sábado, 21 de abril de 2012

ONDE O MAR É MAIS FUNDO E OS PEIXES SÃO CEGOS

De manhã fui dar um passeio a pé até à marina de Oeiras. Sentia-me leve e feliz. De máquina fotográfica em punho desfrutava da satisfação de viver numa ambiente tão agradável. De passear junto ao mar.
E pensava em como a minha vida mudou. E agradecia ao Céu por não ter desistido de mim.

"Tu é que não desististe."

E de repente vi como que uma legião de seres de luz que olhavam para baixo. Como se sempre tivessem estado a olhar para uma espécie de poço ao longo do qual eu tenho subido. Como se tivessem estado a observar ao longo da minha vida se eu conseguia subir ou não.

Sei que todas as imagens são simbólicas e sei também que na verdade eu não venho do fundo de um poço, mas do fundo do mar.

Venho das águas do mar mais profundo, onde os peixes são cegos.

Há dias ouvi um comentário sobre as filmagens do James Cameron, que vai descer a 11 km de profundidade, num submarino australiano que o vai levar ao ponto mais profundo da Terra.

Esse ponto é donde eu venho. É o meu passado. E o grande desafio da minha vida é emergir dessas águas. Evoluir de um peixe cego para um golfinho. Vir para a superfície. Vir para a luz.

Por isso os desafios têm sido tão difíceis. Uns atrás dos outros. Representam a escalada. Houve fases da minha vida em que senti que talvez não fosse conseguir nunca. Houve fases em que quase desisti. Conheço três pessoas com um mapa astrológico parecido com o meu. Embora nenhum tenha tanta água como o meu. E uma delas contou-me ontem que lhe foi diagnosticado um tumor. E que recebeu a notícia com alívio, como se finalmente recebesse uma autorização para desistir da vida, porque já não aguenta mais.

Outra, das tais três pessoas, já aqui contei, esteve seis anos sem sair de casa.

Sempre foi o que tive vontade. De desistir. Porque essa é uma das energias que trago das minhas vidas passadas: a da desistência. Porque quando confrontada com as maiores dores emocionais, desistia. Ou me matava ou me deixava morrer. Agora a proposta é voltar a passar por elas sem desistir. Transcendê-las.

Aliás, esta vida é a prova de que não vale a pena desistir. Estou a ser confrontada outra vez com tudo o que me levou à desistência. Perda. Rejeição. Desilusão. E com a sensibilidade que tenho hoje não tenho como não sentir a dor profundamente. E com a consciência que tenho agora, não há como sequer pensar em desistir. Ou seja, não há fuga possível. Ninguém foge à vida. Só nos libertamos quando aceitamos. Havemos de nascer e voltar a nascer até transcendermos.

Conhecer o meu mapa natal ajudou-me a compreender-me e a ter orgulho em mim. Até aqui achava-me uma desgraçada. Agora percebo porque é tão difícil. E orgulho-me de não ter desistido. E de estar a conseguir.

Há algumas semanas atrás ouvi a Maria Flávia de Monsaraz contar que tem um aspecto no mapa natal dela que lhe dá uma profundidade enorme no sentir. E que quem não tem esse aspecto não pode imaginar o que é sentir tão profundamente e como a dor emocional se torna tão intensa. Mas que por sua vez, é esse mesmo aspecto que lhe permite explicar os sentimentos e dar aulas sobre isso.

Eu tenho esse mesmo aspecto. No signo e casa onde a Maria Flávia tem esse planeta eu tenho quatro. O que quadruplica tudo, para o bem, e para o mal.

Foi esse conhecimento que fui tendo que me ajudou a perceber que não sou eu que vejo as coisas mais difíceis. Sinto-as é de uma forma mais difícil. E se isso foi um peso ao longo da minha vida, à medida que fui percebendo o porquê de ser assim, fui tentando transformar.

Por isso há dias respondi à Graça Ribeiro no Facebook, que havia de falar sobre isto, por ela ter comentado que achava que a forma como transmito os sentimentos e emoções é um dom.

Não será um dom. Será uma característica. Faz parte da minha energia. Que me saiu muito pesada a vida toda.

