.com/
Dedico este texto ao Pedro Quitério, que também é arquitecto, e ao Afonso, formado em arquitectura, ambos meus "seguidores".
(Venho agora adicionar a este texto, que no site do Paulo tem um vídeo com uma entrevista dele -Casa de Lousada no Arquitectarte- e gostei imenso de o ouvir falar num passeio que projectou para essa casa como um passeio emocional...Fez-me lembrar como nas suas casas tudo era tão sentido...como me ensinou a procurar dentro das casas a forma como o sol incidia em cada divisão...)
5 comentários:
Adorei Olinda...acabei de descobrir o blog...Não nos conhecemos ou melhor, conheço-a eu de a ver no projecto...e gostei mesmo muito de encontrar o blog, principalmente de pois dos textos maravilhosos seus que foram colocados no blog das vidas passadas (se não me engano no sitio)!
Beijo grande e sentiu-se a sua falta hoje pelo workshop de lisboa!
Obrigado Olinda...
Este "seu" arquitecto na verdade tem uma obra interessante. Não o conhecia, e daqui lhe dou também os meus parabéns...
O arquitecto é uma pessoa que aprende a ver tudo o que nos rodeia de uma forma diferente, mais sensível e mais sentida...
Costumo dizer que os arquitectos conseguem ser (quase) tudo na vida, desde cantores, escritores, pintores, escultores, é a formação mais completa que existe...Lolololol (não é o meu caso)...
Abraço.
E mais uma vez agradeço a dedicação do seu texto.
Muito obrigada "Essencialma"! Fico à espera de a conhecer..por favor venha ter comigo da próxima vez, ok?
Beijo grande!
Pedro, não acredito que não seja o sue caso...embora não o conheças o que leio escrito por si revela uma enorme sensibilidade, que acredito, seja revelada nas suas obras, que, por sinal, adorava conhecer. Um grande abraço .
Só agora vi a resposta...ontem estive por lá mas não a vi!! Mas fica combinado, da proxima vez!! beijinhos
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