Esta madrugada resolvi ligar a televisão (o que é raro) e apanhei uma entrevista a Ingrid Betancourt. A ex-senadora e candidata à presiência da Colômbia, que foi sequestrada pelas FARC em 2002 e foi libertada 6 anos depois, em 2008. Amplamente noticiado na altura. Durante esse período foi mantida em cativeiro na selva, e não se soube se estava viva ou morta.
Esta entrevista foi feita a propósito de ter escrito o livro "Até o silêncio tem um fim".
Foi das entrevistas a que mais gostei de assistir. Ouvia-a e sentia-a uma pessoa extremamente profunda, centrada e lúcida.
Para mim tudo o que ela dizia fazia imenso sentido, tudo reflectia aquilo em que acredito.
Não vi a entrevista desde o principio mas quando comecei a ver ela falava do que considera ser o estado de felicidade. Segundo ela é um estado de repouso. Um estado de alma que não depende do que se tem, do que se está a fazer, de onde se está, mas de se ter feito um esforço, de se ter feito o que tinha de se fazer, e de se estar agora repousar. Que ser feliz é uma decisão, uma escolha - independentemente do que não tenho, estou feliz com o que tenho.
O que mais me impressionou foi ter dito que o mais importante nesse periodo de sequestro, longo, em que foi continuamente torturada e humilhada, enfrentando condições de sobrevivência extremas, foi ter aprendido sobre si própria e sobre a condição humana.
Tomou consciência de quem era e do que tinha que transformar em si.
Até ao sequestro considerava-se a denunciadora dos corruptos. Logo, julgava-os. Ela era melhor do que eles. Mas em cativeiro, percebeu que nas condições em que vivia, também ela descobria sobre ela própria características que desconhecia e de que não gostava. Que afinal não era melhor do que ninguém, só ainda não tinha vivido em condições que lhe mostrassem isso.
Que tinha muita coisa para mudar, e dava por si, a pensar em detrmonados momentos que não podia pedir ao Céu a libertação porque talvez ainda não estivesse pronta para a libertação, no sentido em que ainda não tinha aprendido tudo o que tinha para aprender. Não tinha mudado em si tudo o que tinha para mudar.
E a fé foi descoberta ali. Nesses dias percebeu que mesmo no mais fundo do poço, mesmo em plena escuridão se podia ver sempre uma luz ao fundo do túnel. E que sentiu constantemente a presença de Deus.
Não se questionou Deus porque é que aquilo lhe tinha acontecido a ela. Porque nesse caso também se poderia perguntar: porque não a ela? Mas perguntou sim, como enfrentar e aprender com o que lhe estava a acontecer.
E que foi com a dor que ganhou consciência. Foi na dor que se conheceu e que se transformou.
Que foi na dor, na fraqueza e na fragilidade que descobriu a força.
E que está profundamente agradecida pelos 6 anos de sequestro. E tentou explicar isso com delicadeza. Não que tivesse gostado do sequestro e que não tivesse querido sair dali (aliás tentou a fuga várias vezes). Mas que de outra forma continuaria a ser a pessoa que era antes. E que afinal não queria ser essa pessoa. Prefere ser a pessoa que é agora.
Pesquisei agora na net, e o livro que a Ingrid tinha escrito no tempo em que era senadora, antes do sequestro, tem o título de "Raiva no Coração".
Numa entrevista ao Público, responde que já não tem no coração vestígios dessa raiva.
Impressionante. A vida é de facto, impressionante. E como digo sempre, não brinca em serviço. E se tivermos que ser trucidados para nos trsnformarmos, somos. E o resultado vale sempre a pena.
3 comentários:
Incrível esta história. Não tinha noção nenhuma do que contas... Obrigada por partilhares...
Vou investigar mais, fiquei curiosa...
O quanto a vida desta mulher mudou...
Um abraço
sabes que mais. Comprei hoje à tarde o livro. Vou começar a lê-lo.
Obrigada amiga pela partilha.
bj gd
:) beijos
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