domingo, 10 de fevereiro de 2013

TURISTA EM LISBOA

Estive todo o dia a ensaiar para escrever este texto. De cada vez que fazia uma meditação (como costumo antes de escrever) parecia que saía um texto diferente. E as fotografias...não consigo passar as fotografias do meu telemóvel para o computador. Cabecinha bendita, não estava a ver que se fiquei sem máquinas fotográficas não foi por acaso. E passei a maior parte do dia a fazer downloads de programas para tentar publicar aqui as fotos que tirei ontem. Nenhum programa funcionou. É claro que não ia funcionar. Senti um alivío enorme quando desisti e resolvi escrever o texto assim mesmo. Tudo isto serviu pelo menos para eu esclarecer uma dúvida que tinha. E até o telemóvel ontem quase não tinha bateria, e tive que selecionar muito bem as fotos que tirava para não a gastar.

Era Sábado de manhã e tudo em aberto. Como ia passar o dia?  Praia e Lisboa. Tudo no mesmo dia? Não podia ser  praia num dia e Lisboa no outro? Não. Só hoje ao ver a chuva é que percebi claramente porque é que não podia ser.

Mochila às costas e fui para a praia à frente de casa. Sózinha no areal. Sol maravilhoso, sentia-me no Céu. Às tantas abri os olhos e reparei que estava um individuo muito perto de mim, sentado e a tirar a roupa. Achei muito estranho que se tivesse vindo sentar tão perto de mim quando a praia estava deserta. Não estava a mais de 6 metros de distância. Voltei a fechar os olhos e comecei a mentalizar qual a melhor forma de sair dali rápidamente sem fazer estardalhaço. Qual a ordem porque pegava nas coisas para ser rápida e eficaz.

"Olha a formatação da tua cabeça... Olha como isso são tudo coisas da tua cabeça. Dos teus conceitos e preconceitos. Já tens os recursos necessários para sentir se a situação constitui uma ameaça ou não. Sente lá."

Na verdade não sentia ameaça nenhuma. Mas o que o meu coração dizia não era o mesmo que a minha cabeça dizia. 

"Centra-te e fecha a tua energia."

Obedeci e concentrei-me. Poucos minutos depois o individuo foi-se embora. Passou à minha frente e olhou para mim. Até tive dúvidas que fosse o mesmo e olhei várias vezes para o sítio onde ele esteve sentado, a confirmar que não estava lá ninguém e era mesmo ele. É que foi tudo tão rápido...

E com os filmes todos da minha cabeça nem tinha reparado que ele parecia um daqueles modelos da publicidade de perfumes para homem...

"A questão está na energia que emanas. Cuida de ti e da tua energia e deixarás de sentir os outros como ameaças."

Chegou o vento e percebi que estava na hora de sair da praia. De ir então fazer turismo por Lisboa. Quando cheguei à estação do Cais do Sodré entrei num quiosque e peguei em vários daqueles livrinhos para turistas, com mapas, porque não sabia muito bem para onde ir. Pousei todos porque ia ser guiada e não ia precisar de mapa nenhum. Sorri. Saí da estação e fui pela marginal. Ao aproximar-me do Terreiro do Paço, senti que era para ir a uma esplanada comer um gelado. Sorri outra vez. Não tinha pensado que me apetecia um gelado mas a ideia fez-me ver que não podia imaginar outra coisa mais apetecível com aquele calorzinho...Aproximei-me de uma esplanada ao sol, e reparei que era de uma gelataria italiana...ena que pontaria...(o melhor gelado que comi na vida foi em Florença)...e que havia uma única mesa vaga...mesmo a primeira...de frente para o sol, para a praça, e para o Cristo Rei. O empregado que atendeu o meu pedido falou-me em inglês e o que me trouxe o gelado também. Mas o mais incrível é que a este último respondi também em inglês, não sei porquê. Ri-me sózinha porque realmente tudo estava a acontecer para me sentir uma verdadeira turista. À minha volta só ouvia falar em italiano, espanhol e inglês. E veio um grupo tocar bossa nova para a minha frente, e a vocalista tinha uma voz linda. E eu sentia-me deliciada...Mas levantei-me assim que acabei o gelado porque, pelos vistos, ainda tinha muito para andar.

