quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O INUSITADO ACONTECEU

Ontem foi o dia do jantar com a minha ex-senhoria e o meu ex-vizinho.

Cheguei a casa da Gabriela e já estava quase tudo pronto, as entradas, os vinhos, a mesa posta, fondues a postos, só faltava acabar uma das sobremesas e ajudei a Catarina (a sua neta de 17 anos, linda de morrer, que agora está lá a viver enquanto estuda Belas Artes) a fazer a salada de fruta enquanto a Gabriela acabava o chantilly. Quando ficou tudo pronto a Gabriela pediu-me para ir chamar o Georgi.


Cabeça para que te quero, mas não é para pensar, dei a volta ao prédio para ir chamá-lo e à Helena, mulher dele e ao Jorginho (sim, o filho já tem nome português)sem me lembrar que a porta dele é mesmo ao lado da da Gabriela e fui chamá-lo pela porta mais distante, que era ao lado da minha casa. Só quando lá cheguei é que reflecti e voltei para trás. Mesmo assim não acertei na porta e toquei na de outra vizinha que se espantou muito quando do lado de dentro perguntou quem era e eu respondi com toda a familiaridade que era a Olin
da. Foi preciso este incidente para ver a senhora que morava a 10 metros de mim e eu em três anos nunca conheci.

Pedi desculpa e finalmente toquei na porta do Georgi. Recebeu-me com o grande abraço e sorriso do costume e disse que já estavam à nossa espera. À nossa espera? Sim, já temos tudo pronto, entra. E eu fiquei de boca aberta enquanto entrava na sala e vi a mesa posta para sete pessoas e a Helena na cozinha a dizer que o jantar já estava pronto...

Mas o jantar é em casa da Gabriela...lá também está tudo pronto e a mesa posta para vós...

Então o que aconteceu foi que quando o Jorge me convidou para jantar em casa dele, a Gabriela estava ao meu lado, e ele disse que fazia muito gosto que a Gabriela e o marido também fossem. E a Gabriela disse que nesse caso se fazia o jantar no jardim da casa dela, que por sinal era o meu jardim.

O Georgi percebeu que seria na casa dela mas com o jantar feito por ele, quando a Gabriela queria dizer que faria ela o jantar. Como ontem estava tempo de chuva, ambos perceberam, cada um por sua conta, que não se podia fazer no jardim, e então o Georgi preparou tudo em casa dele, e a Gabriela tudo em casa dela.

Dois jantares completos e prontos. Propus ao Georgi que se levasse o jantar dele para casa da Gabriela e assim fizemos. Ficamos com mais comida que um regimento, e o dificil era escolher entre os apetitosos petiscos bulgaros e os tipicamente portugueses.

Ao fazer o primeiro brinde a Gabriela disse que era uma pena eles terem gasto dinheiro no jantar por causa de um mal entendido, e o Georgi respondeu que gostava de gastar o dinheiro dele, porque como o pai dele lhe tinha ensinado, se não gastarmos Deus não nos dá mais porque não é preciso...

Brindamos, brindamos, tal como o Georgi tinha dito que faríamos, petiscamos e na hora de nos sentarmos à mesa comecei a sentir-me mal. Uma espécie de quebra de tensão. Ou de vinho a mais. Mas sinceramente não creio que um copo e meio de vinho provocasse aquela reacção. Não me cheguei a sentar à mesa, pedi licença e fui deitar-me num quarto do andar de cima. Quase desmaiei e só melhorei depois do jantar acabar. Curiosamente, pela primeira vez estava a ouvir as vozes dos senhorios no andar de baixo, porque enquanto lá vivi sempre os ouvi no andar de cima.

Conclusão: dois jantares e não comi de nenhum. Dois jantares feitos em minha honra e eu não honrei nenhum.

Salvou-se o convívio entre os meus senhorios e os vizinhos que me parece deu origem a uma amizade que se há-de desenvolver daqui para a frente, ou não estivesse o Georgi já a querer marcar outro jantar em casa dele na próxima semana.

O marido da Gabriela trouxe-me a casa e a Lena e o Rui cuidaram de mim.

Eu que já aqui escrevi que nos últimos anos sempre que estive doente estava sozinha na minha casa de Oeiras. Que há anos que não tinha quem cuidasse de mim quando ficava doente. E a Lena comentou esse texto dizendo que quando vivessemos juntos cuidariam de mim. E voilá.

A Lena sentada ao lado da minha cama e o Rui a preparar-me um chá "Bela Luísa" que me trouxe ao quarto. Tanta ternura até fez com que valesse a pena ficar doente. E dormi como uma justa.






4 comentários:

Pedro Quitério disse...

Não comentei o teu anterior texto porque já tinhas muitos comentários... já sabes como é... quando todos vão para um lado, eu vou para o outro....

Dois jantares magníficos, calculo..., e uma indisposição... faz-me lembrar o que me aconteceu a mim, ainda que talvez não tenha sido a mesma coisa.
O que fazem as pessoas não perceberem ou não entenderem as coisas certinho... mas tinha que ser assim..., concerteza que a relação das tuas duas famílias amigas saíram fortalecidas...
Certamente não hão-de faltar oportunidades de novos encontros, não é?
Mas... faço idéia o que tu deves ter sentido naquele momento, tão simpáticos para ti e depois... mas devem ter compreendido.
Agradeço-te mais este texto que nos ajuda a seguir de perto as tuas aventuras...

Grande abraço e beijinho
PQ

Carlinha disse...

E nós aqui, na ânsia que comesses e que chorasses por mais...e que no fim nos contasses a que sabiam os petiscos búlgaros!

Mas, pronto, pelo menos não se perdeu tudo...ganhou-se a amizade dos que comeram, e a ternura dos que cuidaram!

Para a próxima bebe antes um copinho de água! ;DDDDDDD

Beijinho

Olinda Cristina disse...

Pedro, mais tarde ou mais cedo acabamos por perceber porque foi assim e não de outra maneira. Já sabemos que nada é por acaso, mas por vezes é realmente intrigante :)) e compreenderam sim, até porque ficaram muito preocupados quando me viram branca. Lol. Teve o seu quê de surreal e acabou por ser uma aventura :) Obrigada e beijinhos Pedro!

Olinda Cristina disse...

Carlinha, em conversa com a Lena eu dirigi-me a mim mesma e disse precisamente isso: "Para a próxima bebe água!"...Beijo grande Carlinda. E como dizes, nem tudo se perdeu:))) Beijo enorme!