segunda-feira, 14 de novembro de 2011

APAGAR O PASSADO - CONTINUAÇÃO

Ontem o texto ficou a meio. Hoje percebo porquê. Vou continuá-lo de forma muito diferente do que o faria ontem.

Fui hoje de manhã com a minha Mãe ao hospital. Vai ser operada na próxima quinta-feira, porque o osso da cara, que fracturou, abriu e está a afectar o olho esquerdo.

Quando entramos no hospital, a minha mãe estava sempre a questionar se iríamos pelos corredores certos. Eu respondi que ela se estava a esquecer que eu conhecia o hospital relativamente bem. É o mesmo onde o meu filho esteve internado 3 semanas depois do acidente, onde foi operado e onde recebeu o diagnóstico de cancro.

Tal como agora a minha mãe, o primeiro tratamento foi recebido no Hospital de Penafiel e depois é que foi transferido para o S. João.

Hoje voltei a lembrar-me de muita coisa. Dos corredores. Do quarto. Do refeitório. Onde fiz todas as refeições sózinha.

Passado. O passado a voltar.

A minha mãe vai ficar uns dias internada, talvez 4 ou 5. Vou lá estar com ela. Já percebi que vou reviver muita coisa.

Vim todo o caminho para casa atenta ao que estava a sentir. A minha mãe fez uns quantos comentários que me deixaram mais triste. Porque estas coisas não acontecem por acaso. Acontecem para mudarmos. Mudarmos de atitude, de perspectiva. Para nos abrirmos. E relativizarmos. As coisas que eram importantes deixam de ser. E passamos a dar mais importância a coisas que não davamos. E se não mudarmos, estes acontecimentos tão difíceis acabam por acontecer em vão.

E a minha Mãe estava a parecer-me igual. Não mudou nada. Mas ainda é muito cedo. E não sou eu que a vou mudar. Tenho que aceitar. Aliás, nunca tentei. Sempre soube isso. A vida é que nos muda. E está-se a ver. Não brinca em serviço.

E eu? O que eu não tenho mudar?! Uma pessoa que atrai na vida o que eu tenho atraído, é uma pessoa com muito para mudar. Basta falar num filho com diagnóstico de cancro maligno.

E tenho mudado. Eu sei que tenho mudado. E como tenho muito mais para mudar os desafios não param. Oportunidades para consolidar as escolhas que tenho feito.

Há dias um conflito com o meu filho voltou a abanar-me. Ter-me sentido posta em causa como senti, noutra fase da minha vida teria dado cabo de mim. Agora doeu profundamente mas sabia o que tinha a fazer. E sabia porque estava a acontecer. Só isso já nos ajuda a enfrentar todos os desafios do mundo.

Cheguei a casa e fui meditar. Escolhi uma música própria para meditação mas não me estava a sentir a sair do sítio. Não estava a conseguir elevar o meu nível de frequência de vibração. Fui buscar novamente a Surrender dos U2. Era isso. Disparei. Foi Jesus que me veio buscar. Pegou-me ao colo. Não me disse nada. Ficou só comigo ao colo. Enquanto eu chorava. Chorava.

Impressionante como estou a escrever e a fazer julgamento...a pensar que pessoas vão ler e achar surreal...e a pensar que se fosse eu que estivesse a ler um texto destes há uns anos também estaria a pensar que era ridículo...a pensar quem é que a autora se julgava para dizer que Jesus estava com ela...Mas como a vida dá muitas voltas, agora ouço é Jesus a perguntar-me quem é que eu julgo que sou para me julgar a mim e aos outros.

Mas quando estava no colo de Jesus, estava a sentir que por maior que fosse o desafio que a vida me estivesse agora a propôr, eu aceitava. E realmente, quando estamos no colo de Jesus, o que mais interessa? Nada. A vida pode trazer e tirar tudo, que não tem importância. Só que depois voltamos à vida na Terra, voltamos a ser de carne e osso e quando dói muito às vezes esquecemo-nos desse colo. E de tudo o que temos e vemos e sentimos lá em cima. Eu tento não esquecer. Nunca.

Percebi porque é que volto ao hospital. E porque foi hoje que soube, um dia depois de Jesus me ter perguntado se lhe entregava o meu passado. Ontem, Ele tinha-me mostrado como eu lidei com todas as dores do passado desta vida. Como as revisitei. Como já chorei muitas delas até á exaustão. Como as resolvi. Se bem que nunca está tudo resolvido, mas uma grande parte está. Mas como eu tenho muito apego, apesar de ter já aceitado entregar tudo da minha vida (e o mais importante da minha vida eu entrego-Lhe todos os dias), tenho tendência a apegar-me às memórias. Às memórias boas. Depois de me conseguir desapegar é uma limpeza. Nunca mais me lembro. Mas até conseguir fazer isso...Por isso ontem me foi proposto entregar todo o passado.

Apesar de aceitar imediatamente, como sempre faço, fiquei ali a tentar perceber se não ia perder identidade. Porque era como se ficasse em branco. Como se ficasse sem memória destes 45 anos da minha vida. Tal como nascemos sem memória das vidas passadas. E como eu sou muito água, a memória está muito viva em mim. E por isso ontem foi especialmente estranho...senti-me a deixar de ser quem era...Até que Jesus me disse: Mas tu sabes que tu não és a pessoa que vive lá em baixo...tens-te esforçado e aproximado de quem realmente és, mas ainda estás longe. E se ficares em branco ficas com mais espaço para deixar entrar a tua verdadeira energia. A energia da tua Alma. Compreendi e aceitei.

Acho que se não tivesse aceitado (embora ache que nunca passaria pela cabeça não aceitar) esta experiência que vem pela frente de contacto com o passado, seria muito mais intensa e difícil.

Quando acabei a meditação, a minha Mãe, que estava a dormir no sofá ao lado, abriu os olhos e disse: "No fundo, acho que fui muito protegida por Deus!"

E a Lila, (que não tem dormido desde o acidente porque não lhe sai da cabeça a imagem da minha mãe estatelada nas pedras com água a passar por por cima) sentada ao nosso lado, disse: "Há males que vêm por bem."

2 comentários:

Pedro Quitério disse...

Olinda....
Mais uma história que aqui é contada do fundo de ti...
Sublime essa forma de raciocínio e a maneira de entender todas as coisas, todos os sinais...
Realmente estes textos independentemente de serem pensamentos em voz alta, são também escritos para quem os lê, e aparecem na altura mais certa.
Também a minha mãe entrou hoje para o hospital para fazer cirurgia e, eu também estou a reviver alguns momentos do passado.
Desejos tudo de bom para as nossas mães.
Abraço.
PQ

Olinda Cristina disse...

Sim Pedro, tudo de bom para as nossas mães...Há-de correr tudo bem. Estão entregues, verdade? Abraço apertado e muito obrigada. Do fundo do coração.