E lá fui, calcorreando as ruas e subindo. Percebi que devia estar  a ir no sentido de Alfama, que sabia era para aqueles lados, e onde até já tinha pensado ir.  As tabuletas confirmaram. O que não sabia era que era para ir ao Castelo de S. Jorge. Quando dei conta estava a passar a Sé e a subir nessa direcção. Eu que evito tudo o que seja medieval, porque as minhas memórias dessa época não são lá muito leves, não me estava a imaginar a ir ao castelo sózinha. Espanto dos espantos: ao aproximar-me da entrada vejo expostos os inconfundíveis quadros do Georgi, que era o meu vizinho de Oeiras, e lá está ele sentado a pintar, e o filho mais velho ao lado. Que festa que fizemos! Foi uma grande surpresa para ambos, embora ele tivesse a certeza que já me tinha dito que tinha ganho um concurso da Câmara de Lisboa para expôr ali. A verdade é que eu não me lembrava e fiquei estupefacta com este encontro. Tirei-lhe uma fotografia, uma das tais que agora não consigo publicar.

Por falar em Georgi, ando para contar uma história que aconteceu há uns dois ou três meses. Uma grande, grande amiga, do Porto, preparou um jantar na sua casa, que é no Porto, para me apresentar o seu namorado, também do Porto. Ambos ansiavamos conhecer-nos porque já tinhamos ouvido falar muito um do outro. Mal tinhamos acabado de nos cumprimentar, disse-me que sabia que eu vivia em Oeiras e perguntou em que sítio concretamente, porque os avós tinham lá casa e sempre passou as férias lá, durante 30 anos. Comecei por explicar que já não estava em Oeiras, mas em Algés, e fui dando referências da casa onde vivia. Outro espanto dos espantos: afinal a casa dos avós dele era a colada à minha!...Era a casa onde vive agora o Georgi! Ficamos tão entusiasmados com esta descoberta que nem paravamos de falar para brindar...com as taças de champagne na mão, falavamos, falavamos, e não brindavamos. Até me perguntou se o Georgi autorizaria que ele entrasse lá para poder voltar a estar na casa de onde tem tão boas recordações, e só agora que estou a escrever isto é que me estou a dar conta que me esqueci de falar nisso ao Georgi. Mas como prometi ir visitá-lo em breve, lá a casa em Oeiras, com certeza que me lembrarei.

Sobre aquela "coincidência" com o namorado da minha amiga, por acaso falou-me hoje Jesus, e disse-me como este tipo de situação mostra como todas as pessoas envolvidas são importantes para mim, e como estamos no sítio certo no momento certo.

Bem, e lá fui para o castelo. Assim que lá entre "recebi" logo a indicação para subir umas escadas muito estreitas para um sítio muito alto. Mas cheguei a meio e voltei para trás. Pedi-Lhe desculpa mas não conseguia.

Andei por ali a deambular e a pensar que esperava bem que nenhuma memória desse tempo ficasse muito forte. Apreciei a paisagem que, de facto, é magnífica. R-mecebi alguma informação sobre a importância de Lisboa na minha vida e sobre a importância de estar naquele lugar. E voltei a ir parar em frente a umas escadas ainda mais altas e de acesso às ameias. Repeti que não era capaz e Jesus disse-me: "Já fizeste a viagem mais dura do Mundo e já foste ao espaço." Pois...não podia fugir. Subi. Cheguei lá acima a tremer, percebi que uma das memórias de vidas passadas relacionadas com vertigens vem mesmo de um lugar como aquele, senão aquele, limpei a energia dessa memória, aproximei-me o mais possível do limite para olhar para baixo e enfrentar o meu medo, e desci rápidamente. Mas ainda não ficou pacífico para mim.

Vim embora. Comovi-me ao entrar em lojas de artesanato e ouvir fado. Comovia-me ainda mais quando era Amália. Passei nas Portas do Sol e fui vê-lo a pôr-se no miradouro da Graça. Ao descer pelas ruas de Alfama ficou noite. Cheguei a casa exausta. E enamorada de Lisboa.

"Foste uma turista na tua cidade para te preparares para um dia seres uma turista pelo Mundo."





(À procura de um vídeo da Amália escolhi este por vários motivos: porque a letra da música é sobre Lisboa, porque tem imagens de Lisboa e porque a capa é a da praia de que falo neste texto.)



Digo: "Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver.

