terça-feira, 12 de novembro de 2013

Um novo quarto. Um novo Mundo.

Estava intrigada com o tema que me faria voltar a escrever. Porque, que eu saiba, e que me lembre, nunca estive tanto tempo sem escrever. E como não era por falta de tema, porque nestes dois últimos meses aconteceu tanta, tanta, coisa, cheguei ao ponto de me questionar sobre o que é que teria de acontecer para me fazer escrever. E aconteceram até coisas mais importantes, só que a de hoje talvez seja muito significativa.

Quando hoje cheguei a casa a minha Mãe tinha mudado o seu quarto. Um quarto que permanecia igual há 45 anos. Nem mais nem menos. Há tantos anos quantos tem esta casa. Eu já tinha feito inúmeras tentativas de convencer a minha Mãe a mudá-lo, mas nunca aceitou com o argumento de que continuava a gostar da decoração, que era intemporal, que as peças eram de muita qualidade e que continuavam bonitas, etc, etc. Ao longo do tempo já se tinham feito inúmeras obras e mudanças cá em casa, com excepção do quarto. Aliás já se tinham mudado todas as divisões, por mais do que uma vez. Os meus quartos e do meu filho já foram noutras divisões, as salas já foram escritórios e nem sei mais o quê, mas o dito quarto não mudava uma peça sequer. Nem as minhas tentativas de pelo menos mudar os móveis de lugar tinham resultado.

Desisti, por fim, e há muito tempo que nem sequer falava no assunto.

Só que, quando em Agosto voltei "para casa", fiz uma grande remodelação no meu quarto, ao ponto de a minha mãe comentar: "É a primeira vez que olho para o teu quarto e sinto que não estás de passagem." O meu entusiasmo com as remodelações e mudanças estendeu-se a todas as divisões. Senti que estava revolucionar a casa. Neste processo descobri que tinha muitas coisas guardadas minhas, de que nem sequer me lembrava e que eram coisas lindas, e que de alguma forma substituíam aquelas que se tinham perdido no regresso de Lisboa. Porque em Julho, a transportadora que ia trazer as minhas coisas de Lisboa para o Porto, perdeu-as. Apesar de ter sido uma perda, na altura não mexeu rigorosamente nada comigo. Não mexeu na altura e continuava a não mexer. Acho que porque nos últimos anos me fui desapegando das coisas e as constantes viagens ajudaram-me a cingir ao essencial. Ao ponto de concluir que não precisava da maior parte das coisas que tinha. E quando fiquei sem elas nem o coração se mexeu.

E hoje, não sei porquê, lembrei-me disso e pela primeira vez emocionei-me a pensar nas minhas coisas desaparecidas. Que eram coisas que tinham tanto de mim, da minha intimidade...que tocariam quem estivesse agora com elas...e quem estaria a mexer nas minhas coisas?...a usá-las?...a olhar para os meus quadros?...e esperei que fosse alguém que estivesse a precisar dessas coisas. Lembrei-me de uma história que a Alexandra uma vez contou, sobre um anel que tinha perdido no aeroporto, e Jesus lhe disse o tinha perdido porque havia alguém que precisava de receber um anel nesse dia.

E quando vinha a conduzir para casa, vinha a pensar precisamente sobre isso, com nostalgia, e considerando que se tinha ido uma parte de mim, Jesus, que já me tinha falado várias vezes no assunto das minhas coisas perdidas, disse-me que essas coisas desapareceram precisamente porque levaram uma parte de mim que eu precisava de deixar ir. Que fazia parte da minha mudança. E que ao largar essa parte de mim estava a criar espaço para nascer uma nova parte de mim. E que eu intuítivamente sabia disso. Tanto sabia, que tinha comentado com a Lena, enquanto embalava as coisas para as levar à transportadora, que sentia que não precisava de nada daquilo e que até era um favor de tudo desaparecesse. Quando desapareceu realmente, fiquei muito surpreendida. Como era possível ter mesmo acontecido? Quase que me forcei a sentir culpa pelo que tinha dito e a sentir pena de ter perdido, mas não. Não senti nada. E acabei satisfeita, por não estar apegada a nada daquilo, que era praticamente tudo o que eu tinha.

Cheguei a casa ainda nestas considerações, e percebi que vinha barulho de obras do quarto da minha Mãe. Até brinquei ao "Querido, mudei a casa", tapei os olhos e esperei que contassem até três. Estavam a Lila e o marido, ajudados pela minha Mãe, a pendurar as novas cortinas e a dar os últimos retoques, depois de terem mudado de móveis. Vi logo que a Lila foi o motor da mudança, mas a minha Mãe estava muito contente e satisfeita com o resultado.

E, pronto. Se a minha Mãe mudou agora o quarto, ao fim de 45 anos de apego e resistência, quer dizer que estamos no ponto em que tudo pode ser mudado. Tudo. Últimamente os planetas têm-se "posicionado" para nos ajudar a fazer as grandes mudanças. Os eclipses de Outubro e Novembro terminaram um ciclo de 19 anos de eclipses, dando-nos a oportunidade de encerrar ciclos e começar novos. É o tempo das grandes transformações.

E este quarto, embora seja só um quarto, simboliza muita coisa. E mostra que uma grande mudança já estava em andamento mas ainda não se tinha concretizado e que hoje foi o dia de se materializar.

E como esta, muitas outras. Um novo mundo está a começar. Uma nova vida. Um novo ciclo.

O que me espanta é que os meus novos começos estejam relacionados com o regresso a onde tudo começou...o regresso a casa.


PS: E entretanto estou a escrever pela primeira vez no meu novo computador... Outro "pequeno" sinal :)

4 comentários:

Miguel Amaral disse...

Olá Cris!!!

Tempo de mudanças, tempo de transformações, ciclos que começam e acabam, eis a verdade que é bem visível.

Gostei especialmente, da parte em que: "alguém precisava de algo, então daí ter perdido algo..."

Todos somos UM, é como um rio que termina na foz, onde todos nos encontramos.

Beijinho grande! <3

Carlinha disse...

Como uma mudança tão insignificante, pode trazer toda uma nova Vida com ela!

Fico feliz por ti, mas sobretudo pela tua mãe que, sem se aperceber, está a construir e a caminhar na sua jornada de Luz...

Eu não a conheço, mas já viste como tem mudado ao longo do tempo?Pequenas coisas q se transformam em grandes vitórias para ela...

Bem sabes como o tema das mudanças tem influência sobre mim...bem sabes o esforço, às vezes a angústia, que o desconhecido nos traz, mas esta tua experiência é mais um exemplo de como as coisas aos poucos vão ocupando o seu verdadeiro lugar...

Tudo tem o seu tempo e o da tua mãe foi agora...Tal como o teu regresso...

É indescritível o q sentimos quando vemos o despertar de alguém...mas é igualmente mágico quando o podemos mostrar aos outros...Obrigada pela partilha!

Beijinho de LUZ!
Carlinha

Olinda Cristina disse...

Olá Miguel!! Tu gostaste especialmente da história do anel, e sabes que uma pessoa a quem ontem estava a contar a história de ter perdido as minhas coisas, me disse: "Isso faz-me lembrar a história do anel que a Alexandra perdeu": (porque ela a conta num dos livros). Há coisas engraçadas...

Mais beijinhos grandes e azuis!!

Olinda Cristina disse...

Obrigada Carlinha! É como dizes, tudo tem o seu tempo. É muitas vezes dificil confiar no tempo, esperar pelo tempo, mas é quando o fazemos que a vida nos mostra toda a sua magia :))))

Beijinhos e abraço quentinho!!!!