domingo, 4 de dezembro de 2011

OS MEUS PRIMEIROS AMIGOS QUE MARCARAM TODA A MINHA VIDA.

À medida que me aproximava reparei que lá dentro já estava muita gente. Via-se a lareira acesa.

A João estava cá fora à minha espera. Enquanto a abraçava veio de lá de dentro alguém na minha direcção. E pôs-se à minha frente a olhar para mim. Fiquei uns segundos a olhar. Paralizada, porque era óbviamente alguém que me conhecia bem e eu não estava a reconhecer. De repente, fez-se luz! Era a Bi! Apesar de saber que a ia reencontrar neste jantar não contava sentir aquele choque. Foi uma emoção enorme. Enorme.

Não via a Bi há quase 30 anos. Parece impossível como alguem que já foi tão importante para mim pode ter estado afastada tantos anos...

Foi outra amiga comum que organizou este jantar para que o grupo de amigos que se formou há uns 35 anos se voltasse a juntar. Muitos deles já não via há alguns anos. A Cina e a João por exemplo, são próximas até hoje. Encontramo-nos frequentemente. Desde os seis anos. Da Cina até sou comadre. Mas a Bi foi a única que não voltei a ver.

Eu tinha 11 anos quando conheci a Bi. Acompanhei as minhas amigas Cina e João a casa dela, num Domingo à tarde. Era lá que se encontravam com os amigos. Eu era muito mais nova, pelo menos seis anos mais nova do que eles e nunca tinha ido. Foi nesse dia que conheci o que se veio a tornar meu marido. A partir daí tornei-me parte do grupo. Foram muitos os encontros e festas que lá se organizaram. Durante anos.

As festas eram memoráveis. A casa da Bi é uma casa que ainda hoje é especial. Ela tinha uma salão só para receber os amigos e fazer as festas. Foi lá que conheci a música que ainda hoje me fascina, dos Pink Floyd, dos Moody Blues, dos Rolling Stones, etc...Quando neste jantar reparei que estava a dar Angie e disse à João, que estava ao meu lado: Já reparaste que está a dar Angie? Ela respondeu: Já. Nem me digas nada... Já todos voltamos a ouvir essa música centenas de vezes ao longo da vida, mas estar a ouvi-la de novo na companhia dos amigos dessa altura foi absolutamente mágico...

Outra alegria enorme foi voltar a estar com um casal de irmãos que foram meus grandes amigos ao longo de todos estes anos, e com quem os meus pais me deixavam sair à noite, apesar de ser novinha, porque confiavam plenamente neles. Lembro-me tão bem que quando me vinham buscar a casa e eu entrava no carro já não conseguia falar porque a música era tão alta que ninguem se ouvia. A adrenalina começava logo ali. E não adiantava pedir para pôr mais baixo para falarmos. Rules. Relembramos os muitos anos em que saimos juntos e as festas, também elas absolutamente memoráveis, em casa deles, onde ouvi a melhor musica dos anos 80 antes dela ser comercializada em Portugal. Tinham cabine de som e tudo. Comme il faut.

Foi também muito por influência destes amigos, todos mais velhos, que comecei a ouvir e a comprar música tão cedo. Perguntamo-nos uns aos outros se ainda guardavamos os vinis.

Mas o grande acontecimento desta noite foi mesmo voltar a ver a Bi. Senti uma empatia tão grande que quase me surpreendeu. Uma vontade de ficar horas e horas a falar...uma vontade de retomar uma amizade que esperamos não volte a ser interrompida. Ainda por cima desde há poucos meses a Bi voltou a viver perto da casa da minha mãe. O que vai facilitar tudo.

Mas o passado voltou com mais surpresas: o reecontro com a Teresa, do tempo do colégio de Baltar. Uma surpresa realmente marcante, como se tivesse agora a oportunidade de conhecer uma pessoa tão especial.

Quando há tempos falei aqui em reviver o passado não imaginava regressar a um passado tão longínquo e que afinal foi tão fabuloso. Revivê-lo agora é transformá-lo numa experiência ainda mais gratificante do que foi na altura.

Encantada. Como gosto das pessoas que fizeram parte da minha vida! E que bom ter tantas de volta!

2 comentários:

Pedro Quitério disse...

História engraçada, Olinda...
Por vezes sinto que tudo o que escreves, podia ter sido eu a escrever, só que... escreves primeiro. Dás importância às coisas que normalmente ninguém se lembra de comentar...
O tema "Angie", ah essa música... foi a primeira música que me fascinou, e foi a primeira canção que eu dancei a dois numa festa de aniversário de um amigo que já não vejo há muito e que se lembra sempre do meu aniversário... e foi com a irmã dele. Numa altura da minha vida que era muito, muito tímido... foi ela que me arrastou literalmente para dançar. Era a primeira vez... Tinha mais três anos ou quatro que nós (eu e o José Domingues). Numa casa diferente dessa que referes... numa sala que era muito pequena, mas era a que tinham...
Só passado algum tempo é que soube quem a tocava...
Continua a encher os nossos corações.
Abraço
PQ

Olinda Cristina disse...

Pedro, sabes que o que mais me agrada é que as pessoas que lêem estes texto me costumam dizer que se revêm no que escrevo, como se já tivessem passado por experiências e emoções semelhantes. Como se o que escrevo refelectisse muito delas próprias. E na verdade, em última instância, somos todos Um. E ninguém sabe mais do que ninguém. Vamos apenas relembrando uns aos outros o que todos, de forma inata, já sabemos.

E olha, acabei de acrescentar a este texto um vídeo do tema "Angie". Tenho esta mania, que não deve ser muito ética, de retocar os textos e às vezes os acrescentar. Porque quando publico é quando acabo de escrever, e o texto está sempre muito "em bruto".

Por acaso, não falei nos slows, que acho que foi um privilégio da nossa geração...Slows, benditos slows...Foi nesse Domingo, dos 11 anos, que dancei o primeiro slow da minha vida.

Grande abraço Pedro, e obrigada por estares aqui.