domingo, 24 de julho de 2011

ARQUITECTURA - PERDAS E SINCRONISMOS

Por ter estado hoje a ver projectos de arquitectura, lembrei-me do meu arquitecto preferido, o Paulo Horta, e de contar a minha história, que é ao mesmo tempo de sincronismos e de perda.

Adoro arquitectura, e durante anos coleccionei livros e revistas sobre arquitectura.

Quando estava casada, chegou a altura de construirmos uma casa num terreno que o meu ex-marido já tinha. Tive carta verde para ser eu a decidir qual o arquitecto que a projectaria, uma vez que era tão apaixonada pelo tema.

Andava eu a estudar o assunto, quando o meu irmão me perguntou porque é que não contratava um amigo dele, o Paulo Horta. Eu respondi que não conhecia o trabalho dele e achava fundamental indentificar-me com trabalho do arquitecto para lhe dar liberdade de criar. O meu irmão disse que isso não seria problema porque o amigo fazia o género de projectos de que eu gostava e o melhor era eu ir conhecê-lo.

Foi marcada a reunião no seu atelier e de seguida saímos para me mostrar algumas das casas projectadas por ele.

A primeira que vimos foi em Cête. Assim que olhei para ela comentei: Mas esta casa tem os mesmos traços de uma em Penafiel. Ele perguntou-me a localização da casa a que me referia e disse-me que foi ele que a projectou...Foi o meu primeiro espanto.

Porque essa casa de Penafiel foi a primeira que eu tinha visto de que tinha gostado realmente. Tinha gostado tanto, que quando passei por ela, por acaso, tinha parado o carro e saído para procurar alguem que me pudesse dizer quem tinha sido o autor do projecto. Toquei à campaínha, andei à volta da casa, mas não apareceu ninguém. Fiquei sem a resposta. E fiquei a pensar que era mesmo o arquitecto daquela casa que eu gostaria de contratar.

Quando o Paulo me disse que tinha sido ele a projectá-la tive o sinal de que ele era o arquitecto certo.

Entretanto foi mostrar-me outras casas que me apaixonaram realmente. O trabalho dele para mim, era melhor do que eu poderia imaginar.

E fez o projecto da nossa casa. Fantástico. Maravilhoso. A casa estava melhor também do que eu poderia imaginar.

Quando o projecto estava terminado o meu ex-marido resolveu que iríamos construir noutro terreno novo e aquele projecto ficava sem efeito. Foi o primeiro projecto e a primeira casa que perdi.

Encomendamos ao Paulo novo projecto, para o outro terreno. Era um terreno enorme mas num sítio muito isolado e um pouco distante. Que por caaso me agradava bastante mais do que o primeiro. Quando o Paulo me perguntou onde era esse novo terreno eu respondi: Não conhece de certeza, porque é longe. E quando lhe disse que era no Sergeal, ele respondeu que tinha projectado uma casa nesse mesmo lugar. O meu segundo espanto. Essa casa era num terreno só separado do nosso pela estrada...

Este segundo projecto já não chegou sequer a ser concluído porque entretanto me divorciei. Foi a minha segunda perda.

Agora a esta distância, independetemente de tudo o resto, vejo que não gostaria de viver ali, com um hectare não seria muito do meu feitio cuidar de tanto verde, e com a minha reacção à bicharada aquilo ir-se-ia tornar o meu suplício...

Não há dúvida de que tudo acontece para nosso bem, mesmo que na altura não consigamos perceber, e só nos pareça uma perda brutal.

Hoje, moro numa casa minúscula, que não é minha, que eu adoro e com a qual nunca poderia ter sonhado, porque não me passaria nunca pela cabeça poder morar num sítio destes. E afinal, eu não sabia, mas o Céu sabia o que era melhor para mim. Morar sózinha e numa casa pequenina. E por isso a importância de entregarmos e confiarmos no Céu.

Havia de ter na mesma um projecto do Paulo mas de interior, porque foi ele que mais tarde projectou a decoração de uma loja que tive com a minha Mãe.

Neste processo todo a empatia com ele e com o trabalho dele foi impressionante.

E ao lembrar-me disto tudo agora, resolvi consultar o site dele, que não via há 12 anos, e tive a surpresa de ver projectos recentes de casas de amigos meus.

Já agora, deixo aqui o link: http://www.paulohorta.com/

Dedico este texto ao Pedro Quitério, que também é arquitecto, e ao Afonso, formado em arquitectura, ambos meus "seguidores".

(Venho agora adicionar a este texto, que no site do Paulo tem um vídeo com uma entrevista dele -Casa de Lousada no Arquitectarte- e gostei imenso de o ouvir falar num passeio que projectou para essa casa como um passeio emocional...Fez-me lembrar como nas suas casas tudo era tão sentido...como me ensinou a procurar dentro das casas a forma como o sol incidia em cada divisão...)

5 comentários:

Essencialma disse...

Adorei Olinda...acabei de descobrir o blog...Não nos conhecemos ou melhor, conheço-a eu de a ver no projecto...e gostei mesmo muito de encontrar o blog, principalmente de pois dos textos maravilhosos seus que foram colocados no blog das vidas passadas (se não me engano no sitio)!
Beijo grande e sentiu-se a sua falta hoje pelo workshop de lisboa!

Pedro Quitério disse...

Obrigado Olinda...
Este "seu" arquitecto na verdade tem uma obra interessante. Não o conhecia, e daqui lhe dou também os meus parabéns...
O arquitecto é uma pessoa que aprende a ver tudo o que nos rodeia de uma forma diferente, mais sensível e mais sentida...
Costumo dizer que os arquitectos conseguem ser (quase) tudo na vida, desde cantores, escritores, pintores, escultores, é a formação mais completa que existe...Lolololol (não é o meu caso)...
Abraço.
E mais uma vez agradeço a dedicação do seu texto.

Olinda Cristina disse...

Muito obrigada "Essencialma"! Fico à espera de a conhecer..por favor venha ter comigo da próxima vez, ok?
Beijo grande!

Olinda Cristina disse...

Pedro, não acredito que não seja o sue caso...embora não o conheças o que leio escrito por si revela uma enorme sensibilidade, que acredito, seja revelada nas suas obras, que, por sinal, adorava conhecer. Um grande abraço .

Essencialma disse...

Só agora vi a resposta...ontem estive por lá mas não a vi!! Mas fica combinado, da proxima vez!! beijinhos