Emergir do mais fundo do mar não é fácil. Por isso ao longo dos últimos dez anos, talvez, sempre pedi ao Céu que não desistisse de mim. Era uma pedido recorrente. Diário. Constante. Intuitivamente eu sabia que era uma tarefa impossível de se fazer sozinha. E isso ligou-me ao Céu.

Só hoje soube que afinal fui eu que não desisti.

E é nestes momentos que sinto que o meu karma se transforma em darma.

O que era o mais difícil é o que agora me dá mais confiança em mim. São as mesmas emoções e sentimentos que para mim só representavam dificuldades, que agora me permitem fazer o que me dá mais me dá prazer e realiza: as terapias e a escrita. E a sensibilidade tão intensa que me leva a sentir tudo, o que é meu e o que não é, que me leva à dor mais funda é a mesma que me permite conectar com a luz também mais intensamente. Tudo tem o seu reverso. Só temos que descobrir o outro lado de cada coisa.

Por isso eu acredito em todas as pessoas. Todas, sem excepção. Na sua capacidade de conseguir. Porque se eu consegui, todos conseguem. Eu era a pessoa que se sentia mais incapaz. A que se achava mais longe de conseguir uma conexão com o Céu.

Hoje sinto a presença constante do Céu na minha vida. De Jesus. Algo absolutamente impensável para mim há uns anos.

Ainda ontem assim que iniciei a meditação, senti a presença de Jesus que me disse: "Estou aqui para te ajudar a despedir desta casa."

Porque vou mudar de casa, não porque isso alguma vez me tenha passado pela cabeça (pelo contrário, achava que este lugar era um paraíso e não podia desejar melhor) mas porque Ele me propôs.

E essa é uma linda história que hei-de contar aqui.

Quando lhe perguntei porquê, respondeu que já chegava de viver sózinha. Estranhei,porque me tinha custado tanto aprender a gostar de viver sozinha. "Por isso mesmo. Já consegues viver sozinha e já gostas. Já não precisas de continuar assim. Só precisaste até conseguir. Repara que agora vais viver com a pessoa que melhor te conhece e com quem melhor te dás e com a que mais te faz rir. É uma benção que te dou."

4 comentários:

Chalezinha disse...

É difícil qualquer mudança, mesmo que para melhor ou para somente diferente, mas quando sabemos os porquês é bem mais fácil saboroso e quando os porquês são explicados pelo Céu é uma bênção sem fim.
Além disso, acho que não foi só e somente porque já sabe e gosta de estar sozinha, é também para não se acomodar e não desenvolver o apego às coisas.
Mas é bom ir assim de mansinho, deixando para trás tudo com amor para albergar outras vidas.
Mas não sei se estou correcta, foi o que senti ao lê-la.
Beijinho e muita alegria
Sandra Pereira

Olinda Cristina disse...

Está correctíssima, Sandra. É também por isso e muitas outras coisas mais, aliás são tantas as nuances ligadas a esta mudança, que é um assunto que dava para escrever um livro :)) Beijinho e abraço apertado, e já agora também muita alegria para si.

Lurdes JC disse...

Obrigada...
Vais estranhar agradecer-te, mas depois conto-te pessoalmente. Não existem acasos, existem sincronismos...
Não te digo muito mais, porque pelos meus comentários sabe-se quase tudo o que penso a teu respeito, como amiga, escritora, Dj, terapeuta, mãe e mais que tudo, como uma super sincera... às vezes até pensava, a Olinda Cristina é sincera até demais...
Não sei o que queria dizer com isto, porque sinceridade para mim há só uma... A sinceridade...
Mas pensava assim... e penso...
(muitas vezes pensava em não manifestar a minha opinião, como carneiro que sou, dizem muitas vezes que sou exagerada, mas aqui em relação ao teu blogue, ao que realmente conheço de ti... Não sou exagerada... Não mesmo... Sou sincera demais)
Um gd abraço amiga
Lurdes Jóia

Olinda Cristina disse...

Sabes Lurdes, tu também és muito sincera. E como dizes, sinceridade não é demais, ou é ou não é. Posso calar ou falar, mas quando falar tem que ser a verdade. Pelo menos o que é a verdade para mim. Como tu fazes. O que tu escreves no teu blog também é de uma grande exposição. Também é de uma grande sinceridade - que afinal nunca é demais :))) Aguardo a nossa conversa. Grande abraço :)))