Sophia de Mello Breyner Andresen

9 comentários:

Miguel Amaral disse...

Olá Cris, muito obrigado, por mais uma crónica!

Desta vez ao ler, não chorei, não me ri, apenas senti "aquele" medo, "aquele" obstáculo, "aquela" ideia feita...

Em resumo: Medo do desconhecido (estranhos e de viajar...), com uma carga emocional grande pré-concebida.

Uma vez também já fiz assim uma visita de turismo na minha cidade do Porto, resolvi ir onde nunca tinha ido, ou quase nunca: Museu Romântico da Quinta da Macieirinha, Museu Soares do Reis e finalmente subir à torre dos Clérigos.

No fim desse roteiro, dessa tarde senti-me revigorado.

Por fim, quero dizer o que sempre digo, "abaixo o fado sou contra o fado", expressão usada nos antigos filmes portugueses pelo Vasco Santana. E porquê, porque são demasiado tristes e desgraçados. Mas por outro lado, ouvir certos Fados da Amália, faz vibrar algo cá dentro...

Por fim, para que saibas,a Amália era uma grande Belenenses!!!

Grande beijinho de luz azul!

Olinda Cristina disse...

Miguel, fizeste-me rir a bom rir com o "abaixo o fado sou contra o fado"...ai piada que achei :)))) E viva a Amália e viva o Belenenses!!!
Grande beijinho azul e obrigada, muito obrigada, pela tua companhia aqui!

Miguel Amaral disse...

Muito grato minha amiga Cris!

Sabes anseio, encontrar o tal caminho, para mim essa comunicação que tens com Ele... é divinal... faz-me chorar e sonhar, só de pensar que um dia possa também sentir algo assim parecido...

Grande beijinho azul!

Olinda Cristina disse...

Sabes Miguel, ainda ontem estava a pensar em quando comecei a ler os livros da Alexandra e em como pensava que a conexão com Ele seria o que mais me faria feliz na vida (e assim é) mas que eu achava que me era completamente inacessível. Na verdade tudo é possível. Mesmo o que nos parece inalcancável :))))) Pessoalmente falarei melhor ctg sobre este assunto. Beijinho azul!

Miguel Amaral disse...

Obrigado e até breve, beijinho azul!

Maria do Carmo disse...

Olá Olinda!! Mais uma vez obrigada.Concordo com o que diz o Miguel Amaral, sobre o anseio de conseguir comunicar de maneira tão clara com Ele,(a quem chamo o meu grande amigo Jesus), e não sentir que seria petulância da minha parte, ou ego exacerbado,acreditar que é MESMO Ele.Meu Deus, como me acho ingrata neste momento!! Beijinhos e obrigada por fazer parte da minha vida. M.Carmo

Anónimo disse...

Ñ me querendo estar a repetir, mas tu tocaste mais uma vez, em cada um de nós, com as tuas palavras. Concordo plenamente com as opiniões anteriores sobre a comunicação e o deixarmos-nos guiar, por Ele. O desejo é tão forte...
Sabes, comecei a fazer pequenas viagens sozinha. O tempo que tenho livre nesse sítio, dou por mim a vaguear pelas ruas. Tenho receio em arriscar! Tou sozinha, ñ conheço ninguém, lugares, etc. Na realidade, eu ativo o meu piloto automático e paro, bloqueio e ñ confio. Faço-me entender?

Obrigada mais uma vez pelas tuas palavras, que me enchem de coragem.

Diogo disse...

=))) Que giro... Obrigado! Um dia heide experimentar! hehe

Anónimo disse...

olá princesa :)
abraço apertado como os ao vivo e a cores :)
gostava de pedir-te se possível que comentasses um bocadinho mais claro o "Centra-te e fecha a tua energia."
a situação de estar num sitio publico e alguma pessoa presente despertar o meu alarme de segurança (sobrevivência) como o que te aconteceu na praia é me recorrente...
tento aspirar o meu peito, limpar... mas muito frequentemente a situação continua a tocar-me mesmo depois de já estar noutro local, só com o "relembrar"...
por isso o comentário "Centra-te e fecha a tua energia." me fez escrever...
beijinhos e abraços
ps: quando leio post teus com o se preparar para descobrir novos mundos só me vem o que senti ao fazer parapente... desfruta!
grata por tudo
Maria do Rosário